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“É muito difícil e caro ser treinador em Moçambique”

A equipa do @Verdade entrevistou na mesma ocasião o treinador da equipa juvenil de George Dimitrov, João Cumbe. Apesar dos seus 29 anos de idade, foi jogador de futebol, tendo abandonado os campos muito cedo para abraçar a carreira de treinador. Ele, tal como muitos, não precisou – inicialmente – de formação específica de treinador para saber orientar uma equipa de futebol.

@Verdade – Com que idade e em que circunstâncias se tornou treinador de futebol?

João Cumbe – Aos 17 anos de idade. Tudo começou quando, devido ao facto de só poderem participar nos Jogos Escolares atletas com até 16 anos de idade, fui convidado por um professor da Escola Primária Completa de Infulene-Benfica para seu treinador-adjunto, visto que eu conhecia mais as equipas adversárias, podendo transmitir a minha experiência.

@V – Não acha que foi prematuro?

JC – As circunstâncias assim exigiram e o destino foi traçado. Achei interessante o papel de treinador e decidi investir nele. Eis-me aqui.

@V – E qual foi o percurso até chegar aqui?

JC – Depois de ter assumido as funções de treinador-adjunto daquela escola, fui chamado pelo Desportivo de Maputo para trabalhar num dos seus núcleos, pois o clube tinha várias equipas de iniciados espalhadas pelos bairros, tecnicamente designadas por núcleos. Assumi o comando do núcleo do bairro George Dimitrov.

Sem deixar de pertencer às fileiras do Desportivo, por ser um trabalho contínuo, o da formação de jogadores, decidi em 2004 abraçar o projecto juvenil do bairro, com vista a participar na edição daquele ano do torneio Bebec. De 2005 a 2007 orientei também a equipa da Escola Secundária Zedequias Manganhela nas provas da Copa Coca-Cola.

@V – Assumindo que não abandonou o Desportivo de Maputo, viu-se então obrigado a abdicar da equipa juvenil do bairro George Dimitrov para assumir o comando da equipa da Zedequias Manganhela?

JC – Não. As competições decorriam em intervalos intercalados e nunca no mesmo período. Pode parecer incrível, mas quando conhecemos as nossas capacidades tudo é possível. Até porque essas equipas só são treinadas para competir num torneio específico.

@V – Qual é a sensação de trabalhar com equipas juvenis?

JC – É um trabalho muito difícil. Requer muita paciência porque se trata do nível básico da formação de um jogador. Se um jogador for mal instruído nesta fase, ele fica condenado a ser um péssimo atleta para o resto da carreira. Tudo parte deste princípio.

@V – Já passou pela formação de treinadores?

JC – Sim, embora não tenha completado. Fiz até ao nível dois, como também participei em vários workshops e seminários de capacitação de treinadores de formação.

@V – E porque não volta à escola?

JC – É muito caro ser treinador de futebol neste país. Se no meu caso um clube ou alguém se solidarizar comigo, continuarei assim e a trabalhar nos moldes em que estou. Repare, na Academia Mário Esteves Coluna o nível mais baixo para a formação de um técnico de futebol custa 7.500 meticais, com duração de 15 dias.

E não falo somente de mim. Há muitos treinadores de formação neste país sem formação básica. Ademais, nós trabalhamos na base e fazemo-lo mais por amor à camisola do que necessariamente por dinheiro, que nem sequer recebemos.

@V – Com este cenário todo, pensa um dia em abandonar o futebol?

JC – Como disse, continuarei a trabalhar nos moldes em que estou. Mas se um dia surgir uma proposta melhor e que me obrigue a abandonar o futebol, não pensarei duas vezes. Neste momento não ganho nada. Trabalho apenas por amor à camisola. Por exemplo, regularmente, a cada ano, realizo torneios seniores de futebol aqui no bairro, como forma de ocupar os jovens e o que ganho com isso? Nada.

@V – Durante estes 12 anos em que é treinador, sobretudo dos escalões de formação, qual é o jogador que se encontra no futebol federado e que tenha passado pelas suas mãos?

JC – Ao longo do meu percurso trabalhei com muitos miúdos que hoje são craques do futebol moçambicano. Posso destacar o Telinho que na temporada passada representou a Liga Muçulmana e foi bicampeão nacional; O Dércio Matine do Desportivo de Maputo e o Arsénio, que neste momento milita na equipa júnior dos alvinegros.

@V – Que momentos de sucesso guarda na memória?

JC – Finalista vencido do Bebec em 2012 depois de ser campeão em 2007; em 2011 vencedor dos torneios de abertura do Campeonato da Cidade de Maputo de juvenis e o “africanito” entre bairros.

@V – Fonte de inspiração?

JC – Calton Banze, uma individualidade que sempre me incentivou a trabalhar na descoberta e formação de novos talentos.

Os pequenos craques

Stélio Banze, 12 anos

É o capitão da equipa juvenil do bairro George Dimitrov. Dentro das quatro linhas cumpre o papel de ala-direito. Deu os primeiros toques na bola nesta equipa nos princípios de 2012. Alimenta o desejo de chegar ao futebol federado pela porta do Grupo Desportivo de Maputo.

A sua fonte de inspiração é o jogador Zainadine Júnior e o seu grande sonho transcende o seu tamanho: jogar no Barcelona. Conta com um forte apoio moral do seu pai, quem o incentiva a jogar futebol sem limites.

Dércio Crisostomo, 12 anos

Começou a jogar futebol em 2010, no bairro de Magoanine. Chegou ao George Dimitrov no ano passado, depois de ter sido observado a jogar futebol com amigos na sua zona. A sua posição no campo é de ponta de lança.

O seu sonho não passa pelo futebol moçambicano por achar que não é evoluído, embora seja adepto do Desportivo do Maputo. Dércio quer saltar um estágio para chegar ao futebol europeu. A sua fonte de inspiração é o colombiano do Atlético de Madrid, Falcão.

Tomás Arrone, 12 anos

Foi em 2008 que este jovem promessa começou a dar os primeiros toques na bola. Um ano depois foi chamado a fim de integrar a equipa do bairro e, em 2012, apesar de não ter sido utilizado, fez parte da equipa que se sagrou vice-campeã do Bebec.

O seu sonho é brilhar com a camisola do Costa do Sol, por ser, segundo ele, uma boa equipa, popular e, acima de tudo, que apresenta um futebol de qualidade. Admira o ponta de lança Tó que na temporada passada envergou a camisola do Ferroviário de Maputo, vindo do Costa do Sol.

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