Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Dívidas da TPM comprometem investimentos da autogás

A Autogás, uma empresa moçambicana vocacionada à venda de gás natural, afirma que a dívida da empresa municipal Transportes Públicos de Maputo (TPM) está a comprometer os seus investimentos.

Detida maioritariamente pelo sector privado, a Autogás é a empresa moçambicana que detém o monopólio para construir, operar e manter o sistema de gás natural comprimido para veículos, tendo começado as suas operações em 2008.

Das cerca de 700 viaturas que actualmente funcionam a gás natural em Moçambique, mais de 100 pertencem a empresa pública TPM, mas esta não tem conseguido pagar os custos de consumo de combustível.

“Efectivamente a dívida actual tem impacto significativo nas projecções na vida da Autogás e não só, porque temos outros fornecedores que dependem da Autogás”, disse o director-geral da empresa, João das Neves, sem avançar os montantes da dívida, que, segundo disse, está sendo tratada com o Município de Maputo, entidade responsável por aquela empresa pública de transportes.

Em entrevista a AIM, João das Neves disse que uma das implicações dessa dívida tem a ver com o facto de a Autogás não ter capacidade para realizar diversos investimentos, bem como para pagar os serviços prestados pela Matola Gás Company, empresa proprietária do pipeline que transporta o gás natural de Ressano Garcia, junto a fronteira com a África do Sul, até a cidade da Matola.

Esta falta de pagamento chegou a levar a Matola Gás Company a interromper o fornecimento de gás às bombas de combustível que funcionam junto a sede da TPM, na cidade de Maputo, o que obrigou a paralisação de mais de 100 viaturas daquela empresa durante alguns dias.

No total, a dívida da Autogás à Matola Gás Company supera meio milhão de dólares americanos. Outra implicação tem a ver com o atraso do projecto de aumento da capacidade da bomba instalada junto a TPM.

A Autogás pretende montar mais dois dispensários naquelas bombas de modo a permitir o aumento de mais quatro pontos de enchimento de viaturas. Segundo João das Neves, o equipamento está todo encomendado e pronto para se levantar, mas falta ainda disponibilidade financeira para o pagamento.

Está igualmente por importar um sistema de enchimento lento, que poderá permitir o abastecimento de vários autocarros dos TPM de noite, enquanto estiverem estacionados, o que pode reduzir as filas nas bombas e o tempo de espera para abastecer.

Além disso, a Autogás diz pretender adquirir um sistema de compressão que pode ser usado nas bombas da TPM em caso de avaria da unidade ora em utilização. Igualmente, esse equipamento ainda não foi importado por causa de limitações financeiras.

“Portanto, a dívida tem uma cadeia de implicações que pesa muito negativamente no crescimento deste negócio”, disse João das Neves. Mas o progresso lento do projecto de conversão de viaturas não pode ser imputado apenas a dívida da empresa pública TPM.

Desde o início das suas operações em 2008, a Autogás só converteu, até agora, aproximadamente 700 viaturas, num país onde o parque automóvel estima-se em mais de 300 mil viaturas.

Dentre os vários factores, a fraca adesão de pessoas ao negócio pode estar ligado aos elevados custos de conversão, sendo que em alguns casos, os valores cobrados chegam a ser iguais ao preço de uma viatura (segunda mão) no Japão ou em Durban, onde a maioria dos moçambicanos adquire os seus carros.

Recentemente, a empresa lançou uma promoção designada “contrato consumo mínimo”, que permite o cliente aderir à conversão sem ter de pagar os custos totais de uma vez. Mesmo assim, o valor pago na totalidade ao fim do contrato de 18 ou 24 meses é sempre acima do dobro daquilo que é cobrado.

Além disso, alguns moçambicanos estão apreensivos em aderir ao projecto pelo facto de existir apenas duas bombas de abastecimento de gás natural para viaturas, todas localizadas em Maputo (província e cidade), no sul do país.

Contudo, a Autogás faz um balanço do projecto e considera que o negócio continua a crescer. Há três meses, segundo a fonte, há descentralização dos serviços de conversão, sendo agora realizados por quatro empresas privadas localizadas na cidade de Maputo. Antes, era a própria Autogás a realizar estes serviços.

“Neste momento, estamos a converter acima de 50 unidades por mês nos quatro centros de conversão”, disse João das Neves, sublinhando que, mesmo com a descentralização do processo de conversão, a Autogás está a apoiar os centros de conversão a promover mais os seus serviços e a atrair mais clientes.

No próximo ano, a empresa pretende construir sete postos de abastecimento de gás ao longo da Estrada Nacional Número Um (EN1), um projecto inserido num plano de investimento de 240 milhões de dólares americanos para a construção de 200 bombas de combustível nos próximos 10 anos.

Além de ser ambientalmente limpo, o gás natural é barato e a sua utilização em massa nas viaturas pode reduzir as grandes importações de combustíveis fósseis.

O pouco gás actualmente usado em viaturas é proveniente de Temane, distrito de Inhassoro, numa área explorada pela multinacional sul-africana Sasol desde 2004. Contudo, Moçambique ainda não consegue consumir nem cinco por cento da sua quota de gás natural.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!