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Governo afegão cobra véus e menos maquiagem às apresentadoras de TV

Um pedido do governo afegão para que as apresentadoras de televisão usassem véus na cabeça e evitassem maquiagem pesada enfureceu os jornalistas, esta Terça-feira, que consideraram a medida uma prova de que as autoridades esperam que o Taliban recupere uma parcela do poder.

As autoridades afegãs e norte-americanas estão a buscar negociações de paz com o grupo islamista derrubado do poder há mais duma década com o intuito de manter a estabilidade depois de as tropas estrangeiras deixarem o país, mas as conversas estão num estado muito frágil.

Numa carta distribuída à imprensa, o Ministério da Cultura e Informação disse ter recebido reclamações de membros do Parlamento e de famílias de que as apresentadoras de programas de notícias não estavam a observar a ética islâmica e cultural.

“Todas as apresentadoras de notícias devem evitar maquiagem pesada e usar um véu”, disse o ministro Sayed Makhdoom Rahin à Reuters ao telefone, acrescentando que isso aplicava-se às emissoras de televisão privadas e estatais.

O pedido do ministério foi uma surpresa por parte da imprensa afegã. Todas as âncoras dos programas apareceram com as suas cabeças cobertas, o que provocou rumores de que a directiva visava impressionar o Taliban, fazendo concessões a suas posições ultraconservadoras.

“Já que estamos no início de conversas sérias de paz e reconciliação, o governo quer mostrar que é como o Taliban”, disse Zarghoona Roshan, que durante 10 anos foi jornalista de rádio antes de entrar para o grupo de imprensa Nai.

“O próprio pedido é inútil”, disse Roshan, ajustando o seu véu negro e cinzento. A Nai, que também rastreia as infracções da imprensa, estima que existam cerca de 120 apresentadoras de televisão no país.

O director-executivo da Nai, Abdul Mujeeb Khalvatgar, disse que o governo exerceu pressão ao longo de todo o ano passado para limitar o conteúdo e “manter o público longe dos factos de que precisam”.

“Nós nos preocupamos e tememos que essa pressão seja o início da limitação da imprensa e que isso seja por causa do Taliban. Eles estão a preparar o caminho para eles”, disse.

Khalvatgar citou vários exemplos de pressão sobre a imprensa no último ano, incluindo lançar ácido contra um jornalista afegão veterano e proibir que uma novela turca fosse ao ar.

Embora as mulheres afegãs tenham recuperado direitos básicos, como o de acesso à educação, de votar e de trabalhar desde que o Taliban foi derrubado em 2011, o seu futuro permanece incerto enquanto que as autoridades afegãs e norte-americanas negociam com o grupo linha-dura.

À medida que se aproxima o prazo de 2014 para que as tropas de combate estrangeiras voltem para casa, alguns activistas dentro e fora do Afeganistão temem que os direitos das mulheres possam ser sacrificados na luta para garantir que o Ocidente deixe para trás um Estado relativamente estável e pacífico.

As autoridades norte-americanas disseram, semana passada, que queriam acelerar as conversas para que as negociações de paz possam ser anunciadas numa cúpula da NATO em Maio.

O anúncio do Taliban, mês passado, de que estava a abrir um escritório político no Catar, foi visto como um prelúdio para as conversas de paz.

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