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Discriminação contra muçulmanos está a aumentar em toda a Europa

O que aconteceu na Suíça podia acontecer em qualquer país da Europa. A crise aumentou o medo e a segregação. Há semelhanças com a perseguição dos judeus nos anos 30 do século XX. O voto contra os minaretes na Suíça é só um sinal. Dos palcos políticos à Internet, por toda a Europa emergem manifestações de medo ou desconfiança em relação aos muçulmanos.

Há indicações de que a discriminação está a aumentar, dizem especialistas citados pelo jornal português “Público”. E um estudo inédito que será apresentado dia 15 em Londres, Muçulmanos na Europa – Um Relatório em 11 Cidades da União Europeia, aponta nesse sentido, recomendando a líderes locais, nacionais e europeus que contrariem a segregação nas escolas, na habitação, na política. O melhor caminho é a mistura. “Cidadãos ou migrantes, recém-chegados ou nativos, os muçulmanos são uma população variada e em crescimento que se apresenta à Europa como um dos seus maiores desafios”, lê-se nas conclusões.

Para este relatório, levado a cabo pelo Open Society Institute, foram entrevistados 2200 muçulmanos e não muçulmanos entre Janeiro de 2008 e Fevereiro 2009 em Amesterdão, Roterdão, Antuérpia, Berlim, Hamburgo, Copenhaga, Leicester, Waltham Forest- Londres, Marselha, Paris e Estocolmo. O resultado desmente três mitos. Primeiro, que os muçulmanos não se querem integrar. Segundo, que as necessidades dos muçulmanos são diferentes. Terceiro, que os muçulmanos não se envolvem na vida política e cívica. As percentagens dão uma realidade oposta (ver texto nas páginas seguintes).

Em síntese, as respostas apontam para “um aumento das experiências de discriminação”, diz Nazia Hussain, a directora do projecto. Também parece claro que a preocupação com muçulmanos e minorias étnicas em geral “aumentou nos últimos cinco anos, no público em geral, e nos media, o que conduz a estereótipos”. Como judeus nos anos 30? Se os mecanismos da democracia suíça se pudessem repetir noutro país europeu, “teríamos resultados semelhantes”, diz Martin Rose, director do projecto A Nossa Europa Comum, para a coexistência de muçulmanos e não muçulmanos na Europa, recentemente lançado pelo British Council. O referendo na Suíça foi “um sinal alarmante” de como “há um sentimento muito mais forte do que esperaríamos, um medo do outro”.

Rose diz que “preferia não usar a palavra islamofobia, mas é difícil encontrar outra”. Uma forma de racismo? “Aquilo a que antes chamámos racismo, mas em que a raça agora é substituída pela religião.” Além das frentes nacionais que há anos disputam o poder na Europa, os britânicos puseram no parlamento “os quase fascistas” do British National Party. E a bandeira anti-imigrantes, agora concentrada nos muçulmanos, alastra para o centro do campo político. “O problema existe em cada país europeu. Quando os tempos são maus, a competição por habitação social, desemprego e assistência é maior, há um “nós” e um “eles”, que agora se tornou muçulmanos e não muçulmanos.” Nos anos 30, havia o binómio judeus e não judeus.

A proibição dos minaretes pode ecoar as proibições anti-semitas e várias associações de judeus fizeram questão de protestar contra o referendo suíço. É possível comparar? “Por um lado, podemos até pensar que a situação é pior do que nos anos 30, porque se passa em toda a Europa”, diz Martin Rose. “O quadro de dificuldade económica é o mesmo, e surgem bodes expiatórios. Se combinamos crise com ignorância, e com o facto de que há gente que se diz muçulmana a fazer-se explodir, os muçulmanos são um alvo óptimo, quando estamos à procura de alguém para odiar.” Há uma diferença essencial.

“Na Europa dos anos 30 havia um país a encorajar o racismo, a Alemanha. Agora, os governos europeus estão desesperadamente a tentar impedir a discriminação.” Mas se parte da Suíça acordou em choque, foi a outra parte que ganhou. “Uma vitória maciça”, sublinha Rose. “Temos de nos preocupar.” Atacar a discriminação É possível traduzir a existência de islamofobia em números? Dificilmente, refere Chris Allen, um académico britânico que fez para a União Europeia o relatório a seguir ao 11 de Setembro. “Cada país lida com o assunto de forma diferente. Poucos monitorizam a discriminação directa ou indirecta de forma abrangente, e poucos o fazem com base na religião/fé, além da etnicidade/ raça.

Portanto, é difícil ter um retrato quantitativo.” Mas é possível detectar tendências. O relatório pós-11 de Setembro apontou para indícios apenas casuais de islamofobia crescente. Uma década depois, diz Allen, a situação será a mesma, mas o facto de haver mais relatos de ataques ou abusos contra sinais visíveis da fé muçulmana parece indicar que a islamofobia aumentou. Da mesma forma, o facto de estarem a crescer forças políticas à custa de discursos anti-muçulmanos pode indicar que, “incidentalmente, a islamofobia está a crescer nas suas formas mais cruas”. Na Suíça, especificamente, o referendo dos minaretes parece a Allen “uma cortina de fumo para uma campanha muito mais insidiosa contra a “islamificação” da Europa”.

Neste quadro geral de tensão, qual é o maior perigo? “A aceitação de que ser contra os muçulmanos e o islão é de certa forma normal. Penso que muita gente tem uma desconfiança natural em relação ao islão e aos muçulmanos e é isto que precisa de ser combatido.” Enquanto isso não acontecer, acredita este perito, nada mudará. “Eu não persistiria na estratégia de informar as pessoas de que “o islão é uma religião da paz”, como tantos muçulmanos e políticos fizeram no passado. Em vez disso, preferia ver a islamofobia ser tratada como outras práticas discriminatórias, racismo, xenofobia, sexismo, homofobia, no sentido de que são injustas e desnecessárias nas sociedades europeias, e de que os nossos valores de igualdade, justiça e respeito são uma chave nisto.”

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