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Famoso discurso de Luther King quase não incluiu a frase “Eu tenho um sonho”

Clarence Jones estava sentado 15 metros atrás de seu chefe, o Dr. Martin Luther King Jr., naquele dia brilhante e ensolarado de 1963 quando King fez o discurso que iria mudar para sempre o curso das relações raciais nos Estados Unidos. Agora, 50 anos depois, Jones recorda como as palavras “Eu tenho um sonho” não estavam escritas no texto que King preparou e começou a ler naquele dia. King improvisou na hora, revivendo uma frase que ele tinha usado anteriormente sem muito impacto, segundo Jones, advogado, redator de discursos e confidente de King.

“Eu tenho um sonho”, gritou King à multidão, sua voz reverberando com emoção, “que meus quatro filhos pequenos um dia vivam em uma nação onde serão julgados não pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”. Feito 50 anos atrás na quarta-feira, a imagem de King de seu sonho por uma América melhor ainda inspira os Estados Unidos.

O discurso foi feito para mais de 250.000 pessoas que foram até a capital Washington para marchar pelos direitos civis, em uma época em que ainda era ilegal para negros e brancos se casarem em muitos Estados, e poucos meses depois que manifestantes no Alabama foram atacados por cães policiais e mangueiras de bombeiros.

King havia falado antes sobre ter um sonho para seus filhos e para a América, mas a frase nunca tinha realmente ressoado com o público e a ideia foi deixada de fora do texto para o discurso daquele dia, disse Jones em uma entrevista para a Reuters perto de sua casa em Palo Alto. Ele também reconta a história em seu livro mais recente, “Behind the Dream”, publicado em 2011. King havia preparado um texto que começava com vários parágrafos redigidos por Jones.

Enquanto King começava a ler o documento, Jones seguia os parágrafos conforme ele falava. Os primeiros sete estavam como ele os havia escrito. Cem anos após a Proclamação da Emancipação que libertou os escravos norte-americanos, “a vida do Negro ainda é terrivelmente incapacitada pelas algemas da segregação e as correntes da discriminação”, entoou King.

Um pastor batista com um estilo de discurso carismático e comovente, King continuou lendo trechos do texto que ele havia acrescentado aos primeiros parágrafos de Jones. Aí veio a mudança no script. A cantora de gospel Mahalia Jackson, que tinha apresentado a canção “How I Got Over”, gritou do estrado: “Conte a eles sobre o sonho, Martin”, ela disse, segundo Jones. “Conte a eles sobre o sonho!”

Jones, que é autor de dois livros sobre King, ensina na Universidade de Stanford e na Universidade de São Francisco. Ele nasceu em Filadélfia em 1931 e conheceu King em 1960, permanecendo próximo a ele até o assassinato de King em 1968. Ele disse acreditar que várias condições naquele dia ajudaram a fazer aquele momento histórico: o lindo tempo; a presença de mais de 250.000 pessoas; um discurso poderoso que precedeu o de King feito por Joachim Prinz, então presidente do Congresso Judaico Americano; a localização, aos pés do Memorial de Lincoln, e o centenário da Proclamação da Emancipação em 1863, que libertou os negros escravos nos Estados Unidos.

A ira entre os negros norte-americanos também estava no limite, disse Jones. Imagens de cães da polícia e de mangueiras para apagar incêndios sendo usados contra manifestantes pacíficos, inclusive crianças, nos protestos em Birmingham, Alabama, enfureceram os afro-americanos e chocaram muitos em todo o mundo. “Não se pode entender o discurso ‘Eu tenho um sonho'”, disse Jones, “a menos que se pause e reflita sobre as circunstâncias históricas que aconteciam no país naquele tempo”.

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