Para: Hélder F. Samo Gudo
Adenda 3: À Guisa de Conclusão
“Em Moçambique não se lê”. Esta é uma das frases mais dissecadoras para ridicularizar um adolescente, um jovem ou um adulto quando os seus argumentos são débeis. Mas, o mais caricato é que esta frase não só chacoteia as pessoas frágeis de argumentos ou fracas em cultura geral. A mesma frase ridiculariza o país.
Dizer “em Moçambique não se lê”, significa enunciar que uma Nação inteira não está a saber interpretar os vários sinais que estão à sua volta. Significa dizer que somos fracos nos nossos argumentos, daí enveredarmos por atitudes fúteis. Não basta pronunciar palavras é preciso viver as palavras. Pronunciar palavras como “diálogo”, “liberdade” e “paz” com os punhos cerrados e com o coração lacrado é não saber ler o conteúdo das mesmas.
A frase “em Moçambique não se lê” até pode ser verdadeira, mas ela é dura quando não sabemos ler, por exemplo, a palavra “Paz”. Ela torna-se mais verdadeira quando não conseguimos ler os símbolos que nós inventamos para nos comunicar. Quero acreditar que esta frase um dia não se pronunciará mais. Sonho com a morte desta frase. Tenho de aceitar que a partir de amanhã se vai realizar o meu sonho. Vai ser duro matar esta frase, mas temos (como Nação) de acreditar e criar formas de matar esta frase. Formas de matar esta frase conhecemos convenientemente.
Com uma leitura profunda que eu quero e desejo para a minha Nação vamos tornar-nos sujeitos históricos interactivos. Ao lermos correctamente seremos sujeitos que criam significações, elaboram conceitos, ideias, juízos, valores. A Nação estará dotada de capacidade de se conhecer a si mesma no acto de erudição, sabendo de si e sabendo sobre o mundo. Ao sabermos ler vamos apropriar-nos das palavras que queremos que se tornem realidade.
Termino o meu desassossego com um apelo: devemos trocar a frase “em Moçambique não se lê” com a seguinte frase: “Moçambique sabe ler”. Devemos libertar-nos das atitudes negativistas e apostar em posturas apuras. Dizer “Moçambique sabe ler” significa, fazer um exercício para decifrar as várias alegorias que nos aparecem pela frente. Significa sermos construtores de algo maior que os livros que preleccionamos nas academias.
P.S.: Será que estamos a conseguir ler os últimos acontecimentos do nosso país? Se não lermos com olhos centilantes os acontecimentos que nos rodeiam não saberemnos ver o caminho que nos espera. Paz.
por Cremildo Bahule