A “Grande Muralha” (trocadilho com ‘the great firewall’) da censura chinesa parecia manter-se intacta esta terça-feira, apesar da decisão do Google de deixar de obedecer as regras do maior mercado mundial da internet, o que valeu críticas imediatas das autoridades comunistas.
O gigante americano suspendeu na segunda-feira a censura que era imposta por ordem do governo da China às buscas neste país e anunciou que os usuários do site Google.cn (Google China) seriam redirecionados para o Google.com.hk, um servidor em Hong Kong. Para as autoridades chinesas, o Google quebrou sua “promessa escrita e se equivoca por completo ao deixar de censurar o motor de busca”, indicou um funcinário encarregado da internet do Gabinete de Informação do Conselho do Estado.
A China, no entanto, negou nesta terça-feira que a decisão do Google de desacatar a censura do país comunista possa ter impacto nas relações com os Estados Unidos, a menos que exista uma vontade de politizar o tema. “Não acredito que isto tenha influência nas relações China-EUA, a não ser que alguns queiram politizar o assunto”, declarou o porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Qin Gang.
Qin considerou a decisão do Google “um tema comercial particular” e reafirmou que a China administra a internet de acordo com suas próprias leis. O anúncio do Google aconteceu depois de dois meses de tensões provocadas pela revelação, por parte do gigante da informática, da existência de ataques cibernéticos coordenados contra as contas do Gmail de dissidintes chineses.
A empresa advertiu que poderia tomar a decisão de abandonar o país. No entanto, o Google informou nesta terça-feira que a situação era normal na sede da companhia na China, enquanto se constatava um frenético debate on-line entre os defensores chineses da liberdade de expressão e os nacionalistas que denuncia a interferência externas.
A decisão do Google parece não ter burlado até o momento a censura chinesa. O acesso na China a certos sites sensíveis, como os vinculados ao Tibete, permaneciam bloqueados nesta terça-feira. A busca por temas como “Falun Gong” e “4 de junho” – referências a um movimento religioso proibido e aos protestos por democracia de 1989 na Praça Tiananmen (Paz Celestial) de Pequim -, realizadas no continente, resultavam na mensagem “O Internet Explorer não pode exibir esta página”.
Outros sites relacionados com temas sensíveis, como a Anistia Internacional, também estavam bloqueados e impossíveis de acessar em Pequim, apesar de serem direcionados para o servidor de Hong Kong. As mesmas buscas realizadas de computadores em Hong Kong no site Google.com.hk permitem ter acesso a essas páginas, o que sugere que a China consegue controlar a consulta de conteúdos dentro do continente.
O diretor jurídico do Google, David Drummond, disse que a empresa esperava que a China respeitasse sua decisão. “Apesar de sabermos que, a qualquer momento, poderá bloquear o acesso a nossos serviços”, afirmou, antes de acrescentar que a companhia acompanhará atentamente a situação.
A Casa Branca indicou que está decepcionda com o fato do Google não chegar a um acordo com as autoridades chinesas e reiterou que o presidente Barack Obama está “comprometido com a liberdade na internet e se opõe à censura”. “A relação entre os Estados Unidos e a China é suficientemente madura para suportar diferenças”, afirmou o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança Segurança, Mike Hammer, poucas horas antes da China anunciar que as próximas conversações estratégicas a alto nível com Washington acontecerão no final de maio.
Esta negociação será o encontro de mais alto nível entre as duas partes desde que as relações se esfriaram no início do ano. Os litígios se acumulam: as vendas de armas americanas para Taiwan (a ilha nacionalista considerada pela China como uma de suas províncias), o valor do yuan, uma visita à Casa Branca do Dalai Lama (o líder do budismo tibetano, acusado de separatismo por Pequim) e a liberdade na internet.