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Direita europeia mergulha a esquerda numa crise profunda

Os partidos de direita na Europa, que se apresentaram com sucesso como protetores dos cidadãos diante da crise, reforçaram sua força política no continente e mergulharam, ao mesmo tempo, os social democratas em uma grave crise de identidade.

As eleições para o Parlamento europeu, que terminaram domingo, confirmaram uma tendência cada vez mais nítida desde o fim dos anos 1990: a Europa vota de modo conservador. Os partidos de centro direita, reunidos em torno do Partido Popular Europeu (PPE), continuam sendo a principal força política do Parlamento, com 263 das 736 cadeiras, ou seja, um pouco mais de 36% dos eleitos, sem no entanto mudanças em relação ao Parlamento atual.

Se acrescentados a isso as dezenas de eurodeputados de direita britânicos, poloneses e tchecos, que esperam formar um grupo distinto e mais eurocético, esta supremacia é ainda mais nítida. E com os partidários da soberania e do nacionalismo, o Parlamento de Estrasburgo se curva muito nitidamente para o lado conservador.

“Podemos pensar que o que é tido hoje como a crise do capitalismo beneficia partidos de centro esquerda”, destacou Philip Whyte, analista do Centro para a Reforma Europeia de Londres. “De fato, temos dois cenários, o primeiro em que os partidos de centro esquerda no poder foram punidos pelos eleitores, como a Espanha e o Reino Unido; e o do países em que estes partidos estão na oposição, como na França ou na Itália, mas onde não se beneficia da crise”, acrescentou.

A esquerda europeia enfrenta hoje um problema triplo. De um lado, o modelo da terceira via entre socialismo e liberalismo, encarnado ainda por Tony Blair e Gerhard Schröder, e ainda hoje pelo atual primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, que aparece em fim de linha. “A esquerda também foi atingida pelo modo liberal nos anos 2000 e está pagando um preço agora”, opinau Jean-Dominique Giuliani, da Fundação Robert Schuman.

Os social democratas devem também contar com um fortalecimento da extrema esquerda, muito antiliberal, como na França e na Alemanha. Já a direita passou a imagem da estabilidade e da proteção, e a alternativa venceu como muito frágil na Itália, na Alemanha e na França. “O pequeno segredo de Sarkozy na França é passar uma imagem de reformista e de saber falar à direita profunda”, disse Antonio Missiroli, analista do European Policy Centre de Bruxelas.

Apesar de seu sucesso, a direita moderada não terá a parte mais fácil no Parlamento Europeu. O PPE vai ter de lidar com a cisão de seus eurodeputados britânicos, poloneses e tchecos e com o fortalecimento dos movimentos contrários à UE radicais e de extrema direita. Neste contexto, o PPE pode procurar, para se apoiar em uma maioria estável de cadeiras, a fazer uma grande aliança com os social democratas, segunda formação, e os liberais.

Com o voto proporcional nas eleições, o Parlamento europeu tem suas próprias regras, diferentes da lógica de confrontação habitual esquerda/direita, “bloco contra bloco”, dos parlamentos nacionais, que tornam obrigatórias amplas coalizões para conseguir assumir compromissos.

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