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“Eu fui, sou e serei sempre comunista” José Cardoso (1930 – 2013)

Homenagem José Cardoso lançada em Maputo

Na sua ‘efémera’ estada na Terra – que durou mais de oito décadas – o realizador moçambicano José Cardoso criou parte essencial dos filmes-base para a crónica cinematográfica oficial moçambicana. Durante a sua vida, desde a juventude, vinculou-se aos ideais do socialismo comunista que se frustraram perante o capitalismo que nos governa. Embora fracassado, lutou continuamente pela igualdade social até que na madrugada do Dia da Paz, 04 de Outubro, O Anúncio – não do emprego, como o fez no referido filme, mas da morte – bateu-lhe à porta. José abandonou tudo, incluindo Laura Cardoso, e foi-se eternamente…

No dia em que, depois de muitos adiamentos, finalmente, pela primeira vez, o visitámos na sua residência, em Maputo, o célebre realizador moçambicano José Cardoso (1930 – 2013) recebeu-nos, mas – e ainda bem que assim procedeu – imediatamente “mandou-nos embora”. Disse-nos que não estava bem disposto para interagir connosco. E não foi porque não o avisámos de que vínhamos porque – mesmo se assim quiséssemos – não teríamos como fazê-lo. Cardoso não tinha telemóvel. Grosso modo, ele ficava, permanentemente, em casa. E, qualquer pessoa que quisesse conversar consigo podia encontrá-lo. Nem precisava de prenunciar que o iria ver. E nós, como José Cardoso nos aconselhou, não precisávamos de marcar audiências para o efeito.

Essa experiência decorreu entre os finais de Junho e princípios de Julho. De certo, havíamos lido algo a seu respeito em alguns magazines, tínhamos visto, em 2012, O Anúncio – o seu filme sobre a problemática universal do desemprego – no âmbito da terceira edição do Fórum de Cinema de Curta-Metragem (KUGOMA) e, recentemente, tínhamos estado consigo numa mesa redonda organizada no contexto do referido evento em que Cardoso contou histórias do cinema ao longo dos anos 60 do século passado.

Falar sobre a sétima arte nessa época também nos importava. No entanto, mesmo com essas informações esparsas, não tínhamos conhecimentos suficientes para interagir com José Cardoso a fim de – no contexto da nossa actividade – gerar conteúdos reveladores. Então, quando ele nos “mandou embora” – marcando o encontro para outro dia – sentimo-nos acariciados pela sorte. Iríamos ler mais a seu respeito. O problema é que – segundo constatámos – nunca estaríamos preparados para entrevistá-lo, na verdadeira acepção da palavra.

Talvez, ele fosse contar- -nos factos sobre a sua experiência humana e artística como realizador. Por essa razão, este texto- -conversa, com um início bem precipitado representa uma tentativa de entrevista a José Cardoso. Abespinha-nos, porém, o facto de ter sido a (nossa) primeira e a última cavaqueira com o pai de O Vento Sopra do Norte. Aos 83 anos, o homem partiu na madrugada da sexta-feira, do Dia da Paz, 04 de Outubro. Paz à sua alma!

‘Cowboyadas’ ou um cinema com preocupações sociais?


@Verdade: José Cardoso é o realizador de um dos filmes (porque existem dois, O Vento Sopra do Norte e O Tempo dos Leopardos) que constituem o início da ficção do cinema moçambicana…

José Cardoso: Penso que está a referir-se ao O Vento Sopra do Norte e o Canta Meu Irmão. O primeiro é, de facto, uma ficção. O segundo é uma longa-metragem sobre a cultura moçambicana. Percorri todo o país, do norte ao sul, tendo visitado quase todas as províncias. Nesse contexto, filmei os artistas que se apresentaram no Festival Nacional de Cultura, em 1976, na cidade de Maputo. Recolhi dados sobre a actividade e a vida desses criadores, a construção dos seus instrumentos, a forma como os utilizavam, as suas obras musicais de tal sorte que acabei por produzir a obra Canta Meu Irmão – a primeira longa-metragem moçambicana a cores. Infelizmente, esse filme não foi muito exibido no cinema. Por isso não é muito conhecido no país.

Paradoxalmente, o Canta Meu Irmão é uma obra mais conhecida na Europa porque alguém enviou as suas cópias para a Itália. De uma ou de outra forma, eu gosto de associar a história do cinema moçambicano ao período anterior à independência nacional, quando eu fazia – aquilo que muitos chamam cinema amador – o cinema não profissional. Entendo o cinema amador como sendo uma série de brincadeiras. Ora, em contra-senso, o que eu fazia não eram zombarias. Eu já produzia – em apenas oito minutos – um cinema sério, enfocando os problemas da sociedade moçambicana, em geral, e do mundo em particular. Refiro-me aos conflitos armados, ao desemprego, bem como ao relacionamento entre pais e filhos, incluindo outros tópicos discutidos nesse âmbito.

Então, eu considero que o meu cinema – focalizado nas temáticas dos problemas sociais – já vem desde 1950, quando eu, como fundador do Cine Clube da Beira, comecei a produzir filmes. Mais tarde, em 1976, a convite de Américo Soares, o primeiro director do Instituto Nacional de Cinema – que, não obstante o facto de que não nos conhecíamos, pessoalmente, ele ouvia falar de mim, como realizador, e sobre os prémios que os meus pequenos filmes de ficção ganhavam na Europa – vim a Maputo. Dessas obras há três fundamentais – O Anúncio, O Pesadelo e Raízes. É verdade que todos eles foram premiados, mas o primeiro obteve um sucesso maior.

@Verdade: Quer aprofundar mais essa experiência sobre o cinema amador e não profissional?

José Cardoso: A minha experiência como cineasta profissional começa em 1976. No entanto, eu prefiro o termo cinema não profissional porque no cinema amador havia dezenas de pessoas a trabalhar. O problema é que nessa produção não havia qualidade nenhuma. Produziam-se ‘cowboyadas’ – uma espécie de imitação do que de pior se fazia na Europa. Para mim, o cinema amador é experimental e de brincadeira e não tinha preocupações sociais, muito menos humanas. Ora, o cinema não profissional – que era exactamente o que eu defendia – tinha essas inquietações, discutindo tudo o que acontecia em Moçambique e no mundo. Vejo que hoje há muitos jovens realizadores moçambicanos com grande capacidade. O problema é que eles andam um pouco perdidos.

Pensam que para fazer cinema é preciso ter muito dinheiro, o que – para mim – não é verdade. Eu fazia cinema investindo o meu próprio ordenado – que não era muito alto – e já era casado, tinha filhos e passava por algumas dificuldades. Entretanto, apesar de tudo, investia todo o meu dinheirinho na compra de material como, por exemplo, as máquinas e os filmes virgens. E a par dos outros colaboradores do Cine Clube da Beira, produzíamos os filmes que gostávamos de ver. Portanto, os jovens entusiastas da sétima arte precisam de trabalhar. Eles devem arregaçar as mangas e fazer o cinema porque actualmente dispõem de mais facilidades do que eu tinha naquela época. Por exemplo, para eu fazer filmes tinha de ter máquinas de filmar em película e, para os revelar, tinha de enviá-los para a Itália, onde havia a película da marca Ferrânia.

“Não hesitei em trocar o dinheiro pelo cinema”


@Verdade: Seria correcto se, por indução, concluíssemos que na sua época não havia muita concorrência entre os realizadores? E que essa realidade favorecia a produção cinematográfica?

José Cardoso: Não é verdade! Havia o egoísmo e uma grande rivalidade que nascia da incapacidade que – algumas pessoas – tinham de fazer melhor que nós, a nível do Cine Clube da Beira. Entretanto, também existia outra rivalidade – muito importante porque propiciava a colaboração entre determinados grupos de realizadores. Pessoas como João Paulo Santos, o irmão de Zeca Afonso, são referências dessa época.

@Verdade: O ano de 1976 marca a realização do primeiro Festival Nacional da Cultura, mas também – como o seu depoimento comprova – a sua vinda para Maputo e, consequentemente, o nascimento da sua relação com o Instituto Nacional do Cinema…

José Cardoso: Pois, eu aqui vim a convite do Instituto Nacional do Cinema para ingressar nos quadros da instituição. Mas antes eu era técnico de farmácia. Por essa razão, fazia os meus filmes aos fins-de-semana, sobretudo quando os meus colaboradores estivessem disponíveis. Ora para sair da Beira para Maputo enfrentei muitos problemas. É que, na altura, na Farmácia Graça – onde trabalhei durante 32 anos – por causa da transformação que se estava a operar, dos três mil e seis mil escudos que recebia, ofereceram-me o (grande) vencimento de 30 mil escudos.

Constatei que essa oferta de 30 mil escudos que passaria a auferir a partir 1976, na Farmácia Graça, se devia ao facto de que a dona da organização não era especializada na área. O pior é que não havia outra pessoa para ocupar o meu cargo. Por isso, esse dinheiro era para me manter vinculado à instituição. A proprietária sabia que se eu saísse não havia alguém para realizar as tarefas que eu tinha. Entretanto, o valor que se me oferecia no Instituto Nacional de Cinema – 12 mil escudos – como salário era muito aquém da proposta da farmácia.

De qualquer modo, eu não hesitei em trocar o dinheiro pelo cinema porque o meu amor pela sétima arte era imenso e a possibilidade de vir a Maputo trabalhar nessa área era única. Além do mais, na época, vivia-se um certo movimento revolucionário em que eu assumia algum protagonismo porque defendia as suas ideias. O problema é que essa revolução acabou – e eu fiquei só, com as ideias. Portanto, não me custou nada trocar a farmácia, e um bom vencimento, pelo cinema. E vim então para Maputo.

@Verdade: Quais eram os ideais desse movimento revolucionário?

José Cardoso: Vou-te dizer uma coisa muito séria – a partir dos meus 16 anos, abracei a ideologia comunista. Eu fui, sou e serei sempre comunista. As ideias do socialismo comunista são minhas. Trata-se de ideias puras que foram retorcidas, inclusivamente, por aqueles que foram os pais do comunismo. Por exemplo, a União Soviética perdeu-se pelo caminho. De uma ou de outra forma, há muitos camaradas meus – não confundir os camaradas da ideologia comunista com os actuais do partido no poder – que também abandonaram o comunismo. Seja como for, como um bebé recém- nascido, as minhas ideias do socialismo comunista mantêm-se puras.

E lutámos por elas. Essa luta consiste na construção de um mundo melhor, de justiça social, em que as riquezas nacionais de cada país sejam divididas entre os povos desse país e não roubadas por meia dúzia de sanguessugas e ladrões que andam sempre à caça das migalhas do povo para gerar a sua riqueza. Ora, quando entrei no Instituto Nacional do Cinema – porque pensei que, na altura, a revolução também as seguia – levei essas ideias comigo. O problema é que as coisas evoluíram para o torto. Elas desenvolveram-se em direcção ao outro regime – o capitalismo – contra o qual eu luto o tempo inteiro. O regime do “salve-se quem puder”. Então eu sempre lutei – e continuo a lutar – por uma justiça social e uma igualdade entre as pessoas, porque todas elas têm a mesma capacidade e, por isso, deviam ser úteis à sociedade e à humanidade.

“Eu tenho fé nos jovens!”


@Verdade: Tem sido muito difícil ver os seus filmes…

José Cardoso: É verdade. É que, actualmente, estes filmes estão na Alemanha, onde há um projecto para compactá-los num DVD. Eles prometeram fazer um trabalho de qualidade de modo que se promovam as obras. Infelizmente, no aspecto do som e da imagem, as cópias dos filmes que me enviaram de Portugal têm uma qualidade muito má. A Diana Manhiça está a tratar disso, com os parceiros alemãs. Acho que em muito pouco tempo – ao longo deste ano – teremos estas obras em Moçambique. Recordo-me de que por causa do filme Pesadelo, uma ficção de oito minutos, no tempo colonial, fui preso pela PIDE sob a alegação de que estava a fazer apologia à luta de guerrilha, em 1961.

Por isso, temos de lutar por um mundo melhor. Os jovens – como tu – têm a capacidade de lutar para vencer. Eu tenho uma grande fé não só nos jovens moçambicanos, mas de todo o mundo. Sinto que agora há um despertar das pessoas porque elas estão cansadas de viver a sofrer. Eu penso que não é preciso sofrer tanto para viver. Basta que haja uma distribuição igual da riqueza do país e que não existam as acções vampirescas daqueles que – em pouco tempo – se querem habituar às maiores riquezas possíveis, esquecendo-se dos outros. O pior é que alguns, até, juraram servir o povo, mas quando chegam ao poder fazem, exactamente, o contrário – vivem em palacetes com carros de alta cilindrada e gordas contas bancárias – aqui e no estrangeiro –, enquanto o resto do mundo vive na miséria.

@Verdade: Porque é que fazem isso?

José Cardoso: É por puro egoísmo. O lado mau do Homem é ser animalesco, cruel e vil. Então temos de procurar os homens bons. Eles é que se devem unir para que haja a revolução. Para que a situação se transforme.

@Verdade: Qual é a sua relação com Ídasse Tembe?

José Cardoso: Somos grandes amigos porque fomos colegas no Instituto Nacional do Cinema. Ele trabalhou na secção do cinema de animação e, nessa altura, já demonstrava grandes capacidades como criador, artista e desenhador. Foi nesse contexto que nasceu a nossa relação.

@Verdade: Que relação existe agora entre realizadores da sua estirpe – o senhor, particularmente, sob o ponto de vista de intercâmbio de experiências – e os jovens?

José Cardoso: Actualmente, digo-te francamente, não há nenhum relacionamento entre os realizadores mais experientes e os actuais. Eu estou em casa. Não posso sair porque a saúde não me permite. De qualquer forma, acho que podia ajudar e aconselhar os jovens – apoiando-os em vários aspectos – mas eles nunca me procuram. Não sei qual é o problema. E como eu sou muito franco, fico a matutar para descobrir as razões do problema. Há vezes que penso que é uma maldição que carrego por ser branco.

@Verdade: O senhor criou um filme, O Anúncio, em que expõe um homem branco numa situação de crise, de desemprego e de sofrimento…

José Cardoso: Quando fiz esse filme – em que a personagem sou eu próprio – a problemática do desemprego, como acontece agora, era enfrentada por toda a humanidade, afectando todos os povos. E quando o realizei não me escolhi por ser branco. Coloquei-me como protagonista porque – no sistema colonial – colocar um negro a sofrer por causa do desemprego não facilitaria o meu trabalho. Iriam acusar-me de instigar à rebeldia, o que não seria bom para o desenvolvimento do filme. Seleccionei um grupo de personagens, todos eles familiares, amigos e brancos. Mas também porque, na altura, as relações humanas entre pretos e brancos eram muito azedas. No entanto, quer eu queira quer não, quer eu goste quer não, os negros olhavam-me como um colono. Eu vim para Moçambique quando tinha sete anos de idade. Não conheço outra terra-mãe que não seja esta.

@Verdade: Quais é que eram as dificuldades na época em relação à produção cinematográfica?

José Cardoso: Havia pouco dinheiro quando o mesmo era necessário, porque os filmes deviam ser enviados para a Europa. Produzir cinema implicava fazer um grande investimento – incluindo o elemento tempo – porque, depois de produzido, o filme tinha de ser enviado para a Itália, de onde retornava para Moçambique a fim de que fossem limados alguns erros. E o material era enviado através dos serviços dos correios – de navio – num processo que durava muito tempo. Portanto, a maior dificuldade era a necessidade de gerir a nossa capacidade financeira à altura daquilo que eram os nossos vencimentos.

À Beira da paixão


@Verdade: Que memórias tem em relação à cidade da Beira?

José Cardoso: A minha esposa nasceu na cidade da Beira, onde a conheci, e casámo-nos em 1957. Já nessa altura ela – como muitos dos jovens dessa época – seguia as ideologias comunistas: lutar por um mundo melhor e, por essa razão, éramos todos perseguidos pela PIDE. Criámos vários grupos culturais no centro da cidade, desde os de teatro, da música, do campismo, incluindo actividades desportivas porque – para o nosso bem- -estar e formação como Homens – isso era muito importante.

@Verdade: Percebo, com base no seu depoimento e naquilo que li, que a cidade da Beira poderia ser considerada uma espécie de catedral do cinema moçambicano. Como é que olha para aquela urbe em função da realidade actual?

José Cardoso: Não tenho acompanhado a actualidade da Beira. A última vez que estive lá foi em 2000, altura em que foi publicada a minha obra – O Curandeiro Branco. Nessa época, percebi que o espírito beirense – de rebeldia – se mantinha. Isso é apreciável. Talvez haja uma necessidade de liderança no campo das artes. Se houvesse liderança, penso que dali surgiriam os melhores e os mais valiosos trabalhos artísticos, sobretudo no cinema. Eu gostaria de viver na cidade da Beira que – além de ser a terra natal da minha esposa, Laura Cardoso – é a minha paixão. É verdade que a cidade de Maputo continua a ser – para mim e para a minha família – um posto de passagem necessária, porque aqui cresci e afirmei-me como cineasta profissional. No entanto, mantenho essa ideia de que Maputo é um espaço de passagem.

@Verdade: Significa que pensa em retornar à Beira?

José Cardoso: Se eu tivesse saúde e condições financeiras retornaria. O problema é que não tenho capacidade financeira para me manter em Maputo. Vivo à custa dos filhos e do trabalho que a minha esposa faz como modista. Agora passo a vida no computador a escrever histórias. Tenho vários livros completos que – se tivesse algum financiamento – podiam ser publicados. Os contos são quatro. Tenho outros romances que enviei para um concurso literário em Portugal, incluindo livros de memórias. O Curandeiro Branco foi publicado porque a Escola Portuguesa se prontificou a patrocinar. Infelizmente, até agora – também não tenho procurado – ninguém se ofereceu a financiar a publicação dessas obras. Se não forem publicadas no meu tempo, os meus filhos irão publicá-las. Sinto que o meu tempo está muito reduzido.

Biografia

José Cardoso nasceu em Figueira de Castelo Rodrigo, numa aldeia do norte de Portugal, a 6 de Abril de 1930. Tendo perdido os pais muito cedo, ficou a cargo de familiares e, com estes, veio para Moçambique em 1939.

De 1939 a 1946, Cardoso dividiu a sua adolescência pelos anos de estudo primário, no Instituto Mouzinho de Albuquerque na Namaacha, pelo secundário na Escola Comercial e Industrial Sá da Bandeira, em Lourenço Marques, e pelo trabalho que iniciou aos 14 anos, como praticante na Farmácia Central.

Em 1946 decidiu tornar-se independente e rumou à Beira, onde ultrapassou a adolescência e se tornou homem, trabalhando na Farmácia Graça. Foi nessa cidade que conheceu Laura, com quem casou em 1957 e de quem viria a ter três filhos – João, Luís e Alexandre.

A paixão pelo cinema ocupava os seus tempos livres a favor de uma arte que o atraía. Foi fundador do Cine Clube da Beira e aí iniciou-se no estudo da arte, da técnica cinematográfica e na produção de filmes. Em 1976 aceitou o convite que lhe foi feito pelo Instituto Nacional de Cinema para ingressar nos seus quadros técnicos como profissional e rumou para Maputo onde trabalhou, primeiro, como director de produção e depois como realizador, deixando para trás, na Beira, a delegação do INC que organizou, e o embrião do projecto de Cinema Móvel, que se pensava estender a todo o país.

Por razões alheias à sua vontade, viu-se na contingência de abandonar o INC, que entretanto fora consumido pelas chamas de um incêndio, obrigando-se a constituir uma empresa de produção de filmes, em parceria com outros profissionais e amigos, incluindo os seus dois filhos mais velhos.

Posteriormente criara, com os filhos, uma nova empresa, a “Publicita”, que ainda hoje se mantém e é, por mérito deles e de quem nela trabalha, o suporte económico da sua e de outras famílias que a ela se conservam vinculadas.

Dedicou-se também à escrita, prosa e poesia, tendo publicado em 2007 o livro de crónicas “O Curandeiro Branco” deixando no prelo três volumes de “Memórias” e o livro de contos “Mangachana, a feiticeira e outras histórias”.

Filmografia

De entre os inúmeros filmes por si realizados destacam- se:

1966 – “O Anúncio”, uma ficção de oito minutos que foi premiada em Aveiro, Paris, Beira, Rio Maior, Lobito e Porto.

1968 – “Raízes”, uma ficção de oito minutos galardoada no Porto e em Aveiro.

1969 – “Pesadelo”, uma ficção de oito minutos premiada em Guimarães e no Luxemburgo.

1982 – “Canta Meu Irmão, Ajuda-me a Cantar”, uma longa-metragem de 16 minutos premiada em Aveiro, Taskent e em Maputo.

1984 – “Frutos da Nossa Colheita”. Esta ficção de 16 minutos recebeu um prémio em Maputo.

1986 – “O Vento Sopra do Norte”, ficção e longametragem de 16 minutos.

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