Todas os dias alguns políticos tocam sinos a rebate, anunciando que o país está no bom caminho em todos sentidos e a cada relatório a montanha pare um minúsculo rato. Afinal, não estamos tão bem como apregoamos e nem sequer o “deixa-andar”, jargão amplamente difundido para mostrar que as coisas mudariam foi colocado de parte. Ninguém foi ao enterro de tão reles personagem, embora, já se disse, a sua morte foi dada como um dado adquirido. Era só uma questão de tempo.
Passaram alguns anos e a propalada morte do “deixa andar” não se consumou. O miserável, inimigo do povo e do seu desenvolvimento, dava mostras de uma saúde inabalável. Porém, o discurso oficioso negava lhe influência. Aliás, não podia ser verdade que ele existia se as pessoas estavam a violentar a pobreza. Só alguém com muita má fé é que poderia afirmar que tal personagem andava folgadamente nos corredores do poder.
Depois, essas coisas de afirmarmos assim sem nenhum estudo especializado de que a pobreza ganhou corpo é uma falácia desmedida. Só que o tempo, dono e senhor da razão, através do Instituto Nacional de Estatística, sem querer, avançou números que indicavam que o infeliz só poderia estar vivo e a fazer das suas. Porém, vozes exaltadas disseram que não era bem assim, o fulano já tinha sido extirpado do convívio dos sãos.
Mais tarde, juntaram-se outras vozes dando razão ao que o INE concluiu e o Governo apressadamente tratou de desqualificar. Os documentos avolumam-se o que nos leva a crer que o vírus passou ao estágio de doença. E já deve estar em fase terminal por este andar de carruagem.
Todos esses documentos não podem estar redundantemente equivocados. Nem todos podem caber no infeliz rótulo: “apóstolos da desgraça”.
É impossível que todo mundo que levante a voz contra o actual estágio seja mesquinho ao ponto de pretender, como se diz, minimizar os grandes feitos do presente mandato. Alguém aqui anda a usar abusivamente da mentira deslavada. A vantagem, diga-se, é que ninguém tem o nariz como do Pinóquio.
E agora? Agora ficaremos à espera de novas notícias sobre o fi m da pobreza. Até que um dia, como na história de Pedro e o lobo, a coisa será a sério e ninguém acreditará.
PS: Há anos que se tenta tapar o sol com a peneira, mas a realidade, trazida através de diversos relatórios, sobrepõe-se a toda trapaça. Não obstante terse alcançado uma louvável estabilidade política, Moçambique continua um país extremamente empobrecido, vulnerável e refém das armadilhas do FMI e do Banco Mundial, ou seja, dependente da famigerada “caridadezinha” internacional, baptizada de ajuda externa. Diante desta desgrenhada situação que o país atravessa, os dirigentes continuam a assobiar para o lado. De persianas fechadas nos seus escritórios climatizados, escamoteiam a realidade que se vai tornando cada vez mais obscena.