O cineasta Fernando Meirelles, que adaptou para o cinema uma das obras mais importantes do escritor português José Saramago, “Ensaio sobre a Cegueira”, lembrou esta sexta-feira o “homem brilhante” que, com sua morte deixou o mundo “mais burro e mais cego”. “A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo fugir do clichê, mas definitivamente o mundo ficou ainda mais burro e mais cego hoje”, lamentou o diretor de cinema em comunicado à imprensa.
“Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre estar aqui e já não estar”, lembrou. Ele “combatia as religiões com fúria (…) e ainda assim não consigo deixar de pensar que adoraria que, neste momento, ele tivesse que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por outro tipo de vida depois da que teve aqui”, afirmou.
Diretor dos consagrados “Cidade de Deus” (2003) e “O Jardineiro Fiel” (2005), Meirelles lançou em 2008 “Blindness”, adaptação da obra de Saramago sobre uma estranha epidemia de cegueira que se propaga rapidamente. Em agosto de 2007, enquanto escrevia o roteiro para levar a história para o cinema, Meirelles encontrou Saramago, a quem definiu como “uma figura um pouco intimidante”. “Por sempre ter se recusado a vender os direitos de seus livros para adaptação, achei que ele não estaria interessado no filme. Para meu desespero, estava enganado. Ele estava interessado, perguntou várias vezes quando estaria pronto e quando poderia ver algo”, escreveu, na ocasião, o diretor, no blog oficial do filme.
A longa metragem foi estrelada pelos americanos Julianne Moore, Mark Ruffalo e Danny Glover. A O2, produtora de Meirelles, por sua vez, está finalizando “José e Pilar”, um documentário sobre a vida de Saramago ao lado da esposa, dedicado ao relacionamento amoroso entre um casal com uma diferença de 30 anos de idade. No filme, “vemos um homem brilhante que sabe que seu tempo está acabando e que sente muita pena de morrer. O dia no qual ele pensava constantemente e tentou adiar, chegou”, destacou o brasileiro.
Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, faleceu esta sexta-feira, aos 87 anos, após uma longa doença, deixando um legado de 30 obras entre romances, poesias, ensaios e peças de teatro.