Na próxima quinta-feira, dia 17, a Ilha de Moçambique festeja mais um feriado municipal. O @ VERDADE quis saber, da boca do presidente do município, Alfredo Artur Matata, de passagem por Maputo, – eleito em Novembro passado pelo partido Frelimo – o estado em que se encontra o único lugar com o estatuto de Património da Humanidade no nosso país. Da entrevista infere-se que pouco ainda foi feito, que há muito por fazer e que os recursos disponíveis são inversamente proporcionais à ambição. A Ilha de Moçambique possui, desde 1991, o estatuto de Património da Humanidade decretado pela UNESCO. Dezoito anos passados, o seu desenvolvimento tem fi cado um pouco aquém das expectativas.
O que falta exactamente para se dar o salto rumo ao desenvolvimento?
Alfredo Matata (AM) – Efectivamente, a declaração veio dar-nos mais força no sentido de estarmos mais atentos no que diz respeito à necessidade de conservação do património para as gerações vindouras. Este trabalho já vem sendo feito há alguns anos. As grandes difi culdades prendem-se com a economia do país, mas, ao nível local, ainda não tínhamos tomado esta responsabilidade como nossa. Quando esta declaração é feita, em 1991, a componente das comunidades foi descurada e isso atrasou muito esse processo de consciencialização ao nível local.
(V) – Está a dizer-me que o desconhecimento por parte da população é uma das razões para este atraso?
(AM) – Sem dúvida. O esclarecimento da população levou muito tempo. Aliás ainda está a ser feito.
(V) – Esse esclarecimento ainda vai demorar?
(AM) – Acho que agora a consciência das responsabilidades é muito maior do que em relação aos primeiros anos da declaração.
Este na próxima quinta-feira, dia 17, a Ilha de Moçambique festeja mais um feriado municipal.O @ VERDADE quis saber, da boca do presidente do município, Alfredo Artur Matata, de passagem por Maputo, – eleito em Novembro passado pelo partido Frelimo – o estado em que se encontra o único lugar com o estatuto de Património da Humanidade no nosso país. Da entrevista infere-se que pouco ainda foi feito, que há muito por fazer e que os recursos disponíveis são inversamente proporcionais à ambição. ainda é um grande desafi o que temos pela frente. Mas acreditamos que vamos conseguir e que a Ilha vai ser cada vez mais uma referência em termos de património mundial.
(V) – Uma das coisas que impede esse desenvolvimento é a sobrepopulação. Houve uma altura em que parte da população do Macuti se instalou no Lumbo, na parte continental, mas depois voltou. Como é que está o processo de transferência?
(AM) – A superlotação é, de facto, um dado adquirido. Com a guerra civil a Ilha foi vista como um local seguro, tornando-se refúgio de muita gente. Hoje, só a parte insular, conta com 15 mil habitantes. O número ideal seria 5 mil. Em relação à primeira transferência, que foi efectuada em 2003, gostaria de dizer que muitas das famílias que foram transferidas tinham fi lhos que estudavam na Ilha. As crianças saíam diariamente do continente para a Ilha para frequentar a escola. Então, aquele trajecto era feito a pé com poucas condições de segurança. Como não acautelámos esse aspecto da segurança, houve muita gente que, que com receio de algum desastre, regressou.
(V) – Quantas pessoas saíram nessa fase?
(AM) – Cerca de 2600, todas da zona do Macuti.
(V) – Essas casas que fi caram livres no Macuti não deviam ter sido arrasadas para dissuadir eventuais regressos?
(AM) – Tem de se ir com calma. Aqui há uma componente que teremos de observar. Dentro das regras de património algumas casas de Macuti devem ser mantidas. Não quer dizer necessariamente que as pessoas vivam lá. Mas devem ser preservadas.
(V) – Dessas 2600 quantas regressaram à Ilha?
(AM) – Voltaram 1800 pessoas. Só lá fi caram 800. Deixe-me dizer-lhe que aqui também entraram em jogo outras coisas. A falta de hospital e o problema de abastecimento de água e energia no continente. Porque aqui na Ilha, apesar de defi ciente, as pessoas acabavam por ter essas comodidades. Por conseguinte, fi cou muito difícil convencê-las.
(V) – Fez-se alguma coisa para alterar esta tendência?
(AM) – Há dois anos introduzimos o ensino básico no continente. Este ano tivemos também, pela primeira vez, o ensino secundário. Conseguimos igualmente que esteja prevista a construção de um hospital de raiz no Lumbo. Há ainda planos para transferir os serviços de Estado da Ilha para o continente porque mais de metade dos residentes é composta por funcionários públicos e isso irá libertar muito espaço na Ilha. Contamos brevemente também solucionar os problemas tanto de abastecimento eléctrico como de água do continente. Para isso iremos contar com um fi nanciamento português.
(V) – Há algum subsídio para as pessoas que abandonem a Ilha?
(AM) – Não.
(V) – Mas isso, de certa forma, desencoraja a transferência.
(AM) – Há um apoio no fornecimento de certos materiais de construção como chapas e madeiras. Os empréstimos para a construção de habitações são feitos com prestações muito suaves.
(V) – Dá-se prioridade a certas pessoas em relação às outras na transferência?
(AM) – As que residem no Macuti têm prioridade na atribuição de talhões, uma vez que a sobrelotação é muito maior do que no cimento. No fi nal deste mês vai começar o processo de atribuição de talhões no continente.
(V) – Quando é que espera que esteja tudo concluído?
(AM) – A distribuição de talhões é um processo rápido. Até ao fi m do ano todos os talhões já terão dono. O que vai demorar mais é a construção em si.
(V) – As obras da ponte que liga a Ilha ao continente já estão concluídas?
(AM) – A segunda fase já terminou. Agora vai-se dar início à terceira fase. Temos 88 pilares corroídos que ainda não foram objecto de reparação. Neste momento está lá uma equipa que pretende que o trânsito se faça de uma forma mais reduzida. Em simultâneo, também vão arrancar as obras de reabilitação da ponte-cais para a atracagem de navios. Tudo indica que ambas vão terminar em 2010.
(V) – Qual é o custo total da reabilitação da ponte?
(AM) – Posso garantir que se situa acima dos 300 milhões de meticais.