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Filomena Mutoropa diz que a sua meta é chegar à Assembleia da República

Filomena Mutoropa diz que a sua meta é chegar à Assembleia da República

Filomena Mutoropa, descendente de uma família de camponeses e hoje membro do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), é bem conhecida no cenário político moçambicano. Porém, em Novembro de 2013, ganhou fama dentro e fora do país aquando das eleições autárquicas, quando derramou lágrimas em resultado da sua exclusão nos boletins de voto, facto que ditou a anulação do processo e a sua remarcação em Nampula. Casada, mãe de dois filhos e avó de quatro netos, ela faz parte da Assembleia Municipal local e o seu sonho é chegar ao Parlamento para discutir e defender, acima de tudo, assuntos do género feminino.

Em Nampula, os seus correligionários atribuíram-lhe o cognome de “dama de ferro” por ser uma defensora ferrenha dos seus princípios éticos e políticos. Ela olha para as mulheres com um certo pesar porque acha que estas vivem praticamente presas aos seus lares e são submissas diante dos seus esposos; por isso, há necessidade de libertá-las e de lhes dar independência em todos os campos.

Filomena Mutoropa nasceu em 1960, no posto administrativo de Mutuali, no distrito de Malema, província de Nampula. Para além de praticar a agricultura, o seu pai era cozinheiro da empresa algodoeira João Ferreira dos Santos (JFS).

Tal como as outras crianças, a nossa entrevistada diz que teve uma infância um pouco triste e começou a estudar já com 12 anos de idade, ou seja, com seis anos de atraso.. Aos oito anos de idade, ela cuidava da sua irmã mais nova e preparava as refeições para a família enquanto os pais estavam na machamba.

Volvido algum tempo, com a idade a que nos referimos, dedicou mais o seu tempo a cuidar a cuidar da mesma irmã, que mais tarde veio a padecer de paralisia. A senhora que hoje enveredou pela vida política frequentou o ensino primário numa instituição religiosa. Mesmo assim, ela devia dividir o seu tempo entre fazer tarefas domésticas, cuidar da irmã doente e ir aos estudos porque os seus progenitores abandonavam a casa por volta das 04h00 da manhã e só regressavam depois das 17h00.

Filomena revelou que passou a ter gosto pela escola porque uma vizinha, por sinal sua amiga, “passava sempre pela minha casa e insistia para que eu frequentasse a escola. Um dia, no período da tarde, encostei a porta, deixei a minha irmã dentro de casa e fui com ela (a amiga) para me inscrever”. Assim, ela passou a frequentar as aulas mas sem o conhecimento dos pais.

Ela ia estudar à tarde e as lições terminavam por volta da 16h00. Contudo, num certo dia, os progenitores regressaram da machamba e encontraram a menina doente sozinha em casa. Filomena estava na escola e quando chegou à casa foi castigada, mas mesmo assim não desistiu dos seus sonhos. Os pais batiam sempre nela mas nunca conseguiram limitar o gosto que a nossa interlocutora tinha pelos livros. “Eles acabaram por se conformar”.

Depois de ter concluído a 7ª classe, Filomena fui transferida para o Centro de Formação de Professores Primários de Momola, no posto administrativo de Currane, no distrito de Meconta, em Nampula, onde permaneceu apenas três meses porque estava grávida.

“Regressei à minha terra natal, na vila sede do distrito de Malema, onde passei a trabalhar como assistente de contabilidade de uma empresa privada cujo proprietário era de nacionalidade portuguesa, no ano de 1981. Um ano depois, a Direcção Distrital da Educação emitiu uma nota que dava conta de que eu devia voltar a frequentar o curso de professores. Eu não tinha outra opção e segui esse caminho”, contou ela.

Durante esse período, segundo a nossa entrevistada, surgiram duas oportunidades de emprego: uma no Banco de Moçambique e outra no Centro de Formação de Educadores de Adultos. Filomena candidatou-se na primeira instituição mas “fui injustiçada” pois foi admitido “um sobrinho do director, apesar de eu ter sido a candidata que teve a melhor nota.

A vida não parou por aí. “Ingressei para o curso de instrutores no Centro de Formação de Educação de Adultos, que teve a duração de 45 dias. Depois de concluir os estudos passei a trabalhar na Direcção de Educação da Cidade de Nampula, onde durante oito anos desempenhei o cargo de chefe da secção de formação de educadores de adultos”, contou Filomena.

A nossa interlocutora disse que continuou a estudar e, em 1989, passou a dar aulas na Escola Comunitária da Ademo. Volvidos dois anos, “fui transferida para a Escola Primária de Namutequelia e, posteriormente, para a Escola Primária 25 de Junho”, até que anos mais tarde e voltou a trabalhar no Centro de Formação de Educadores de Adultos.

“Em 1997 desvinculei-me da Função Pública e passei a trabalhar para a CARE International e passei também pela Visão Mundial. Fui transferida de Nampula para Gurué, na província da Zambézia. Mas por estar longe da família, achei melhor pedir a rescisão do contrato e, com o pouco dinheiro que ganhava, abri uma minha barraca que é a fonte da minha sobrevivência até os dias de hoje”.

Como seria de esperar, Filomena foi simpatizante do partido Frelimo e estava ligada directamente à Organização da Mulher Moçambicana (OMM), onde, segundo ela, desempenhou muitas funções, das quais a de mobilização e propaganda. “Aí assistia-se a muitas irregularidades, não havia voz que opinasse senão cumprir ordens que vinham sede central e, entre outras irregularidades, não havia igualdade de oportunidades. Eu decidi abandonar…”.

“Em Janeiro de 2010, apercebi-me da criação de uma delegação do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e fui eleita chefe de mobilização a nível da província de Nampula. O ambiente também não era favorável, afastei-me em finais do mesmo ano e filie-me ao Partido Humanitário de Moçambique, no qual milito até a data de hoje”, narrou Filomena.

A nossa entrevistada disse que não esconde o seu sonho de ser deputada da Assembleia da República. “Esta é a minha meta, mas isso vai depender do meu partido. Nas últimas eleições gerais fomos afastados da corrida, mas estamos a organizar-nos para os próximos pleitos eleitorais”.

No que diz respeito à governação municipal, Filomena disse que há muita coisa que deve de ser melhorada, como é o caso da remoção de lixo, do tapamento de buracos, do abastecimento de água potável e da transparência na gestão do município. “Há um fundo que foi criado para pequenos empreenderes e tenho estado a lutar para que os projectos submetidos por grupos de mulheres sejam colocados como prioridade. Eu estou de olho e não me vou cansar de continuar a gritar para que isso seja alcançado. Que a atribuição desse dinheiro não seja feita através de cores partidárias”.

Em relação ao género feminino, a nossa interlocutora considerou que ainda há muitos desafios por vencer. Na sua opinião, a mulher não deve ser vista apenas como dona de casa para cuidar do marido. Há que estimular esta camada social em diferentes frentes e criar condições para que tenha meios de geração de renda.

“Antes da independência era difícil ver uma mulher a trabalhar em empregos formais. Mesmo em relação à escola dava-se mais prioridade aos homens, mas, actualmente, isto já está a acabar. O que ainda falta é o acesso ao financiamento pela banca, por exemplo, a vários projectos de grande envergadura. Nós já demonstrámos que somos capazes”, disse Filomena a terminar.

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