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Fetos e cadáveres são depositados na Lixeira do Hulene

Município de Maputo aumenta taxa do lixo em mais de 30%

O abandono de fetos e corpos nas lixeiras tem sido notícia recorrente nos órgãos de informação moçambicanos. A insensibilidade das pessoas que cometem esse tipo de actos tem sido de tal sorte que elas chegam a deixar fetos ou recém-nascidos envoltos em lençóis, plásticos e sacos à sua sorte nas valas de drenagem, nas latrinas, talvez para dificultar a descoberta dos casos. Todavia, isso configura um acto deliberado de assassinato, que se pode equiparar a um infanticídio. Trata-se ainda de uma acção que viola o princípio segundo o qual “todo o ser humano tem direito à vida”.

Estes problemas repetem-se um pouco por todas a cidade de Maputo, sobretudo na periferia. Sita a sete quilómetros da capital moçambicana, a Lixeira do Hulene, que, neste momento, é o único destino para todo o tipo de lixo produzido na urbe, é também um depósito de fetos e cadáveres. As famílias que se instalaram nas proximidades do local queixam-se do problema e o desespero é maior porque, para além da falta de meios para estancar o mal, a lixeira continua a receber toneladas de resíduos sólidos atrás de resíduos sólidos, apesar de já não reunir condições nenhumas para o efeito.

Julião é “catador” de lixo para vender nos mercados da capital do país e vive perto da Lixeira do Hulene. Tal como os seus vizinhos, ele sabe o que significa, em termos de saúde, ser constantemente apoquentado por moscas e mosquitos, principalmente no Verão. Ele confirmou ao @Verdade que há gente de má-fé que deposita fetos no espaço em alusão. É um problema que acontecia ocasionalmente há anos, porém, para além de corpos abandonados, de há tempos para cá, tem sido frequente. Não bastava o facto de alguns moradores estarem a viver, quase, sobre o lixo.

Há uma suspeita generalizada de que os fetos abandonados na Lixeira do Hulene sejam arrastado dos contentores, algures na cidade de Maputo, para aquele sítio, uma vez que os mesmos são encontrados no meio de lixo que se alega ser produzido longe daquela zona residencial.

Segundo o nosso entrevistado, isso deve-se à falta de controlo do local e do próprio lixo que é ali depositado. Não são só as pessoas que usam o sítio para obter meios de sobrevivência que correm o risco de contrair doenças, mas, também, os habitantes das redondezas. Aquele é um lugar igualmente frequentado por crianças e estas ficam chocadas quando deparam com fetos e cadáveres. Esta situação pode causar-lhes problemas psicológicos ou traumas de difícil superação.

Aliás, no passado, várias tentativas falhadas foram encetadas pelos residentes das imediações da lixeira e por ambientalistas com vista a obrigarem o município a encerrar aquele depósito de resíduos sólidos, todavia, eles só receberam promessas da edilidade. Volvidos anos, nem água vai nem água vem, e o local vai continuar a funcionar apesar do descontentamento de todos, até o dia em que, quiçá, a nova lixeira de Matlemele, no município de Matola, saia do papel para a realidade.

Para Julião, neste momento, o que preocupa, sobremaneira, os residentes é a ausência de medidas por parte das autoridades municipais para evitar que o lixo seja depositado indiscriminadamente. Este cidadão indica ainda que os fetos podem ser transportados de alguns contentores de resíduos sólidos de diferentes bairros da capital moçambicana. Ou alguns moradores das proximidades da Lixeira do Hulene é que são responsáveis por essas acções.

“Os cadáveres e fetos exalam um cheiro asqueroso quando permanecem no sítio onde são depositados por muito tempo, decompõem-se e só mais tarde é que são descobertos. Parece que ninguém se preocupa com a nossa saúde”, concluiu o munícipe. Lizete Mondlane também fixou o seu domicílio nas imediações da Lixeira do Hulene. Ela faz parte das pessoas que sobrevivem recorrendo a latas, plásticos, caixas de papelão, sucatas, dentre outros objectos extraídos daquele lugar para comercialização em alguns bazares e companhias que se dedicam à reciclagem do lixo. Os cadáveres e fetos deixaram de ser casos anormais porque não passa muito tempo sem que isso aconteça.

À semelhança de Julião, a nossa interlocutora mostra-se preocupada com os petizes que se fazem à lixeira para seleccionar objectos ou produtos descartados – na sua óptica reaproveitáveis – uma vez que podem ter um desenvolvimento psíquico perturbado quando confrontados com essas situações. Por sua vez, Rabeca Sitoe sublinhou que o abandono de fetos e cadáveres é frequente na Lixeira do Hulene e ao certo não se sabe quem são os protagonistas desses actos que ela considera indignos.

Entretanto, ela suspeita que alguns jovens e adolescentes tenham alguma culpa nisso, pois quando engravidam de forma indesejada abortam para que os pais não descubram. Existem mulheres que, igualmente, sem o conhecimento dos maridos, interrompem gravidezes por vários motivos. Isso demonstra que a nossa sociedade sofre de crise de valores.

“Muitos fetos são deixados em avançado estado de decomposição, o que significa que não são daqui. Isso constitui uma grande ameaça à saúde pública. Por isso, gostaríamos que o município interviesse para que a Lixeira do Hulene não se transformasse num local poluído e coloque em risco a vida de centenas de seleccionadores de lixo e moradores do bairro de Hulene”, desabafou Rabeca.

Glória frequenta regularmente aquela lixeira para procurar objectos recicláveis e através deles obtém meios de sobrevivência. Contou-nos, por seu turno, que a última vez que deparou com uma situação idêntica à que é narrada pelos seus vizinhos ficou bastante chocada porque se travava do corpo de um recém-nascido em avançado estado de decomposição. “Sofro de tensão arterial e quando presencio situações como essas fico indisposta e o meu quadro clínico agrava-se”.

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