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Ele é tão bonita

Ele é tão bonita

Faz virar cabeças onde quer que vá. Alta, magra, olhos verdes e longo cabelo loiro. Uma mulher encantadora. Só que um dos modelos mais cobiçados do momento é, afinal, um homem. Eis Andrej Pejic, o verdadeiro andrógino.

É a apresentação da colecção de alta-costura Primavera/Verão 2011 de Jean Paul Gaultier. Paris, uma das capitais da moda, é o palco para a celebração dos 30 anos de carreira do criador francês, que volta a impressionar e a surpreender os inúmeros convidados presentes.

A colecção punk-cancan apresentada mistura o ambiente roqueiro inglês e a boémia parisiense. O último figurino é o habitual vestido de noiva. O manequim entra na sala ao som de ‘Casta Diva’.

Magra, elegante, sensual e provocadora, seduz a plateia, que aplaude com entusiasmo e fervor o seu desfile. Só que, afinal, ela é ele. Chama-se Andrej Pejic, tem 19 anos e, apesar de ser homem, é a nova it girl nos desfiles de moda feminina.

A oferta de modelos femininos é ampla e variada. Bonitas, sensuais e elegantes, esforçam-se por manter as invejáveis medidas 86-60-86, mas os gurus da moda rendem-se aos encantos de André Pejic.

“Em tempo de crise, sou um bom negócio: um dois em um!”, esclarece o modelo numa entrevista recente, sem qualquer pudor ou preconceito. O jovem tem sabido, melhor do que ninguém, tirar partido da sua condição de homem/ mulher.

Com tantas raparigas esbeltas, porquê escolher então um homem para apresentar colecções femininas? Talvez faça parte de uma estratégia dos criadores, enquanto marcas de moda, para sobressaírem numa cultura onde quase tudo é permitido. Este é um campo de batalha onde vence quem consegue gerar mais polémica.

Para Filipe Faísca, “a apresentação de uma colecção é um momento de espectáculo que deve ser capaz de questionar o aceitável. A moda é um meio de comunicação onde a criatividade ensaia o diferente e o provocador”, explica o designer português, e Pejic oscila entre um género e o outro, é camaleónico. Sedutor. Controverso. Intrigante. Exerce o fascínio de ser difícil de enquadrar num estereótipo.

É o regresso da tendência da androginia nas passerelles. O fenómeno é cíclico. Viveu-se na Grécia antiga, nas representações teatrais. E, neste século, t a n t o nos anos 20 como nos anos 80 já fora explorada na moda.

“Num produto que se quer cada vez mais unissexo, faz sentido que procuremos manequins andróginos”, justifica Faísca, que se tivesse oportunidade não teria dúvidas em pôr Pejic a desfilar roupa de homem e de senhora. Para ele, a beleza não tem género. Prevalece a forma como os modelos dão vida às peças criadas.

“Sempre soube que seria um ser andrógino e isso nunca me incomodou”, diz Pejic com à-vontade acerca da sua identidade. Certo é que a sua feminilidade atrai o universo masculino.

Prova disso é que foi incluído no ranking das “100 mulheres mais sexy do mundo” eleitas pela “FHM” norte-americana. Foram os leitores, maioritariamente homens, que através de uma votação colocaram Pejic na 98ª posição da lista. A revista veio depois pedir desculpas pelo lapso e retirá-lo da votação.

A verdade é que ele é sobretudo requisitado para trabalhos femininos, até porque o seu lado masculino não encantará da mesma forma. O próprio é o primeiro a admitir a dificuldade que sente quando lhe é pedido que explore a sua masculinidade.

Ainda assim, não pretende, para já, optar por uma das arenas. A hipótese foi considerada pelo próprio, mas em tom de brincadeira, em entrevista ao “Daily Telegraph”: “Só mudaria de sexo se assinasse um contrato com a Vitoria’s Secret, mas neste momento estou bem como estou.”

Para Santinho Martins, sexólogo e antigo coordenador do Gabinete de Sexologia do Hospital Júlio de Matos, podemos “estar perante uma situação de rentabilização da imagem”. O especialista explica que este não é, aparentemente, um caso de transexualidade. Esta é uma disfunção que causa um sofrimento verdadeiro e uma necessidade permanente de alteração do sexo.

“Não creio que a identidade de género neste modelo esteja em causa.” Admite sim que possamos estar perante um caso de travestismo ou de uma pessoa que goste de excitar sexualmente outros homens, assumindo uma personagem feminina.

Descoberto no McDonald’s, Andrej Pejic começou por participar em produções de moda para grandes revistas, nomeadamente a “Vogue” de Itália. A estreia nas passerelles foi em 2010, marcando presença na semana da moda em Nova Iorque.

Mas foi no desfile de Jean-Paul Gaultier que se tornou o centro das atenções. Hoje é a nova star dos criadores de alta-costura. Alto, magro, de cintura estreita, olhos verdes, longos cabelos loiros, pele branca e traços delicados, Pejic afasta- -se, cada vez mais, da imagem do homem macho de outros tempos.

Do Mcdonald’s, onde estava empregado, para as grandes campanhas publicitárias, foi um ápice. Estava no sítio certo, à hora certa: em Melbourne, onde vivia desde os nove anos, apesar de ter nascido e crescido nos primeiros anos de vida em Tuzla, na Bósnia-Herzegovina. O director de uma agência de modelos que por ali passou, Matthew Anderson, não ficou indiferente à ambiguidade e androginia do rapaz. Convenceu Pejica a passar pelo seu escritório.

Desde então, foi o eleito para a campanha de Mare Jacobs, participou nos anúncios da colecção Primavera/ Verão de Gaultier – ao lado de Karolina Kurkova, um dos modelos mais requisitados do momento – e foi a estrela de outras campanhas, como a de John Galliano, Raf Simons ou Paul Smith. Recentemente, encerrou o Fashion Rio, desfilando, com um look feminino e outro masculino, para a marca Auslander.

“A moda é o hoje e o amanhã”, disse o criador Paul Smith, também ele fã do modelo. Por mais quanto tempo os criadores vão cobiçar Andrej Pejic e esbater as fronteiras da sexualidade? Eis a questão.

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