O ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva foi conduzido nesta sexta-feira a uma esquadra da Polícia Federal (PF) no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para que preste depoimento como parte do início da 24ª fase da Operação Lava Jacto, a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o país sul-americano já teve e que está relacionada com o desvio de dinheiro dos cofres da Petrobras, a maior empresa estatal do país.
Lula foi levado ao aeroporto depois que agentes fizeram uma operação de busca e apreensão na manhã desta sexta-feira na sua residência, na casa de um dos seus filhos e em outros imóveis supostamente relacionados a ele, dentro da nova fase da operação que investiga os gigantescos casos de corrupção ocorridos na empresa petrolífera Petrobras.
A operação foi ordenada por um juiz federal, Sergio Moro, a pedido do Ministério Público Federal, que sustentou em comunicado que “há evidências de que o ex-presidente Lula recebeu valores oriundos do esquema Petrobras por meio do destino e reforma de um apartamento de três andares e de um sítio campestre em Atibaia”.
Os imóveis estão no nome de pessoas próximas a Lula, mas as autoridades suspeitam que na realidade pertencem ao ex-Presidente, a quem investigam por “lavagem de dinheiro” e “ocultação de património”.
A Procuradoria assegura que o antigo Chefe de Estado brasileiro “foi um dos principais beneficiados dos crimes” e que há “provas” de que essas actividades ilícitas “o enriqueceram e financiaram campanhas eleitorais e o caixa” do Partido Trabalhista(PT), a que Lula pertence assim como a actual Presidente do país, Dilma Rousseff.
O conjunto de indícios contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção é “bastante significativo”, afirmou nesta sexta-feira em entrevista coletiva em Curitiba o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a equipa especial do Ministério Público Federal que investiga os casos de desvios e cartel na Petrobras.
“O conjunto de indícios é bastante significativo, mas muitos deles apareceram na imprensa antes que fizéssemos uma investigação profunda”, disse Lima. “Temos palestras (de Lula) no exterior (financiadas por empresas envolvidas em desvios da Petrobras), indícios de obras no exterior no qual poderia haver tráfico de influência, tudo sob investigação”, frisou o procurador.
Segundo Lima, o Instituto Lula recebeu cerca de 20 milhões de reais em doações das cinco empresas mais envolvidas nos desvios na empresa petrolífera Petrobras. O procurador acrescentou que o ex-chefe de Estado recebeu dessas mesmas cinco empresas cerca de 10 milhões de reais como pagamento por palestras que fez tanto no Brasil como no exterior.
De acordo com as contas do Ministério Público, do total de recursos recebidos pelo Instituto Lula nos últimos anos, 60% veio das cinco empresas mais implicadas no esquema da Petrobras, que também foram responsáveis por 47% dos recursos que o ex-governante recebeu para dar palestras desde que deixou o cargo em 2011.
“É claro que doações podem ser feitas por diversos motivos, mas temos que investigar se isso tem alguma relação com os desvios da Petrobras”, destacou Lima.
Segundo o procurador, a operação desta sexta-feira procura estabelecer se Lula e sua família receberam vantagens indevidas em troca de eventuais medidas do seu governo.
Lima disse que entre essas possíveis vantagens investigadas estão as obras e reabilitações feitas por empresas como Odebrecht e OAS num apartamento de luxo e numa quinta também imponente que estão no nome de outras pessoas, mas que as autoridades averiguam se pertencem ao ex-presidente.
Sobre a ordem para que Lula fosse conduzido a uma esquadra para ser submetido a interrogatório, o procurador esclareceu que foi expedida por motivos de segurança. “As ordens foram expedidas muito mais por segurança porque sabemos da polarização que existe no país. Quisemos evitar manifestações caso determinássemos uma data para o interrogatório”, disse Lima, em referência aos enfrentamentos ocorridos ainda nesta sexta-feira entre partidários de Lula e da oposição.