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Desportivo de Maputo: um clube com dívidas na África do Sul

O Grupo Desportivo de Maputo, um colosso que na edição 2012 do Moçambola caiu de divisão disputando, por ora, o Campeonato de Futebol da Cidade de Maputo, afinal é um clube com dívidas na vizinha África do Sul. Em 2010, aquela colectividade “burlou” a fornecedora de equipamento desportivo, a Diadora, num valor estimado em 726 mil randes, cerca de 3. 500. 000 meticais, facto que revela a falta de integridade que “habita” na sua direcção.

A história arranca nos finais de 2007 quando o Desportivo de Maputo, representado pelo então presidente, Michel Grispos e um funcionário sénior da Diadora, uma empresa italiana de produção de artigos e vestuário desportivos, filial da África do Sul, identificado por Abdulla, decidiram firmar um acordo de parceria que, dentre vários pontos, pressupunha a exclusividade daquela firma no fabrico de equipamento desportivo com a marca e símbolos alvi-negros.

O contrato entre ambos tinha a duração de dois anos, com entrada em vigor no dia 21 de Janeiro de 2008 e fim previsto para 31 de Dezembro de 2010 mas com possibilidade de renovação, dependendo da satisfação das partes envolvidas no negócio.

Como termos do acordo, por um lado a Diadora forneceria equipamento desportivo a toda a equipa principal de futebol do clube alvinegro a um preço bonificado para os jogos do Moçambola e da Taça de Moçambique e, por outro, o Desportivo de Maputo cedia, com exclusividade, a sua marca, o seu logotipo e o respectivo símbolo àquela empresa, bem como iria promover a imagem da mesma, quer durante os jogos, quer durante as conferências de imprensa através de banners. Aliás, a colectividade moçambicana podia, para além de vestir os técnicos, os jogadores e o pessoal da equipa, requisitar réplicas de camisolas do clube para fins comerciais, ou seja, para vender aos adeptos e à massa associativa.

Os preços e as modalidade de pagamento

Inicialmente, segundo o primeiro parágrafo dos termos de contrato, a Diadora concordava em oferecer ao Grupo Desportivo de Maputo para uso dos jogadores, da direcção, da equipa técnica e restante pessoal da equipa, de forma gratuita, um kit completo de equipamento desportivo avaliado em 600 randes, cerca de três mil meticais ao câmbio do dia. E depois disso, aquele clube, caso requisitasse algum, devia pagar o mesmo valor à Diadora.

Nas réplicas, com fins meramente comerciais, aquela empresa disponibilizou uma tabela de preços sem IVA em que cada camisola para adultos custaria ao Desportivo de Maputo 120 randes e 45 randes para crianças. Como modalidades de pagamento, quer do kit principal, quer para os adeptos, a direcção do clube alvinegro desembolsaria 50% no dia do levantamento do material, podendo pagar o restante num período de sessenta dias.

Como se pode ler no Termo de Compromisso na posse do @Verdade, não havia limite na quantidade de equipamento que o Desportivo podia solicitar à Diadora, dependendo apenas da sua capacidade financeira para cumprir com os preços previamente estipulados e conjuntamente acordados.

A subida de preço e a troca de emails

A 02 de Março de 2010, a direcção da Diadora, através de um funcionário identificado apenas por Nicoleen, enviou uma missiva por via electrónica ao Grupo Desportivo de Maputo, concretamente o respectivo presidente, Michel Grispos, anunciando a nova tabela de preços dos produtos. Contudo, a comunicação não foi muito bem acatada pelo dirigente alvinegro que fez questão de lembrar àquela firma que o que estava escrito no contrato devia ser seguido à letra tendo, mais tarde, cedido face à pressão exercida na longa e intensa conversa que envolveu um outro funcionário da empresa italiana na África do Sul, com o nome de Jameel Mayet.

“Michel, você tem que tomar em consideração que os preços praticados, hoje, são diferentes de há dois anos atrás quando assinámos o contrato. O nosso fornecedor está a cobrar-nos mais caro pelo tecido, pelo trabalho e pelo transporte. E nós não podemos oferecer- -lhe os bens pelo mesmo valor praticado em 2008” sustentou num dos emails a Diadora.

A falta de seriedade do Desportivo de Maputo

Depois de ultrapassada a discussão em torno da nova tabela de preços, com as réplicas a subirem dos anteriores 120 (adultos) e 45 randes (crianças) para 199 e 145 randes, respectivamente, a 29 de Setembro de 2010 o Desportivo de Maputo, através de um funcionário sénior da direcção, identificado por Tomás, conforme vem no documento que prova a requisição, solicitou à Diadora 3. 237 camisetas divididas em 2. 947 para adultos e 290 para crianças.

Todo o material custaria ao clube moçambicano 726. 411,42 randes (3. 704. 698, 25 meticais ao câmbio daquele dia), atendendo que sobre a soma do valor dos dois conjuntos (586. 453 randes + 50. 750 randes) foi adicionado o IVA na ordem de 89. 208,42 randes.

A Diadora, como sempre fez, produziu atempadamente o material e o Desportivo de Maputo simplesmente não levantou e nem sequer procedeu ao adiantamento de 50% do valor global, conforme está estipulado no acordo, remetendo-se à promessa de que “vamos pagar”. Aliás, até hoje o equipamento encontra-se nos armazéns daquela fabricante na vizinha África do Sul, perante o silêncio absoluto da direcção do clube alvinegro.

Um negócio que podia render

Nesta semana, o @Verdade foi ao encontro de uma agência de fornecimento e de venda de material desportivo sediado em Maputo, com a finalidade de compreender os contornos deste tipo de negócio e os ganhos que os clubes podem obter. Apurámos que, presentemente, a réplica de uma camiseta de um clube moçambicano custa entre 1. 200 e 1. 600 meticais, dependendo da importância de cada colectividade para o futebol moçambicano.

Sendo a do Desportivo de Maputo a mais cara, entre 2010 e 2011 uma réplica para os adultos era comercializada a um preço de 1. 400 meticais e 1. 250 para as crianças. Assim, vendendo as 3. 237 camisetas (4. 125. 800 meticais + 362. 500 meticais), o Desportivo de Maputo podia arrecadar para os seus cofres 4. 488. 300 meticais, perfazendo um lucro de 783. 601,75 meticais.

Todavia, o negócio não foi fechado e o Desportivo de Maputo ainda tem esta dívida por pagar à Diadora, que neste momento pondera levar o caso até às barras do tribunal. Tentativas para ouvir a direcção daquela colectividade que milita no Campeonato de Futebol da Cidade de Maputo redundaram em fracasso visto que, depois de António Grispos, actual presidente do clube, não ter falado ao @Verdade por se encontrar a conduzir, até ao fecho desta edição o seu telemóvel estava desligado.

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