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Doar sangue é um acto supremo de humanidade

Doar sangue é um acto supremo de humanidade

Doar sangue será mais do que salvar uma vida. É um acto de valorização humana. Ultrapassa todas as sensibilidades materiais por ser uma acção suprema. Da mesma forma que é elevado tudo aquilo que coloca acima de todas as coisas a vida. Ou seja, em todas as ocasiões é preciso repetir, mesmo sendo óbvio, que o sangue não pode faltar nos hospitais. E você é uma fonte fundamental para que este líquido precioso e imprescindível nunca falte nas unidades sanitárias. De si pode depender uma vida.

A sua solidariedade, manifestada na doação de sangue, pode recuperar o entusiasmo de um desconhecido que precisa de si. Do seu gesto. Porque, mais do que um facto, doar sangue é um gesto de amor para com o próximo. É pensando em tudo isto que dá sentido à própria vida que as instituições da saúde se têm desdobrado em acções de sensibilização, no sentido de, os que estando em condições de doar sangue, o façam para salvar aqueles que podem perder a vida por falta de sangue nos hospitais.

Como dizia Dora Loforte Pequenino, dadora regular desde 1994 “os cientistas ainda não criaram uma fábrica de sangue, por isso, a doação é a única forma de garantir a sua disponibilidade.” Dar sangue assume uma importância incalculável. Existem relatos inúmeros de pessoas acidentadas e outras, como as acometidas por lesões provenientes de queimaduras, e não só, que precisam de sangue. Para melhor elucidação, basta recordar que os bancos de sangue dos nossos hospitais trabalham sempre no limite, ou seja, nunca estão totalmente abastecidos para as necessidades diárias.

Se cada indivíduo saudável doasse sangue pelo menos duas vezes por ano, provavelmente não houvesse necessidade de campanhas constantes de emergência para colectas e reposição de stocks, principalmente nos períodos festivos, tais como o Natal e a passagem de ano para fazer face aos acidentes de viação causados por excessos, por exemplo. São 500 mililitros no máximo, que se dão em cada operação. E esta quantidade pode acender a esperança de voltar à vida de uma pessoa ou várias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o número de dadores por país deve estar entre 3,5 e 05 porcento da sua população. Entretanto, Moçambique está muito abaixo dessa meta, pois colecta-se, anualmente, cerca de 100 mil unidades, o que significa que menos de um porcento faz a doação de sangue.

Por diversas razões, no nosso país há muitas pessoas que precisam de sangue, mas, infelizmente, nem sempre está disponível nas unidades sanitárias porque os dadores são poucos. Algumas famílias que tiverem um parente que, por qualquer motivo precise de receber esse líquido vital, não encontram outras alternativas senão comprá-lo, muitas vezes com dinheiro que não têm. Mas o leitor pode mudar este cenário, dirigindo-se aos centros de doação ou às brigadas móveis criadas para o efeito. A doação de sangue é um acto solidário e de amor ao próximo. Mas, infelizmente, em muitos casos, torna-se um negócio, em desprezo do valor da vida dos outros.

Segundo o preceituado, pode-se dar sangue até quatro vezes por ano com intervalos de 60 dias no que diz respeito a homens e 90 dias no tocante a mulheres. E para tal é necessário que se esteja em boas condições de saúde, pesar no mínimo 50 quilos, estar-se descansado, ou seja, ter-se dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas. Não se pode estar a jejuar nem doente ou com febre, tão-pouco ter hepatite B ou C, malária, dentre outras doenças cuja lista é extensa. É preciso ainda estar-se devidamente alimentado e evitar-se comidas gordurosa nas quatro horas que antecedem a doação.

Fazem a transfusão de sangue mulheres com idades compreendidas entre 16 e 60 anos e homens entre 16 e 65 anos, bastando para o efeito ter uma hemoglobina igual ou superior a 2.5 hematócrito. Estes e outros procedimentos são infalivelmente observados pelos técnicos de transfusão nos centros criados para o efeito. Qualquer incompatibilidade detectada na triagem levará à rejeição temporária ou definitiva do doador para preservar a sua saúde.

Entretanto, para ser doador há alguns impedimentos temporários, tais como esperar até decorrerem 90 dias após um parto normal e 180 dias após uma cesariana. É igualmente desaconselhável doar sangue depois de ter ingerido alguma bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação, e 12 meses depois de uma tatuagem. Doar sangue é simples, rápido e não tem riscos. Os especialistas de saúde asseguram que depois da primeira transfusão o organismo compensa a quantidade doada com a mesma consistência de antes.

Doe sangue, mostre que é solidário

Um pouco por todo o país, as unidades sanitárias debatem- se com problemas relacionados com a insuficiência de reservas de sangue para salvar a vida dos pacientes que necessitam deste líquido vital. A falta é imputada à inexistência de espírito solidário, humanismo e do desconhecimento da importância de salvar vidas.

O primeiro vogal da Associação dos Doadores de Sangue de Moçambique, Artur Cherrime, apela para que a sociedade moçambicana esteja consciente de que doar sangue é mais que do que salvar vidas, é um acto de valorização do próximo. São poucas as pessoas que percebem isso porque o sector da saúde não incute nas pessoas o valor da transfusão do líquido vital. Segundo o entrevistado, a população deve deixar de ser egoísta. O sangue faz parte dos medicamentos essenciais para muitos doentes, tais como mulheres grávidas que dão à luz por via da cesariana, dentre outras cirurgias.

Para Artur Cherrime, o acto de doar sangue deve partir da comunidade, de casa, da escola, da igreja, porém, é necessário que se faça um trabalho nesse sentido. Urge incutir nos jovens, sobretudo, a importância de doar sangue em prol do outro e evitar as mortes originadas pela falta deste precioso líquido. “As pessoas podem salvar vidas sem exigir nenhum incentivo em troca, como acontece actualmente”.

O membro da Associação dos Doadores de Sangue de Moçambique explica ainda que, presentemente, os doadores variam de 30 a 50 por dia, um número muito aquém das necessidades dos utentes das unidades sanitárias, estimadas em 150 unidades.

Cherrime considera que não doar sangue quando se está em condições de fazê-lo é egoísmo. E a redução das quantidades desse líquido vital nos estabelecimentos hospitalares é um problema que tende a agravar-se, mas não existem medidas para contê-lo.

Os doadores na primeira pessoa

Sérgio Macheque, de 51 anos de idade, residente na cidade da Matola, é dador de sangue desde 1989. Volvidos 24 anos, o entrevistado estima que já realizou 60 doações. A primeira vez que ofereceu o líquido vital ficou deveras satisfeito porque serviu para uma família que estava a precisar dum que fosse compatível com o seu grupo sanguíneo.

A partir dessa altura, Sérgio Macheque percebeu que doar sangue é um acto incondicional de amor ao próximo e de cidadania, e, por essa via, estava a fazer a sua parte para colmatar a carência com que se debatem os hospitais. “Uma doação pode salvar cerca de quatro vidas humanas. Por isso, sempre que dou sangue estou a cumprir o meu dever de cidadão, a ajudar os que necessitam ou irão precisar”. Elton Jopela, de 23 anos de idade, residente no bairro do Alto Maé, na capital moçambicana, é doador desde 2011. A sua primeira vez foi marcada pelo medo e nervosismo, todavia, apesar de ter tido vontade de desistir, entendeu que o seu receio não podia vencer o espírito de solidariedade.

Desde esse momento, Elton enche-se de orgulho por estar a contribuir para o restabelecimento da saúde de quem precisa e sente-se “herói” quando imagina que o seu sangue assegura a vida de pessoas na sociedade. “É preciso que cada indivíduo saiba dar valor ao outro e cultivemos o amor ao próximo, independentemente da cor, raça, do sexo e da etnia”.

Dinis Langa, de 27 anos de idade, é morador do bairro do Infulene, no município da Matola. Ele é doador desde 2010 e considera que não é possível medir a importância de salvar a vida de alguém com recurso à transfusão de sangue. “A doação deve ser um acto voluntário. Não existe dinheiro que pague o sangue ou uma vida. Há necessidade de as pessoas serem mais altruístas e estarem em condições de auxiliar o próximo sem a intenção de ganhar algo em troca”.

Sangue colhido no Hospital Geral de Mavalane é insuficiente

O sangue colectado no Hospital Geral de Mavalane, um dos hospitais de referência em Maputo, não cobre as necessidades dos utentes, uma vez que só se doa 17 unidades por dia, contra mais de 19 necessárias.

O técnico de laboratório daquela unidade sanitária, Horácio Macandja, disse ao @Verdade que o facto deriva da falta de humanismo e da crise de valores que abalam a sociedade moçambicana. “Anualmente conseguimos colher cerca de 4.500 unidades de sangue, contra as 6.000 unidades necessárias para suprir a demanda”.

Para colmatar o défice do líquido vital seriam precisos 20 a 25 unidades diárias, o que está longe de acontecer porque as pessoas somente doam quando um familiar está doente, lamenta Macandja, para quem não há dúvidas de que as pessoas perderam o espírito humanitário e os dirigentes não estão a encontrar medidas para incentivar os jovens e adolescentes a doarem sangue. Há casos de cidadãos que até exigem recompensa para o efeito.

Sonho vira realidade em Sofala

Há dias, o Centro de Saúde da Missão de Mangunde, na província de Sofala, realizou a primeira transfusão de sangue desde que foi construído. E foi igualmente criado o primeiro banco de sangue na mesma unidade sanitária. Nunca houve transfusão em Mangunde e todos os casos de anemia grave eram transferidos para o Hospital Rural de Muxúnguè, que se localiza a cerca de 46 quilómetros daquele centro. O doador inicial chama-se Manuel. Segundo os dirigentes daquele hospital, o desafio é aliciar mais dadores de sangue e repositores para futuras transfusões.

Inhambane sensibiliza

Realizou-se, na última quinta- feira, na cidade de Inhambane, um encontro de sensibilização, cuja bandeira era “Qualidade e Humanização”. Para Dora Loforte Pequenino, dadora desde 1994, foi muito importante participar neste evento, “porque noutras realizações têm-se esquecido dos principais actores, que são os dadores. Desta vez fomos convidados para contarmos as nossas experiências”.

A nossa interlocutora queixa-se do facto de – como dadora – não ter vindo a merecer consideração nos hospitais fora de Inhambane. “Nós temos um cartão que nos identifica como dadoras de sangue e gozamos de alguns privilégios nas unidades sanitárias, como, por exemplo, a assistência médica e medicamentosa para nós e familiares directos, mas esse cartão não é valorizado quando estamos fora de Inhambane. Apresentámos essa questão e os responsáveis da saúde ficaram por analisar.” Dora apela aos seus compatriotas que estejam em condições de o fazer para que doem sangue, “porque é uma grande atitude, acima de tudo”.

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