A história do gazense Alberto Xilaluque, que vive e trabalha em Maputo como plasticador de documentos há 35 anos, é um bom exemplo de quem tem força de vontade consegue vencer. Um história de vida que pode ensinar as novas gerações.
Ex-funcionário público e exempregado doméstico, Alberto Xilaluque enche o peito de ar para falar da actual profi ssão que exerce há 35 anos: “Eu sou plastifi cador. Assim sustento a minha família.” Contudo, para chegar onde hoje se encontra foi preciso coragem. Na verdade, tudo começou quando, ainda em plena guerra pela independência, a sua patroa, da qual já lhe fugiu o nome, decidiu regressar à então Metrópole, mais concretamente a Lisboa. Num português próprio de quem só estudou até à primeira classe colonial, Alberto Xilaluque conta que, por volta de 1972, tentou empregar-se como doméstico, em várias casas mas as suas tentativas revelaram-se infrutíferas. Goradas as espectativas de encontrar novo emprego, Xilalaque decidiu regressar ao Xai-Xai, terra que, em 1953, o viu nascer. Depois de bater a muitas portas, Alberto Xilaluque empregou-se fi nalmente no Arquivo de Identifi cação Civil da então João Belo, hoje Xai-Xai. Contudo, foi sol de pouca dura. “Só trabalhei dois anos.” Novamente desocupado, Xilaluque não se pôde dar ao luxo de cruzar os braços. Desde modo, e munido de meios rudimentares, decidiu instalar-se defronte do seu ex-serviço, o Arquivo de Identifi cação Civil de Xai-Xai, onde permaneceu até 2000.
De Xai-Xai para Maputo
Vítima das cheias de 2000 que submergiram totalmente a parte baixa da cidade de Xai-Xai, Alberto Xilaluque refugiou-se no bairro Maxaquene, em Maputo.
Agora a idade avançada não lhe deixava alternativa senão o emprego por conta própria. Repetindo a proeza do Xai-Xai, rearmou-se da de coragem e os instrumentos rudimentares indispensáveis e instalouse diante da Segunda Conservatória Notarial de Maputo. “Tem que se ter muita coragem para se dar início a qualquer tipo de actividade”, refere num tom satisfeito.
A idade de Alberto Xilaluque contrasta largamente com a supreendente energia e prontidão com que lida com os seus clientes. O trabalho é contínuo e as encomendas sucedem-se. Bilhetes de Identidade, passaportes, certifi cados e os mais diversos cartões chovem autenticamente na sua modesta mesa. Pelo serviço cobra 10, 20, 30 meticais respectivamente. Alberto Xilaluque não revela o apuro diário, mas observámos que não recebe menos de dez clientes por hora. Contudo lá vai adiantando: “Consigo sustentar a família sem problemas.” Alberto mora com a esposa em Maputo. Os cinco fi lhos, todos de boa saúde, estudam no Xai-Xai. Mas, mais do que coragem, montar um negócio exige dinheiro, por muito pouco que ele seja.
Sem conhecimentos nem garantias para recorrer ao crédito bancário, Xilaluque passou humilhações quando, sem sucesso, pediu um empréstimo a quem pensava ser seu amigo. Com o NÃO garantido, juntou quinhentos meticais e adquiriu um novo equipamento, constituído por uma pequena mesa, lâminas, facas e rolos de plástico.
Restaurou latas da lixeira que servem de esquentador e passou de desempregado a patrão de si próprio. “Arrisquei e ganhei!”, conta, sorridente. Outro ingrediente para o sucesso foi, segundo ele, o facto de ter descoberto um nicho de mercado pouco explorado.“Vocês jovens têm vergonha de se sentarem aqui e fazer isto”, censura. “Ninguém pode pensar tornar-se empresário achando que vai fi car sentado no escritório, tranquilo, no ar condicionado.” E conclui: “É preciso muito trabalho, muito suor, muita dedicação, acreditar sempre em si e gostar daquilo que se faz.”