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Financiamento de projectos locais

Financiamento de projectos locais

Baixo ritmo de reembolso no Guro

 

A matriz de controlo das actividades no âmbito do fundo de investimento de iniciativa local no distrito do Guro, a norte da província de Manica, dá conta que em 2007 foram fi nanciados 128 projectos que criaram 289 postos de trabalho e benefi ciam 3.987 pessoas. As 22 associações e empresas individuais promotoras dos projectos receberam cerca de 7,14 milhões de meticais, cuja devolução está aquém do acordado, mas a administradora do distrito, Sozária João Gauta, está esperançada que até Outubro próximo, limite do prazo, a maioria dos benefi ciários, senão todos, possa honrar os seus compromissos.

 

Segundo a administradora, alguns benefi ciários asseguram que só irão devolver o dinheiro emprestado quando expirar o prazo concedido, que é de um ano. “Mas nós temos estado a orientá-los no sentido de pagarem a pouco e pouco o valor à medida que conseguem recuperar, pois fazê- lo de uma única vez, como eles pretendem poderá não ser fácil”, deu-nos a conhecer Sozária Gauta, salientando que “neste momento, apenas três associações já começaram a pagar”. Pelo facto de os benefi ciários não estarem a pagar os seus empréstimos conclui-se que estes não estão cientes de que é necessário restituir o dinheiro para permitir que outros possam ter acesso ao mesmo. “Contudo, para não ser pessimista, o Governo acredita que até fi nal de Outubro os benefi ciários do crédito vão honrar os seus compromissos. Para os que não o fi zerem a decisão vai ser tomada na altura”, disse a administradora. À pergunta sobre se os projectos fi nanciados correspondem às expectativas do Governo, Sozária Gauta confi rmou que os mesmos, no mínimo, contribuem para a criação de emprego, pois pessoas que antes não tinham ocupação agora acordam todas as manhãs para o serviço. ‘Isso pode reduzir a dependência e a criminalidade”, rematou.

 

Sozária chamou, no entanto, a nossa atenção para uma particularidade: “Em relação àqueles que optaram por investir na agricultura, é prematuro avaliar os resultados, pois, no caso de milho, neste momento não está a ser comercializado porque a estratégia da população é armazenar para vender mais caro na época de excassez, entre Julho e Agosto, razão porque alguns alegam não estar em condições de devolver o dinheiro emprestado agora”. Será que nos projectos fi nanciados pelos sete milhões está previsto o pagamento de impostos? Sozária Gauta recordou ter discutido a questão com os benefi ciários, fazendo- lhes ver que qualquer actividade que gera rendimentos tem obrigações fi scais. Aliás, o Estado conta com os impostos para executar os seus programas económicos e sociais para não depender apenas da ajuda externa.

 

Criação pioneira de frangos de corte a nível do distrito

Abdul Ibraimo Jamal é um dos benefi ciários do fundo de iniciativa local, no valor de 210 mil MT, dos quais 50 mil obteve como primeiro empréstimo em Fevereiro de 2007. Ele cria frangos numa quinta de 1.5 hectares, onde construiu capoeiras e instalou um gerador para produção da energia eléctrica. A sua produção passou de 350 frangos para 2.000. A médio prazo, Adbul Ibraimo, prioneiro na criação de frangos no distrito do Guro, perspectiva a ampliação do negócio, o que passa pela construção de 16 pavilhões com capacidade para 450 frangos cada. Adbul não tira os olhos da concorrência que começa a surgir ao seu redor. Por isso vai adquirir outro terreno bem afastado do seu concorrente para evitar contaminação das suas crias em caso da eclosão da febre das aves. Mas os projectos de Adbul Ibraimo não fi cam por aqui. Ele ambiciona tirar o distrito da dependência da cidade do Chiomoio, a capital provincial, situada a mais de 250 kms, para a aquisição do frango. Para isso, encomendou recentemente um moinho no valor de 50 mil MT para o fabrico de rações. Com a recente integração da vila-sede de Guro na rede nacional da energia eléctrica, a visão de negócio de Ibraimo começa a orientar-se para chocar pintos e fazer o abate de frangos se o Governo continuar a confi ar nos seus projectos, pois com os bancos comerciais os juros seriam insuportáveis. Os frangos de Adbul Ibraimo são, até ao momento, comercializados no próprio distrito de Guro e em Catandica, a 80 kms. Segundo ele, os chamados pintos rejeitados, ou melhor, aqueles que não têm um desenvolvimento físico, vão servir de lanche escolar distribuído gratuitamente às crianças como incentivo para frequentarem a escola.

 

Compra e venda de milho e negócio de moageiras

Adbul Ibraimo alugou um armazém onde arrecada milho para revendê-lo nos meses críticos. A quantidade remanescente servirá para produzir ração. Ele compra o milho à população por 4.50 MT/kg. Neste momento já conta com 38 sacos de 50 kg, mas a sua ideia é criar um stock de cinco toneladas. Além da sua compra na época da abundância para revenda na altura da escassez, o milho desperta um outro negócio: a farinação. É nisso que está fi sgada a associação THUMBA que apostou na instalação de duas pequenas moageiras em locais separados, e, poucos meses depois, segundo o presidente da agremiação, Celestino Mundui, já está a pensar em abrir mais uma frabriqueta noutro lugar para satisfazer a procura que é grande. De acordo com Mundui, logo que se liquidar a dívida com o Governo, no valor de 135 mil MT, a associação vai refl ectir se valerá a pena contrair mais algum empréstimo. Inicialmente, havia feito um pedido de 200 mil MT, mas como não foi possível obter este valor na totalidade, os seus membros juntaram do seu bolso 70 mil MT para cobrir a diferença e realizar o projecto tal como fora delineado. “Neste momento, a preocupação não são os lucros, mas sim a restituição do empréstimo”, informou o presidente da THUMA, tendo acrescentado que a agremiação já reembolsou um total de 62 mil MT em três prestações e caso não haja avaria de máquinas, vai liquidar toda a dívida até Outubro próximo. Questionado sobre o volume do negócio, Celestino Mundui disse estar a andar a bom ritmo, avaliando a receita diária em 1.200 MT a 1.300MT. Este valor podia ser superior não fora a limitada capacidade instalada para a produção da farinha de milho e mapira, a base da alimentação local. A Associação Th umba emprega dez trabalhadores, dos quais oito são membros, mas há necessidade de empregar mais pessoas, pois o volume de trabalho tem vindo a aumentar, nomeadamente neste período de muito milho. Neste momento apenas os trabalhadores não membros estão a receber. Última pergunta colocada ao presidente da Th umba: a “empresa” está a funcionar legalmente aos “olhos” das Finanças? Resposta: “A moageira da Associação Th umba está devidamente licenciada na Secretária Distrital, onde pagou 3.800 MT”. Entretanto, informação disponibilizada mais tarde foi de que “o imposto mensal é de 250 MT e a sua cobrança não é coersiva para se estimular o negócio”.

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