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Autárquicas 2013: Moatize, entre o progresso e o passado

Moatize transformou-se num canteiro de obras. A vila cresceu e o dinheiro circula como nunca. Um hotel de três estrelas, na entrada da autarquiamostra o caminho que aquela circunscrição pretende trilhar. As ruínas destoam para mostrar que o futuro terá de conviver com o passado.

É difícil imaginar que, há pouco menos de cinco anos, nem o mais optimista cidadão de Moatize sonhava que o comboio voltasse a apitar naquela vila mineira. A indústria hoteleira estava de rastos e uma dormida não custava mais do que 400 meticais. A agricultura constava do topo das prioridades de uma juventude sem grandes perspectivas de progresso.

O ensino não passava do básico e a cidade de Tete, a 22 quilómetros, era a meta de qualquer jovem que queria estudar para lá da 10ª classe. Hoje, quando o país ainda assimila o boom dos recursos minerais na agreste província de Tete, a vila de Moatize ainda luta para se urbanizar.

Do nada, e a expressão não é gratuita, aquela vila pacata transformou-se na terra prometida. Os jovens de Moatize procuram formação para mudarem de vida graças aos salários chorudos que as multinacionais pagam. No entanto, as melhores vagas são ocupadas por pessoas de outros canto do país e com melhor formação. Quando o sol se põe, surgem funcionários das multinacionais de carros com tracção às quatro rodas e ocupam os parcos lugares de lazer de que a vila dispõe.

As frequentes oscilações de corrente que faziam parte do dia-a-dia daquele circunscrição já não são um problema. Obras um pouco por todo o lado. As residências melhoram e os armazéns surgem ao longo da Estrada Nacional número 7. Vendedores informais chegam às quintas-feiras de comboio para vender tomate, milho, feijão, alface, couve, peixe pende, esteiras, etc. A imagem remete para um grande mercado a céu aberto. Esta é a história da incomparável orgia da sobrevivência de Moatize.

O som estridente dos berbequins e das brocas, as ensurdecedoras marteladas e o arrepio na montagem de grandes armazéns compõem a nova sinfonia que sufocou os habituais barulhos de Moatize. É comum ouvir residentes exultantes com a possibilidade de mais emprego.

Querem que Moatize tenha mais carvão e que surjam mais megaempreendimentos. Não se importam com o futuro. A vida de João Ernesto e Alberto Sabonete restringe-se a um canteiro de obras. Eles dormem num colchão sobre blocos de concreto e tapumes de madeira. De dia, os seus rostos parecem-se com os de funcionários de uma padaria. A poeira esconde a barba rala e malfeita e embranquece os cabelos negros.

Só à noite têm tempo para se limpar. Em breve, o lugar onde dormem vai dar lugar a um reluzente escritório com ar-condicionado que tanto faz falta nos verões escaldantes de Moatize. Para comer, a dupla tem um fogão elétrico. Nas redondezas, não há restaurantes, mercearias, supermercados ou farmácias. Tudo está em obras naquele espaço. Ambos estão felizes porque, graças ao trabalho, poderão construir um lugar para os filhos morarem no pobre distrito de Mutarara, a norte de Tete.

Efectivamente, a indústria hoteleira ainda é um embrião. Com excepção do Hotel Moatize pouca coisa foi feita para responder à demanda. Uma boa percentagem de funcionários das empresas que surgiram para alimentar as multinacionais passa o dia em Moatize, mas dorme na cidade de Tete.

Ainda assim, os preços dispararam e um quarto, cuja ocupação custava 400 meticais, mas nos dias que correm anda por volta dos 3000 meticais. A marcação de preços é feita de acordo com a capacidade de pagamento dos novos “ricos” de Moatize. Mas não foi só na indústria hoteleira cujos preços dispararam em flecha. Um cabrito de pequeno porte, por exemplo, custava 300 meticais. Actualmente, esse valor não chega sequer para adquirir duas galinhas.

 

Os desafios

Em 2008, um dos grandes desafios da autarquia prendia- -se com a optimização dos três sistemas unificados de abastecimento de água da vila. Hoje, a unificação é uma realidade e fontes municipais falam de 98 porcento de cobertura. No entanto, outros dados falam de uma cobertura acima de 50 porcento e nem todos têm acesso a água na própria residência. Há, diga-se, bairros onde a água ainda não é uma realidade para os residentes. A reabilitação de fontanários nos bairros periféricos avançou, mas continua aquém do desejado. Os dados do Ministério da Administração Estatal falam de 33 porcento de cobertura.

 

Saneamento do meio

A gestão dos resíduos sólidos continua ineficaz por uma concorrência de factores. Se, por um lado, os meios ao dispor da autarquia e a natureza dos assentamentos informais impedem uma remoção da produção de lixo urbana aceitável, por outro, a atitude dos munícipes em relação ao tratamento dos detritos que produzem nos seus quintais torna a recolha infrutífera. Efectivamente, o município conta com dois tractores e dois camiões para servir uma população estimada em 18 mil habitantes.

Moatize não dispõe de um aterro sanitário. O local onde o lixo produzido ia parar teve de ser fechado por causa da mineração. Na verdade, ao nível da vila e do distrito do mesmo nome não se pode depositar resíduos sólidos. Em quase todo o lugar há carvão. “Nos próximos tempos temos de fazer um aterro em concordância com os megaprojectos”.

Outro problema que a mineração trouxe é a dificuldade de encontrar um espaço para dar corpo a um novo cemitério. O que existia e que daria para cinquenta anos foi reprovado pelos ambientalistas. A desculpa é que o local é impróprio.

 

Edifícios

Diferentemente das grandes superfícies urbanas, 45porcento da população de Moatize tem casa própria. A percentagem de pessoas que alugam o espaço onde moram cresceu bastante com o boom dos recursos minerais. No entanto, ter casa própria não significa habitação de qualidade. 59.6 porcento das casas de Moatize têm paredes de caniço, tijolos ou estacadas rebocadas com adobe. 12 porcento dos edifícios apresentam tecto de laje ou betão. 84 porcento das residências dispõem de cobertura de chapa de zinco. No que diz respeito ao piso, a situação é bem melhor. 77.2 porcento dos lares têm um piso feito com material durável.

 

Desemprego

Em Moatize, pequenas empresas de construção especializam-se em contratar mão-de-obra rural e sem especialização para a indústria. Assim, têm emprego garantido. O crescimento vertiginoso tem atraído milhares de trabalhadores como Sabonete e Ernesto para a zona urbana.

Dos mais de 18 mil habitantes, estima-se que os imigrantes sejam metade. Uma massa tão grande de trabalhadores que barateia a oferta de mão-de-obra como poucas vezes ocorreu numa espaço geográfico onde nunca houve tanto emprego como nos dias que correm. Os números da autarquia, sempre optimistas e empolados, falam de 70 porcento dos jovens da vila com emprego fixo.

“Não contamos as pessoas que praticam negócio por conta própria e têm os seus empregados. Em Moatize o desemprego não é problema”, garante um funcionário do município. As receitas do município, de acordo com fontes da autarquia, deveriam ser maiores pela presença dos megaprojectos. Actualmente, as receitas próprias andam na ordem dos 28 milhões de meticais.

 

A questão ambiental

A Vila de Moatize situa-se no interior da província de Tete, próximo do rio Zambeze. Tem como limites físicos o rio Pande ou Thibo até a confluência do rio Revubue a norte; a convergência dos rios Revubue e Moatize até a estrada nacional número 103; rio Chichawa ao longo dos montes Marirangué até ao monte Nyankanga; Cordilheira dos montes Mandilama, Nyandiro e o curso do rio Tchingona até a sua nascente, no monte Thibo. A grande representatividade da população local pertence ao grupo etno-linguístico Nhungué havendo também Chicundas.

 

Contexto histórico

Moatize é uma vila cujo desenvolvimento foi baseado na indústria ferroviária e mineira. A extracção de carvão mineral começou em 1923, com a empresa Minere Geologique. Estudos realizados na década de 60 revelaram a existência de cerca de 200 milhões de toneladas de carvão mineral da mesma formação que a de Witbank, África do SuI. Além do carvão mineral existiam jazigos de algumas variedades de Ferro, o ilimite e a magnetite cujas quantidades eram suficientes para a construção de grandes indústrias siderúrgicas e metalúrgicas.

A existência da via-férrea Tete-Beira, facilitava o escoamento do carvão mineral de Moatize para o consumo interno da indústria ferro-portuária e para a exportação.

Em 1912 foi sede da Circunscrição de Maravia (Decreto Lei de 9 de Novembro de 1912 no BO 50/1912). A vila foi criada pela Portaria número 11930 do BO 13/1957 como Sede do Posto Administrativo de Matundo (Moatize). A 18 de Fevereiro de 1961 passa a designar-se Xavier (Portaria no 14766). Pelas Leis n° 6; e 7/78, de 22 de Abril a vila foi extinta e transformada em Conselho Executivo. Entretanto, a Lei no 7 de 25 de Abril restabelece a vila, e em 1997 foi elevada à categoria de município, por força da Lei nº 10/97.

 

Perfil económico

Moatize é uma vila cujo desenvolvimento teve como base a indústria ferroviária e mineira. A extracção de carvão mineral teve início nos finais de 1895, provavelmente no dia 28 de Maio de 1895, com a concessão à Companhia Hulheira da Zambézia do privilégio exclusivo de pesquisa e prospecção. Em 1923 a Zambeze Minering Devepolment Ltd, não vendo lucros imediatos, vendeu a sua exploração para um grupo Belga e formase a Societé Minéreet Geologique do Zambeze. No ano seguinte, esta companhia começa a explorar o carvão na vila. A exploração de carvão e outros minérios deu lugar à designação de Thumba, hoje Moatize.

 

Vila de Moatize em números

18 mil habitantes

10 quilómetros de vias de acesso terraplanadas

3 quilómetros de estrada asfaltados

4 vereações

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