Linguisticamente falando, escultura é a arte de esculpir ou de exercer estatuária. E, mais do que produzir uma obra para “inglês ver”, a escultura transmite um sentimento, uma ideia. Através dela o artista revela o que sente, a sua relação com os outros e o modo como vê o mundo que o rodeia. Em Moçambique, devido à falta de mercado, esta arte é praticada como a agricultura de subsistência: para sobreviver.
Ibramujy Azi, um dos escultores da nossa praça, assegura que a escultura é uma arte difícil. “Aprendi com o meu pai e levei muitos anos. E isso só foi possível graças à minha dedicação. Muitos dos que começaram comigo desistiram logo no processo de aprendizagem.” São muitos os candidatos a escultor que desistem. “Quando comecei a aprender a fazer escultura estava num grupo de 10 pessoas, ensinadas pelo meu pai, mas quase todos desistiram. Fiquei eu e um irmão meu, mas que também nos últimos temos não se tem dedicado devidamente”, contou.
No seu entender, à parte o esforço físico imposto pelo trabalho prático, esta arte exige permanente imaginação. O artista deve obedecer a uma vida disciplinada, uma vez que tem de seleccionar as ideias, reservá-las e, fi nalmente, pôlas em prática. “Geralmente a minha inspiração surge de noite e de manhã executo o trabalho com que sonhei de noite.”
Amor à camisola
Moçambique já viu nascer grandes escultores que nos encheram de orgulho, contudo, muitos deles, à excepção de Malangatana Valente e de Alberto Chissano e pouco mais, a esmagadora maioria continua a batalhar de forma titânica para sobreviver. Este é, sem dúvida, um dos motivos da falta de adesão dos jovens a esta arte. O valor das obras produzidas não compensa o esforço. Os escultores, de uma maneira geral, referem que não é possível, porque o mercado é muito exíguo, esse seria uma das razões da fuga dos candidatos.
Esculpir para encher a barriga
Os que da escultura vivem, apontam que se sentem obrigados a produzir obras mais para atrair a clientela do que pela expressão artística. Este é o caso dos escultores que pululam pelas ruas, passeios e locais turísticos das principais cidades do país. “Procuramos satisfazer os nossos clientes”, disse António Joel Mahota, de 45 anos de idade, 25 dos quais passados a esculpir. Mahota, actualmente a vender as suas obras junto à pastelaria Continental, na Baixa de Maputo, assegura que ele e a sua família (tem 3 fi lhos) vivem de escultura. “Consigo entre quatro e seis mil Meticais por mês, dá para alimentar a família.” De pau-preto, sândalo, chanfuta, pau-rosa, mafureira e cajueiro, as obras artísticas vão desde os 50 Meticais aos dez. Pratos, talheres, cinzeiros, fi guras de animais e pessoas, são alguns dos trabalhos comercializados por este “escultor de subsistência”. Este facto reduz o valor cultural e patrimonial daquilo que se deseja para uma arte. Os principais clientes destes artistas são estrangeiros que, ao regressarem aos seus países, pretendem levar na bagagem recordações da cultura moçambicana. Sobre essa polémica, a directora do Museu Nacional de Arte, Julieta Massimbe, é peremptória: “Não vejo qualquer contradição, nem nenhum mal nisso. Devem existir obras para o artista se manter no dia-a-dia, e outras que, pelo seu valor, devem ser objecto de exposições.”