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Autárquicas 2013: EN1, o paraíso e o inferno de Massinga

À primeira vista, Massinga parece mais uma de tantas vilas municipais serpenteadas pela EN1, com o desenvolvimento colado à pela da estrada que a dilacera pelo meio, vendedores informais nas duas faixas da via, e ausência de um rede de esgotos. 47089 habitantes lutam para ganhar a vida numa cidade onde perto de 9000 habitantes recebem tratamento anti-retroviral. Assim é Massinga, uma vila amaldiçoada e abençoada por uma via de acesso…

A história da Vila Municipal de Massinga pode ser contada de duas formas e curiosamente ambas envolvem a Estrada Nacional Número 1 (EN1). Ou melhor: Massinga não seria possível sem a EN1. A estrada que serpenteia o município pelo meio é, por um lado,o seio que alimenta e dá vida aos 47089 habitantes e, por outro, a mão que apunhala impiedosamente pelas costas a saúde da população local. Ou seja, a EN1 é uma inesgotável fonte de negócios para os residentes activos daquele pedaço de Moçambique.

O movimento invulgar de veículos para todos os pontos do território nacional e o comércio informal fazem circular muito dinheiro naquele espaço geográfico. Contudo, as notas arrastam, com elas, a prostituição, as drogas e o álcool. Portanto, no mesmo lugar onde o negócio floresce e as pessoas que amam o trabalho honesto prosperam, de noite a prostituição emerge e as amantes da vida fácil comercializam sexo e também ganham para o seu próprio sustento. Em suma,Massinga é supermercado e prostibulo; é banca e cama; é um lanho e um preservativo; é trabalho árduo e um corpo transformado em mercadoria.

Na verdade, nem todos prosperam. O exemplo claro reside na vida dura destes camponeses ao redor da vilaque não encontram a devida compensação no resultado da sua produção, não em consequência de fraca produtividade ou adversidades climatéricas, mas porque os preços pelos quais o mercado absorve a sua produção mal cobrem os custos do trabalho.

Portanto, actuam num ciclo produtivo ficcionado, cavam buracos para tapar buracos e vivem num défice financeiro que os chantageia para continuarem a trabalhar. A expectativa de dias melhores nunca passa disso. Lucro mesmo é um verbo que só pode ser conjugado no centro da vila onde os revendedores abusam da inocência dos viajantes. Mas estes, os camponeses, sobrevivem debaixo da cortina onde o comércio informal e a prostituição brilham em períodos diferentes.

Tanto quanto são atraentes para os vendedores ambulantes, as ruas de Massinga podem representar um castigo para os comerciantes que tentam manter negócios razoavelmente formais. “Aqui é complicado vender”, diz Ernesto Vilanculos, dono de uma loja de conveniência. “Os clientes terminam nas ruas e nós não ganhamos nada”. A maior fonte de receitas para a autarquia vem dos vendedores informais e, por essa ordem de financiamento, a edilidade faz vista grossa à concorrência desleal que faz perder o sono aos que tentam sobreviver dentro das comportas da formalidade.

No centro de Massinga, a história de Ernesto Vilanculos repete-se. Os residentes desta vila vivem de inventar formas de ganhar dinheiro. Muitos trabalham por conta própria numa cidade onde o emprego formal escasseia. Vagueiam pelas ruas à procura de novas oportunidades. E isso explica as incontáveis habitações precárias.

A agitação da EN1 atrai milhares de pessoas pela oportunidade de negócio, mas também cobra um preço alto. Aos 20 anos de idade, Aurélio Manhiça, há trêsa vender cocos nas ruas, está cansado. “Esse trabalho é pesado”, confessa. Com o nível básico, Manhiçaganha 1500 meticais por mês, mas trabalha nas ruas das 8 às 18 horas. Quando saiu de Funhalouro, distrito onde nasceu, acreditava que em Massinga poderia ganhar dinheiro para voltar à sua terra natal e abrir um negócio próprio. Debalde. O que ganha mal dá para comer,quanto mais para investir na sua independência financeira.

Ainda assim, Manhiça não se arrepende pelo passo que deu e já pensa em rumar para Maputo. Curiosamente, a crença que o levou de Funhalouro para a sua actual residência é a mesma que o impele a sair de Massinga para a capital do país.

 

Rainhas da noite

Quando o sol se afasta e dá lugar à lua, Manhiça recolhe para a sua casa de caniço e cobertura de chapas de zinco, eas ruas do Município de Massinga, no coração de Inhambane, ficam inundadas de caras desconhecidas de raparigas que saíram há pouco tempo da puberdade. Na Estrada Nacional número um (EN1), as ‘mulheres’ que vagueiam entre os autocarros estacionados têm o rosto nu, familiar aos muitos camionistas que pernoitam no local. Três raparigas convidadas pelo @Verdade são a voz da prostituição na EN1. Preferem deitar-se com os camionistas “porque não demoram e pagam o que pedimos”.

Luísa*, a mais velha do grupo, tem 32 anos de idade e passou mais de metade da vida a prostituir-se. Quando começou ninguém pensava que Massinga poderia ser um município. As palavras saem cruas, sem receio, a não ser do incerto de uma vida feita de becos e de quartos improvisados nos camiões de longo curso. Veio quando criança do interior do distrito do mesmo nome. Luísa sabe que, aos 32 anos, está à beira da reforma. É que “a carne não dura sempre e os clientes querem raparigas cada vez mais jovens”.

Gracinda* tem 28 anos de idade, perdeu os pais na guerra dos 16 anos e veio para Massinga viver com uma tia. Explica que as condições precárias levaram-na ao mundo da prostituição. Já esteve presa. Não gosta do que faz e queria arranjar um emprego “normal”, mas confessaque não tem “outro modo de vida”. A família sabe o que faz e, apesar de a tia ter sofrido muito no início, “acabou por se conformar”.

Ao contrário de outras profissionais do sexo com quem @Verdade falou, Luísa diz que nunca pratica relações sexuais sem a utilização de preservativo (já recebeu propostas para o fazer). Apesar de o seu uso ser uma questão que as incomoda, Gracinda tem uma opinião diferente de Luísa. “Às vezes uso, mas outras vezes não”, refere Gracinda ao mesmo tempo que acrescenta: “Também podemos ficar doentes com o preservativo e lembrem-se de que a ocasião faz o ladrão. Na verdade, nesta profissão, estamos nas mãos de Deus.”

 

A construção civil também dá dinheiro

Com 47089 habitantes e uma população que fala basicamente Xitswa, por cada 10 crianças ou anciãos existem 13 pessoas em idade activa. Uma percentagem insignificante de residentes da vila encontra sustento na construção civil, um área de mercado em franco crescimento. A explicação é simples e parte significativa do dinheiro investido nesse ramo vem da vizinha África do Sul.

No passado, residentes de Massinga que atravessam a fronteira para trabalhar nas minas enviavam bens para a família. Hoje a realidade é outra. Alguns produtos são mais caros no país vizinho, tendo dado lugar ao dinheiro e a paisagem urbanística de Massinga ganhou outro rosto. Paradoxalmente, o negócio dos transportadores é que perdeu fulgor. Parte significativa das receitas derivava da cobrança pelo transporte de mercadorias.

Como Massinga não tem rede de esgoto, as casas e empresas, supostamente, deveriam ter fossas sépticas. Mas isso ocorre apenas numa pequena percentagem dos domicílios da vila. Por falta de estações descentralizadas de tratamento, a água potável percorre dezenas de quilómetros e só chega a um terço da população. A oferta de energia eléctrica precisa de ser multiplicada por cinco para abarcar a totalidade da população.

Boa parte das vias não é asfaltada. Na ausênciade um sistema de transporte semi-coletivo, o grosso dos passageiros é transportado por carinhas de caixa aberta. A instalação de um delegação da Universidade Pedagógica (UP) em 2006 resolveu, em parte, o problema do ensino superior.

Efectivamente, na escola secundária local 300 alunos concluem o 12a ano. A UP não absorve metade desse universo. A finalização da edificação de uma escola politécnica, acreditam fontes municipais, pode significar uma opção para parte desses alunos que, regra geral, engrossam as estatísticas de desemprego.

 

Acesso a energia

Em 2009, o número de quadros de fornecimento de energia era de 2936. A edilidade acreditava que em 2010, o total de consumidores fosse ultrapassar os 3000. Sucede, porém, que se registou uma redução para menos de 2400 consumidores. Só no ano a seguir, 2011, é que essa fasquia foi ultrapassada. Para além dos que existiam, foram instalados cerca de mil quadros. Havia, portanto, 3662 consumidores. Em 2012, o número continuou a crescer. Actualmente, Massinga conta com 5000 ligações e todos os dias são montados 50 quadros novos.

 

Habitação

O tipo de habitação predominante é a palhota com pavimento de terra batida, paredes de estacas ou caniço com cobertura de zinco, o que representa 77 porcento das casas de Massinga. As moradias de madeira e zinco, em termos estatísticos, significam quatro porcento. As de bloco e tijolo representam 19 porcento da habitação de Massinga.

 

História e cultura

A população fala basicamente Xitswa, meio de comunicação entre as populações de diferentes comunidades. Contudo, na vila podem ser encontrados pequenos núcleos falantes de outras línguas, fruto de migrações. As casas são basicamente feitas de pau, variando de zona para zona, mas, geralmente, a casa redonda constitui a preferência e numa residência poderão existir várias rondáveis conforme o número de filhos que o casal tiver.

Pelo então governador do distrito de Inhambane e através do ofício no 28 datado de 2 de Março, foi dado a conhecer que havia sido estabelecido o comando de Vilanculos e Muabsa. Entretanto, nas terras que compreendiam o então conselho, já existia em 1894 o Comando Militar de Massinga e estava feita a divisão militar do território, mas em Massinga não funcionava como unidade autónoma, visto que só por Diploma de 30 de Junho desse ano aparece pela primeira vez o Comando Militar de Massinga.

Em 1907, por Decreto com força de Lei de 23 de Maio, é extinto o então distrito de Gaza, passando algumas terras a pertencer a Inhambane. Desta data em diante ficou Massinga subordinada a este distrito, tanto civil como militarmente.

Por Decreto de 27 de Junho, foi extinto o comando Militar de Massinga e criada a circunscrição civil com sede na localidade do mesmo nome, ficando a área do comando militar, tendo mais tarde sido desdobrada em dois postos administrativos, o da sede e o de Nhambuica.

Através da Portaria no 25 de 10 de Fevereiro de 1916, classifica-se em 1a classe e reserva-se uma área de 3km de raio, destinado ao projecto de povoação de Massinga e seus subúrbios, indicando como centro da reserva o ponto de implantação no terreno do mastro da bandeira da sede da então circunscrição.

Após a independência nacional em 1975, as circunscrições passaram a estatuto de distritos e o distrito de Massinga estendeu-se territorialmente até Funhalouro. Em 1986 e com vista a tornar mais operacionais as estruturas administrativas, foram criados alguns distritos, como é o caso de Funhalouro, ficando, assim, Massinga reduzido territorialmente.

 

Município de Massinga em números

Vereações 4

Consumidores de energia 5000

Consumidores com água canalizada 2500

População com acesso a água 30 porcento

Habitantes 47089

Vias de acesso abertas 21.5 quilómetros

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