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Khupaya: É preciso saber ler, escrito por Cremildo Bahule

Para: Hélder F. Samo Gudo

“Em Moçambique não se lê”. Está é uma frase pejorativa para catalogar um país. Ela é verídica. Mas pode-se tronar falsa, se formos por uma outra atitude: ler as pessoas e as suas disposições e não, simplesmente, interpretar livros. A seguir, em forma de adendas, indico algumas pistas.

Adenda 1 Credencio que todos nós já ouvimos falar do “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Monteiro Lobato, com este livro, contribui para a formação da Escola Nova no Brasil. Da Literatura ao Cinema. Os livros didácticos em Moçambique podem ser publicados baseando-se em histórias de Mia Couto [Chuva Pasmada], Felizmina W. Velho [Mocho Comi!!!] e tantos outros escritores moçambicanos que produzem uma literatura infantil ou para jovens.

 

Os livros didácticos, que o Ministério da Educação desenha para os diversos currículos(as) do ensino em Moçambique, quando editados, podem ter como suplemento uma obra de um escritor moçambicano. Exemplo: o livro de Português da 8ª Classe quando editado pode ter como suplemento uma obra de Paulina Chiziane, Balada de Amor ao Vento; o livro de Português da 9ª Classe quando editado pode ter como suplemento o livro de Paulo Nhatumbo, A Minha Primeira Morte; o livro de Português da 10ª Classe quando editado pode ter como suplemento o livro poético de Noémia de Sousa, Sangue Negro; os livros de Português da 10ª e 11ª Classes, quando editados podem ter como suplemento os livros de Carlos Cardoso – Directo ao Assunto – e de José Craveirinha – Karingana Ua Karingana.

Com esta prática pedagógica e literária, vamos responder à frase muito propalada, de forma deprimente: “em Moçambique não se lê”. Eu acredito que Moçambique lê. O importante é saber levar a edição até ao nariz do potencial leitor. Moçambique está arrebatado de leituras. O importante é inundar o país de publicações e levar as mesmas publicações até à Escola e até ao ponto mais restrito – recôndito – do país – o distrito, para que este seja, realmente, o pólo de desenvolvimento, pois, mais do que combatermos a pobreza, devemos criar riqueza. [Raciocínio patriótico].

Adenda 2

Quando me refiro à importância da leitura ou da Literatura vinco a ideia de se ler a História da humanidade através de obras que reflectem o legado crítico e racional dos povos. Como forma de ler a História dos povos e da humanidade lembro, por exemplo, da 4ª edição do Dockanema que decorreu, em Maputo – Moçambique, entre 11 e 20 de Setembro de 2009. Esta edição, a 4ª, do Dockanema [Festival do Filme Documentário] leu a vida por meio de documentários. Dos vários documentários [filmes] que foram visualizados na tela, três chamaram a minha atenção e tocaram a minha alma, por reflectirem e fazerem uma leitura real dos povos.

Eis os documentários [filmes]: (i) Atrás do Arco-Íris [Jihan El Tahri, Egipto/ França/África do Sul, 2009, 138 minutos] que faz uma leitura do sistema político sul-africano; (ii) Plural – Timbila do Chopi Para o Mundo [Tenka Dara, Brasil/Moçambique, 2009, 60 minutos] que reflecte a conexão entre a língua e um instrumento musical (Timbila), do povo Chope; e (iii) Nubai: O Rap Negro de Lisboa [Octávio Raposo, Portugal, 2008, 60 minutos] que faz uma leitura da música Rap (subgénero da Cultura Hip-Hop) dos jovens negros africanos, emigrantes, em Lisboa.

Se os filmes reflectem a grandeza dos povos é hora, com honra, de os cineastas moçambicanos, começarem a produzir filmes que reflectem a realidade social, cultural e política de Moçambique. Os cineastas podem inspirarse em livros dos vários escritores que Moçambique tem: Orlando Mendes, Rui Knopfli, José Craveirinha, Noémia de Sousa, Paulina Chiziane, Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa, João Paulo Borges Coelho.


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