Artefactos iraquianos antigos estão a surgir no mercado negro à medida que os militantes do Estado Islâmico usam intermediários na venda de tesouros inestimáveis para financiar as suas actividades depois de dominar o norte do país, afirmaram as autoridades iraquianas e ocidentais.
Os militantes adquiriram alguma experiência com antiguidades depois de assumirem o controle de grandes partes da Síria, mas quando capturaram a cidade de Mossul, no norte do Iraque, e a província de Nínive, em Junho, tiveram acesso a quase dois mil dos 12 mil sítios arqueológicos registados do país.
A Mesopotâmia, parte do Iraque atual, foi uma das primeiras civilizações. Seu nome significa “entre os rios” em grego, uma referência aos rios Tigre e Eufrates, que tornaram a região um epicentro de agricultura e comércio e uma encruzilhada de civilizações.
Lugar onde ficavam as antigas Nínive e a Babilónia, cujos jardins suspensos eram uma das sete maravilhas do mundo antigo, a área foi o lar dos sumérios, que deram ao mundo a escrita cuneiforme – a mais antiga forma de escrita ocidental – aproximadamente em 3.100 a.C.
Discursando numa conferência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) em Paris, para alertar sobre o risco para a herança cultural iraquiana, Qais Hussein Rasheed, responsável pelo Museu de Bagdá, disse que grupos organizados estão atuando em coordenação com o Estado Islâmico. “É uma máfia internacional de artefactos”, declarou aos repórteres.
“Eles identificam os artigos e dizem o que podem vender”. Como algumas das peças têm mais de dois mil anos, é difícil saber seu valor exato. Citando autoridades locais ainda em áreas dominadas pelo Estado Islâmico, Rasheed afirmou que o maior exemplo de pilhagem até agora ocorreu no grande palácio de Kalhu do rei assírio Assurbanípal II, do século nove a.C. “Tábuas assírias foram roubadas e encontradas em cidades europeias”, disse ele.
“Alguns destes artigos são cortados e vendidos em partes”. Outra autoridade iraquiana, que não quis se identificar, disse que os artefactos também estão a ser escavados, e que os países vizinhos como Jordânia e Turquia precisam de fazer mais para evitar que tais peças cruzem as fronteiras.
“As coisas estão a passar pelas nossas fronteiras e irem parar em casas de leilões no exterior”, afirmou. “Infelizmente, muito do lucro destes artefactos será usado para financiar o terrorismo”. Um diplomata ocidental declarou ser cedo demais para avaliar exactamente quantos tesouros iraquianos atravessaram as fronteiras.
“Vimos centenas de milhões de dólares em peças sírias surgirem depois de os seus sítios terem sido saqueados, então é razoável esperar o mesmo do Iraque”, disse.
O evento da Unesco, que reuniu os diplomatas, as autoridades iraquianas e os especialistas na herança cultural iraquiana, acontece antes da assembleia geral da entidade, na qual a França irá apresentar uma resolução para chamar a atenção dos países-membros e criar uma missão para ajudar o Iraque a avaliar os danos.