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‘@Verdade EDITORIAL: Demitam-se

O incumprimento das distâncias regulamentares é tão frequente que o cidadão já estabeleceu a convicção de que o mesmo representa a coisa mais normal do mundo. Este roubo, diga-se, ganhou dimensões tão regulares que as vítimas deixarem de questionar. O poder político, por sua vez, nunca manifestou preocupação, pois prejuízos nenhuns ocorrem diante deste roubo vergonhoso.

 

Hoje, já se sabe, temos nova tarifa para os transportes públicos. A população, ciente de que jamais deixará de ser roubada, pede que os encurtamentos terminem. O Governo, esse, esfrega as mãos de contentamento, uma vez que as vítimas não reivindicam melhores condições ou um transporte público subsidiado pelo Estado. Ou seja, as pessoas deixaram de reivindicar direitos e clamam pela redução do roubo e não por um remédio para pôr termo à incompetência tão generalizada.

 

O presidente do Município de Maputo, David Simango, fala de uma situação caótica nos transportes públicos e reitera que o aumento de preços é a saída que pode oferecer aos moçambicanos uma forma extremamente vaga de fornecer soluções, diga-se.

Aliás, pela certa, não há solução de espécie alguma, pois é evidente, perante quem quer que seja, que o aumento da tarifa só prejudica o cidadão comum e a medida apresentada por Simango, na verdade, decorre de um mal maior que é a falta de vontade política para resolver o problema. Dizê-lo desta forma, como fez Simango, é bem pior do que calar. No mínimo, estamos perante uma relação em que os cidadãos são desprezados em todos os sentidos.

Contudo, apontar o dedo ao presidente do Município de Maputo é injusto. O problema dos transportes é bem mais profundo. Ainda assim, não é errado afirmar que David Simango merece um atestado de incompetência por razões várias.

Porém, no que diz respeito aos transportes devemos apontar o dedo, antes, ao Governo. Quem despreza profundamente o desiderato de servir o povo moçambicano é o Executivo de Armando Guebuza. Mais do que ninguém é o mais alto dirigente da Nação que deve ser questionado. Afinal foi eleito para resolver os nossos problemas.

No fundo, tudo converge para incompetência do Governo mesmo que queiramos tapar o sol com a peneira. Ora vejamos: temos um Ministério dos Transportes e Comunicações para resolver questões do género. Nas outras áreas, sempre que se revelou uma incompetência bárbara tivemos despedimentos. Só que, neste caso, tratar-se-ia, por manifesta incapacidade, não só de despedir o ministro da área, mas também quem o nomeou e quem, para ser justo, votou neles.

Não há, portanto, desculpa possível para mascarar a incompetência de todo um Governo. Só um cálculo mal feito de crescimento demográfico, por falta de competência, profissionalismo ou má intenção pode repercutir-se no caos que se transformou o transporte público no país.

Em princípio, a pessoa nomeada para gerir o sector tem de possuir preparação técnica para que não abracemos de forma tão eloquente o caos, nem que seja no âmbito do aproveitamento da margem mínima do admissível. O problema do aumento de passageiros e consequente agravamento do preço do “chapa”, de todas as formas, é uma explicação estapafúrdia. Ou seja, é uma explicação aceitável apenas para um pobre motorista de “chapa”.

Até na questão da “morte” da frota dos TPM, a incompetência do Governo permanece. Apenas por incúria, pode um país inteiro depender de uma rede de transportes públicos que o Governo manhosamente deixou a rebentar pelas costuras. Então, há-de entender-se que alguém, um responsável ao mais alto nível, não curou do mais elementar dever de controlar a longevidade do equipamento em uso ou deixou que estes propositadamente caíssem em desuso.

Dito por outras palavras, a direcção do país tomou a exacta atitude doméstica, caseira, de utilizar um bem até ao esgotamento extremo, e ainda com a possibilidade de ir fazendo remendos por todos os cantos ou, por outra, alguém com poder funcionou pela lógica da agiotagem. Ou seja, deixou a frota apodrecer para vender outros carros sem sobressalentes ao Estado. Colocou um país inteiro a depender de um paliativo para engordar os cofres de certa empresa.

Portanto, vai um país inteiro sendo gerido de forma artesanal, pela fé na possibilidade de rentabilizar os lucros pessoais em detrimento da nação. E nós, os bananas, toca a votar cegamente nestes agiotas para (des)governarem o país…

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