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EDITORIAL: Generosidade oportunista

Esta quarta-feira leio na imprensa oficial: “Medidas foram ao encontro das expectativas do povo”. A frase é de Edson Macuácua, o eloquente porta-voz do partido Frelimo, e as medidas a que ele se refere dizem respeito ao retrocesso no aumento dos preços dos produtos e serviços básicos anunciados pelo Governo dias antes.

Agora voltou tudo à estaca zero, ou seja, o preço dos produtos e serviços em causa voltaram para os níveis anteriores à greve do passado dia 1. No interior de peça Macuácua vai mais longe e refere que se trata de medidas de “muita coragem, generosidade e de grande alcance social que mostram o nível de responsabilidade política com que o Governo assume a sua nobre missão de servir os cidadãos.” Mais adiante, prossegue: “São medidas oportunas e pertinentes que resultaram de um exercício de discussão endógena com vista a encontrar soluções que possam mitigar os efeitos da crise financeira internacional e a crise de alimentos que se transformaram numa crise económica internacional que afecta todo o mundo, incluindo Moçambique.”

Vamos por partes, mas parece-se que foi pior a emenda do que o soneto, como se costuma dizer. Se estas medidas – cancelamento dos aumentos de preços – foram oportunas quer dizer que as outras – a decisão de aumentar os preços –, tomadas dias antes, revelaram-se inoportunas, o que só demonstra uma desorientação extrema da parte de quem manda em relação à política de fixação de preços, mostrando igualmente um alheamento total em relação às dificuldades quotidianas pelas quais passa o povo moçambicano e um virar de costas sem precedentes na política moçambicana entre governantes e governados.

Em relação a estas decisões irem ao encontro das expectativas do povo, como diz o senhor Macuácua, é porque as outras – aumento de preços – iam contra as expectativas desse mesmo povo que, maioritariamente, votou no partido Frelimo, o que quer dizer que o Governo está a governar contra a expectativas e os anseios do povo. Depois, o senhor Macuácua vai mais longe e fala em coragem, generosidade e no alcance social de tais medidas.

Que coragem é esta que mal o povo sai à rua o Governo mete o rabo entre as pernas faz-lhe a vontade!? Que generosidade é esta em que se dá uma coisa, depois tira-se e posteriormente volta-se a dar, só porque se está entre a espada e a parede, acossado por todos os lados!? Ninguém de bom senso acha que se não fossem as manifestações violentas da semana passada, que ceifaram a vida a 13 moçambicanos, o Governo iria fazer marcha atrás de moto próprio e dizer: Afinal enganámo-nos, fizemos mal as contas; o povo não está preparado para arcar com esta factura agravada.

Ou será que a generosidade a que se referia o senhor Macuácua diz respeito às anunciadas medidas de austeridade que vão ser impostas aos titulares de cargos públicos com mais responsabilidades e aos PCA’s das empresas púbicas? Se assim for devemos agradecer aos senhores doadores, esses sim, é que são generosos ao contribuem, há anos, com 50% para o nosso Orçamento Geral do Estado. A verdade é que sempre foi mais fácil ser generoso com o dinheiro dos outros.

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