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Dia da Criança: alguns petizes tristes e outros sorridentes

Celebra-se, anualmente, o Dia Mundial da Criança (01 de Junho) e o Dia da Criança Africana (16 de Junho). Nessas efemérides, dá-se especial atenção aos petizes, oferecem-se presentes, organizam-se actividades extra-curriculares e recreativas nas escolas, em diferentes lugares de lazer e em casa os pais e/ ou os encarregados de educação dão presentes. Entretanto, em Moçambique há meninos que enquanto outros brincam e sorriem, eles estão nos mercados a vender, são explorados e submetidos a várias sevícias.

Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), sobre o Trabalho Infantil em Moçambique, divulgado em 2012, mais de um milhão de crianças, entre sete e 17 anos de idade, é forçado a trabalhar em diferentes sectores de actividade, principalmente na agricultura, pecuária, caça e pesca, áreas descritas como os que mais têm recorrido à mão-de-obra infantil. Enquanto isso, sublinha o mesmo documento, 15% desses petizes já contraíram lesões durante a execução das tarefas que lhe foram incumbidas.

De acordo com o UNICEF, os principais motivos que levam essas crianças ao trabalho é a necessidade de aumentar a renda familiar, o que faz com que cerca de 82% estejam a exercer alguma actividade remunerável. Consequentemente, esses problemas interferem na educação e no desenvolvimento desses petizes.

Por ocasião de 01 de Junho, o @Verdade conversou com alguns meninos nas diferentes artérias da capital moçambicana e da cidade de Nampula, tendo constatado que uma parte deles é deslocada de uma província para outra com promessas de uma vida melhor. Contudo, chegado ao destino, é submetida ao comércio informal e sem o direito de frequentar a escola.

Deixou de estudar para lutar pela sobrevivência

Francisco Paulo, de 15 anos de idade, é natural do Posto Administrativo de Muxúnguè, na província de Sofala. Em 2011, interrompeu os estudos na 8ª classe por falta dinheiro para a matrícula. Abandonou os bancos da escola e, em Janeiro do ano em curso, veio para Maputo procurar emprego com o objectivo de ajudar a sustentar a sua família.

Na segunda quinzena de Janeiro, o adolescente conseguiu trabalho numa barraca, algures no município da Matola, e mensalmente ganhava 1.000 meticais. Este valor era dividido da seguinte forma: 300 meticais destinavam- -se ao pagamento da renda de casa onde morava, uma parte aos seus parentes e outra era para a comprava de comida. A tarefa de Paulo era pesada e consistia em carregar caixas de refrescos e cervejas dia e noite, por isso arranjou outra ocupação – vender pão e pastéis de feijão e percorre o centro da cidade com uma caixa e uma bacia desses produtos.

O trabalho do nosso interlocutor tem um inconveniente; se por dia não comercializar todo o produto é-lhe descontado um certo valor no seu ordenado mensal de 1.200 meticais, uma vez que a sua patroa, residente no bairro da Costa do Sol, lhe oferece abrigo e alimentação. Quando sai de manhã só volta para casa por volta das 19 horas.

Em Nampula, Zito Carlos, de 15 anos de idade, frequenta a 4ª classe e mora com o seu irmão mais velho no populoso bairro de Namicopo. No dia 01 de Junho, enquanto algumas crianças da mesma idade festejavam, o nosso entrevistado estava a comercializar banana a mando da sua cunhada.

Não teve como recusar porque, para além de ser obrigatória, essa é uma das actividades que asseguram o sustento da família. “O que interessa é a saúde, a felicidade e não as condições financeiras. Sei que existem outras crianças que não puderam sorrir neste dia (01 de Junho) e estiveram na praça a vender alguma coisa como eu”, disse o petiz.

Marta Elísio, de 14 anos de idade, também passou o seu dia a negociar banana, mas reservou algum tempo para se divertir com as amigas. O que a entristece é o facto de ter desistido da escola por falta de dinheiro.

Entretanto, enquanto Francisco, Neto, Aurélio e outros meninos lutam pela sobrevivência, milhares de outras crianças dançavam, brincavam, recebiam conselhos dos pais, brindes e brinquedos.

Aliciado para vir a Maputo

Aurélio Massingue, de 16 anos de idade, natural de Xai-Xai, província de Gaza, vive no bairro da Polana Caniço, arredores da capital moçambicana. Narrou que uma senhora lhe prometeu emprego e deixou os estudos na 8ª classe para ganhar dinheiro mas não sabia que iria passar o dia inteiro a percorrer a zona do cimento com uma caixa de pão nas costas e uma bacia de pastéis de feijão na mão. Por vezes, o adolescente não se alimenta, por isso sente saudades dos seus parentes que se encontram na terra natal e não tem vontade de voltar a frequentar um estabelecimento de ensino.

Está conformado com o que faz

Por sua vez, Neto Chichava, de 15 anos de idade, reside no bairro de Hulene e há dois anos que se dedica à compra e venda de ferro-velho. Desistiu de estudar alegadamente porque não tem condições para o efeito. Disse-nos que contraiu um empréstimo de 300 meticais para iniciar esse negócio e está conformado com a vida que leva, uma vez que consegue comprar vestuário para si e para os seus irmãos menores, bem como garantir que não lhes falte comida à mesa. O 01 de Junho foi um dia como tantos outros para eles.

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