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Escrutínio escolar d’@ Verdade – Tchambalakati

Olhou atentamente para os netos que brincavam, corriam de um lado para o outro, enchiam o quintal espaçoso, subiam e desciam às árvores pequenas e grandes. Espalhavam-se de tal maneira que o quintal parecia pequeno.

A passo de camaleão, a vovó dirigiu-se para dentro de casa de caniço e zinco e de lá trouxe para a sombra da mangueira frondosa do centro do quintal a esteira velha que fizera parte de xiguiane no dia do seu lobolo. Estendeu-a. Sentou-se. Esticou as pernas que estremeciam para dar mais transparência à velhice. Olhou para a chaleira grande em que fervia o chá tchambalakati na fogueira. Pensou na melhor maneira de servir às crianças. E chamou a mais velha. – Tchakazana! – Vovó! – respondeu ela tramada da brincadeira. – Ajuda-me a servir a refeição. Tchakazana dirigiu-se para dentro de casa.

A vovó continuava sentada na esteira. Pensava. Não conseguia pensar sem movimentos de boca, ou seja, pronunciava os seus pensamentos, em voz baixa claro – melhor seria deitar o açúcar na chaleira grande – pensava – pois, tenho tantas crianças e o açúcar é muito pouco. Não vai ser suficiente para servir nas xícaras. A vovó levantou-se da esteira. Não foi nada fácil. Precisou de se apoiar com os braços virando vezes sem conta para todos os lados de mãos postas no chão para descolar o seu traseiro da esteira que era tanto sua amiga. Foi para a fogueira com muita lentidão. Pôs uma quantidade razoável de açúcar na chaleira em que fervia o chá tchambalakati. Tchakazana lavava as xícaras feitas de alumínio. – Faça isso de pressa – disse a vovó para Tchakazana. Em contemplação aos movimentos da vovó e da Tchakazana, as crianças brincavam mais animadas e sorridentes.

Brincavam de olhos lançados aos gestos da vovó e da Tchakazana, esperando ansiosamente pelo convite para a refeição. Decerto, a primeira refeição do dia numa situação económica em que a segunda e última refeição só seria ao pôr-do-sol, isso se acontecesse algum milagre daquele de lá de cima. A vovó bateu as palmas e chamou em voz tremente mas alta: – Filhinhos! – Vovó! – responderam em coro, pois estavam atentos. – Vão todos lavar as mãos e sentem-se na esteira. Todas as crianças foram em corrida para a bacia do banho que estava cheia de água. Lavaram as mãos e a água ficou com a cor de poeira. Dirigiramse à esteira. Sentaram-se. A esteira velha e grande tornou-se muito pequena de tal maneira que outras crianças tiveram de se sentar no chão. As crianças faziam muito barulho e era difícil calá-las.

Tchakazana organizava- as em grupos de três, a ordem de sempre. – Arranjem-se, dobrem as pernas – dizia Tchakazana. A vovó trouxe para cada grupo de três crianças um prato raso de alumínio com uma montanha de chima e uma coroa verde no topo, era matapa. A Tchakazana restava a tarefa de trazer para cada criança uma xícara de chá tchambalakati que fervia já açucarado ainda na chaleira. Escondendo no íntimo um sorriso de alívio, a vovó respirou fundo. – Ah! Consegui!

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