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Ka Tembe numa desgraça gratuita

Ka Tembe numa desgraça gratuita

O administrador marítimo de Maputo, Paulo Charifo disse que com a queda do pontão na ponte-cais do lado da Ka Tembe, o transporte de passageiros está a ser processado de forma condicionada e o ferry-boat não está a fazer o carregamento de viaturas devido à queda do pontão que servia também para suster os autocarros.

Actualmente funcionam duas embarcações, nomeadamente, Bagamoyo e Nhelety, e esta foi chamada em substituição do ferry apelidado por Mfumo, uma grande embarcação que juntamente com o Bagamoyo tem facilitado o transporte de passageiros e cargas, sobretudo viaturas que diariamente são transportadas de e para os dois lados da baía.

Na ponte-cais onde se registou o acidente na noite do último domingo, neste momento está a fazer-se um estudo pelos mergulhadores e especialistas marítimos sul-africanos para ver qual a hipótese de se recolocar provisoriamente o pontão afundado, enquanto, se aguarda pela aquisição de dois pontões pelo governo moçambicano.

Para não impedir a circulação de pessoas no sentido Maputo/ Catembe e vice-versa, as autoridades marítimas fazem a atracagem das embarcações ao lado de uma rampa metálica que remonta ao tempo colonial. Da ponte-cais para aquele local improvisado são cerca de dois quilómetros e as pessoas são “obrigadas” a fazer o percurso por falta de transportes que, nesta situação de emergência, podiam operar no local. Na rampa metálica as condições deixam muito a desejar. As pessoas ávidas em apanhar as embarcações disputam um ínfimo espaço para o efeito, aliás, trata-se de um sítio que não tem barreiras laterais de protecção para evitar a queda de pessoas para o interior do mar.

É devido a estes e outros factores como a não capacidade da rampa suster viaturas, que estas estão impedidas de atravessar a baía tanto de um como para outro lado. Portanto, os automobilistas só podem cruzar as duas partes do sul do país, de forma alternativa, recorrendo a via de Boane, o que torna a viagem mais longa e demorada.

Se dantes se fazia o percurso em 20 minutos, agora precisa- -se de pouco menos de duas horas para chegar a Ka Tembe ou de lá para Maputo. O embarque e desembarque dos passageiros são feitos mediante uma escada colocada entre o ferry-boat e a rampa de atracagem. O processo torna-se mais moroso porque tem que ser um de cada vez a subir as escadas.

Falta de iluminação dificulta trabalho

O administrador disse que devido à falta de iluminação no local de atracagem improvisado, as embarcações verificam uma ligeira restrição do período de trabalho, sendo das 5 às 20 horas, portanto menos três do habitual. Segundo acrescenta, a segurança no local está reforçada, não havendo riscos de afogamentos por parte das pessoas que pretendem fazer o desembarque ou embarque.

Para Paulo Charifo esta é uma melhor alternativa para o transporte dos passageiros que teriam que fazer o trajecto usando a via de Boane, tal como acontece com as viaturas que não podem ser transportadas pelo Ferry-Boat.

“Neste momento existe uma equipa de especialistas marítimos sul-africanos que estão fazer um estudo com vista a ver até que ponto se pode reflutuar o pontão para retomar a normalidade, embora seja uma medida provisória enquanto se espera pela aquisição dos pontões”, ajunta.

Os mergulhadores e fiscais marítimos ouvidos pela nossa reportagem foram unânimes em afirmar que o afogamento do pontão do lado da Ka Tembe, foi devido à falta de manutenção.

Desde que o mesmo foi montado no período colonial ainda não foi substituído ou pelo menos reparado, mesmo para os cidadãos desatentos, a degradação do pontão é o que mais sobressai aos olhos.

No entanto, o pontão do lado da baixa da cidade, foi substituído o ano passado, pois encontrava- se nas mesmas condições que o outro, não se sabendo porque razão se substituiu apenas um e não o outro, com os perigos que isso representa tanto para as pessoas como para as viaturas que por ali passam.

Na ponte-cais do lado de Maputo, não obstante se tenha substituído o pontão, o que agora representa um grande perigo é a passadeira de corrimão, um passeio de madeira feito especialmente para a travessia de viaturas de e para o ferry-boat, mas por onde as pessoas também passam. A degradação é visível, os buracos já começam a ganhar espaço ao mesmo tempo que a madeira vai-se desgastando, o que anuncia uma iminente catástrofe.

O administrador marítimo da Transmarítima reconhece o perigo que a situação representa, sobretudo para as pessoas que por ali passam, mas promete que nos próximos tempos o problema vai ser resolvido antes que se degenere em desgraças.

População votada ao sofrimento por negligência

Como sempre acontece neste país, a pacata população é que paga pelas irresponsabilidades, incompetências, espírito de deixa-andar e negligência dos governantes.

Será que o governo nunca tinha visto que a ponte-cais da Ka Tembe clamava pela manutenção ou substituição, já há largos anos, desde que foi colocada no tempo colonial? Diariamente recebe pesos de viaturas de pequenas e grandes tonelagens, inclusive as desses supostos dirigentes deste país que vão engordando as suas barrigas a custo do dinheiro do erário público para o qual pouco ou nada se faz. Há meses uma delegação composta por deputados e ministros, entre outros dirigentes, visitou o distrito da Ka Tembe. Eles e as suas viaturas foram transportados pelo ferry-boat e desembarcaram no pontão que já há muito clama por uma substituição ou pelo menos manutenção. Não tiveram olhos para aferir o perigo que a situação representa para os cidadãos que diariamente fazem aquela travessia.

Agora a desgraça pariu e a população a ela está votada, são tantos moçambicanos, turistas nacionais e estrangeiros que, desde a noite do último domingo 13 que o acidente se registou, estão impedidos de fazer as suas viagens normalmente.

Levam mais tempo a espera do ferry-boat Bagamoyo, o único de grande calado que está a operar neste momento, pois o outro, ainda maior e baptizado por Mpfumo, não está a circular devido a sua incompatibilidade com a rampa de atracagem improvisada. Em sua substituição está a embarcação Nhelety que normalmente faz a viagem Maputo/Inhaca. Para além destas existem as pequenas embarcações Mapapai que operam com dificuldades, pois não se fazem ao mar enquanto houver marés altas ou outras intempéries.

Candidatos aos exames prejudicados

Natércia Zandamela reside no bairro Xa missava, distrito da Ka Tembe, frequenta a 10ª classe numa escola algures na cidade de Maputo. Nesta segunda- feira admirou-se quando chegou a ponte-cais e viu o pontão fora do lugar habitual, flutuando de um lado para o outro. As embarcações pararam de atracar e quase todos os que não tiveram a informação do incidente da noite de domingo ficaram admirados, pois não sabiam na verdade como fazer a travessia.

“Eu tinha de ir terminar os exames, a hora de entrada era 8, mas cheguei atrasada, uma hora depois do início e não aceitaram que eu entrasse na sala de exames”, comenta para depois acrescentar que quando ela tentou justificar os motivos do atraso, os professores não quiseram ouví-la e, consequentemente, ficou de fora, “só posso fazer a segunda época, estava preparada para fazer o exame, mas não consegui. Só fiz o segundo exame, com a cabeça concentrada no azar que tive naquele dia”, ajunta.

Para José Guambe comerciante na Ka Tembe,e que vende no mercado próximo da ponte- -cais, o acidente de domingo, trouxe para si uma série de problemas para o desenvolvimento das suas actividades. “Compro os produtos na cidade de Maputo, e por ser em grandes quantidades transporto-os numa viatura, que pago para o efeito.

Agora não temos como fazer a travessia com a viatura, o ferry- -boat não está a transportar cargas pesadas”, conta para depois acrescentar que para usar a via de Boane, tem que pagar o triplo do que seria usado na via directa, ou seja, Maputo/Ka Tembe.

Dada a alta de custos de transporte, Guambe desistiu, pois não tinha dinheiro que o transportador estava a cobrar. O seu negócio está comprometido, os produtos acabaram e não tem como readquirí-los enquanto a situação da travessia prevalecer.

São tantos moçambicanos que saem prejudicados com a queda do pontão do outro lado da baía. Vasco Bambo normalmente faz a travessia com a sua viatura a bordo do ferry-boat, de manhã vem a cidade de Maputo e no período da tarde retorna à sua procedência, no bairro Chali, algures na Ka Tembe. Agora tem que fazer o mesmo trajecto, mas usando a via de Boane, “levo mais tempo a fazer a viagem, dantes eu saía às 7 para apanhar o ferry, mas agora saio às 5 horas, pois o percurso é penoso demais, deparo-me com o engarrafamento na zona da portagem e, consequentemente, chego tarde ao serviço”, comenta.

“Dentro de um mês o governo vai importar dois pontões”

O Conselho de Ministros apreciou também a informação que dá conta da queda do pontão da Ka Tembe, ocorrido último domingo 13, por volta das 19 horas. Foram colocadas bombas para reduzir a admissão da água no flutuador para evitar que o pontão se afundasse. Nesta segunda-feira pretendia- -se fazer o trabalho dos mergulhadores para se identificar a fuga, mas por causa do mau tempo que propiciou a subida da maré não se fez nada, sendo que só esta terça é que se começou com os trabalhos com o fim aparentemente sine die.

Alberto Nkutumula assegurou que o governo encomendou dois pontões, um para ser montado do lado da Ka Tembe onde se registou o acidente e outro para servir de reserva. Dada a queda do pontão, a travessia de passageiros é feita de forma condicionada, usa-se uma rampa metálica para o embarque e desembarque de passageiros. Quanto ao transporte de viaturas, a situação não é menos preocupante pois os ferry-boats não carregam autocarros, devido à falta de pontão ou travessia de e para o ferry. Como alternativa, os proprietários de viaturas que desejam transportá-las do lado da Ka Tembe para Maputo ou vice-versa, têm que usar uma alternativa, entrar pela via de Boane.

No entanto, não foi revelada a origem e o custo dos referidos pontões que o governo vai importar. Mas, o porta-voz disse que dentro de um mês as encomendas já estarão em solo moçambicano para a sua posterior colocação na ponte-cais.

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