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Economia do Egito enfrenta caminho tortuoso

O Conselho Militar do Egito enfrenta um grande desafio para estabilizar a economia, depois de 18 dias de protestos que podem reduzir o crescimento do país pela metade este ano. Em curto prazo, analistas esperam que aconteça uma transição ordenada para a democracia e que isso pode parar a evasão de capital que chegou até a 1 bilhão de dólares por dia no auge dos protestos.

Muitos investidores também estão otimistas em relação às mudanças mais amplas para os negócios e políticas que podem surgir sob um governo livremente eleito, mas há pouca perspectiva de uma mudança no curto prazo. “Tratando-se da economia, o Egito tem sido gerido pelos mesmos tecnocratas nos últimos trinta anos”, disse Tim Ash, diretor de pesquisa sobre pesquisa de mercados emergentes do Royal Bank of Scotland. “Não acho que veremos muita mudança.” “A elite governante ainda está por aí. Sua política real é a de não mudar nada, até setembro”, disse ele.

A economia do Egito movimentou 217 bilhões de dólares em 2010, metade da economia do gigante do petróleo, a Arábia Saudita. O país é dependente de investimentos estrangeiros, turismo e impostos do Canal de Suez. Um mês antes dos protestos começarem, em 25 de janeiro, analistas consultados pela Reuters, esperavam um crescimento de 5,4 por cento para o ano fiscal que termina em junho, o segundo maior na região do Golfo Árabe, perdendo apenas para o Catar.

O governo havia previsto um crescimento de 6 por cento. Mas, enquanto os bancos e algumas lojas estão reabrindo, os turistas, que respondem por entre 5 e 11 por cento da economia, ainda estão evitando o destino turístico consagrado, fazendo com que as previsões de crescimento pareçam otimistas. Said Hirsch, um economista especialista em Oriente Médio da Capital Economics disse que a prioridade seria trazer a sociedade de volta à normalidade e permitir que as pessoas voltem a trabalhar. “O papel dos militares será o de estabilizar a situação econômica”, disse ele.

MERCADO NERVOSO

No sábado, as autoridades adiaram a abertura do mercado de ações, pela segunda vez, de domingo para a próxima quarta-feira, e a libra egípcia teve que ser regulada por uma intervenção do banco central, na semana passada. No auge dos distúrbios, alguns analistas especularam que o banco teria que fazer um aumento emergencial das taxas de juros para ajudar a libra.

O otimismo em relação à saída de Hosni Mubarak, que ajudou mercados emergentes em todo o mundo, torna essa medida menos provável, mas a fraqueza da moeda também aumenta a probabilidade de uma inflação mais elevada e para um eventual aumento das taxas.

As agências reguladoras também rebaixaram o status do Egito em um ponto, à medida que os protestos se intensificavam, citando um possível dano às já fracas finanças do Estado. “Acreditamos que o banco central vai aumentar as taxas em 100 pontos de base, numa reunião emergencial esse mês, já que é provável que a inflação suba por causa da libra mais fraca”, disse Dina Ahmad, estrategista de CEEMEA da BNP Paribas.

A baixa no consumo privado, que é responsável por cerca de 70 por cento do PIB, a queda dos investimentos estrangeiros e o aumento do desemprego também devem afetar o desempenho econômico. Embora a promessa de Mubarak de dar um aumento salarial de dois dígitos para os trabalhadores do setor público, deva ser descartada, é provável que o governo de transição mantenha os gastos.

Juros mais baixos, subsídios mais altos e pressões para dar mais dinheiro aos desempregados também podem prejudicar a saúde fiscal do importador de petróleo bruto, com uma falha orçamentária que deve chegar aos 10 por cento do PIB este ano, de acordo com a BNP Paribas. “Primeiro temos que voltar à normalidade”, disse Lars Christensen, analista sênior para mercado emergentes do Danske Bank. “Depois, acho que a recuperação poderá ser relativamente rápida.”

INFLAÇãO X GASTOS

Em longo prazo, a perspectiva é mais nebulosa. Se a economia piora, qualquer instabilidade social resultante disso, pode se tornar uma preocupação mais grave e, para evitar isso, o Egito pode vir a receber um incremento de ajuda externa. “Acho que é o caso dos Estados Unidos e dos países do Golfo levarem mais ajuda para o Egito”, disse Hirsch. “Muito dinheiro pode vir do Golfo.”

Governantes do Golfo Árabe, assim como os EUA, vêem o Egito como um importante aliado para deter a crescente influência do Irão na região, e vão querer manter o país economicamente estável e saudável. Entre os países do Golfo, Iêmen, Bahrein e Kuwait já ofereceram dinheiro ou descontos, de olho nas populações jovens e descontentes.

Além disso, a perspectiva de uma economia mais livre e transparente sob o novo regime, poderia atrair uma entrada substancial de investimentos, visando obter uma parcela na participação de mercado, no país de 80 milhões de habitantes. “Quando você tem menos do que, digamos, 10 por cento da população com contas em banco, existe um potencial de crescimento”, disse Karim Baghdady, diretor do banco de investimentos egípcio, Beltone, em Nova York. “Quando você tem uma economia paralela que é quase tão grande quanto o PIB oficial, você pode institucionalizar essa economia, então as pessoas vão começar a titularizar suas dividas, poderão ter mais empréstimos e comprar mais. Então pode haver um enorme efeito dominó.”

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