Joseldo Massango, declarante do caso “Aeroportos de Moçambique (ADM)”, confirmou quarta-feira, em tribunal, que recebeu das mãos do antigo Presidente do Conselho de Administração (ex-PCA) da ADM, o co-reu Diodino Cambaza, um cheque com valor facial de 25 mil dólares americanos, para o pagamento de uma propriedade localizada no distrito de Marracuene, Sul de Moçambique.
Com este e outros pronunciamentos, Massango deitou abaixo as afirmações do ex-PCA, em que este último se distância de todos os contornos deste negócio muito menos aceitar reconhecer Joseldo Massango. Com efeito, Massango explicou detalhadamente como as coisas ocorreram até a assinatura de duas declarações (espécie recibo) de entrega e recepção do cheque que selou o negócio, todas já em poder do tribunal.
Para conseguir “tirar” o cheque da empresa ADM, Cambaza mentiu aos seus subordinados ao afirmar que os 25 mil dólares se destinavam “a cobrir despesas do partido Frelimo”, segundo já afirmou, em tribunal, também na qualidade de declarante, Hermenegildo Mavale, antigo Administrador Financeiro daquela empresa pública. Aliás, Mavale disse que a referência ao partido Frelimo, por parte de Cambaza, teria lhe forçado a não ter coragem de negar transferir o valor para as contas da Sociedade moçambicana de Serviços (SMS), de onde foi passado o cheque a favor de Massango.
Ainda mais, Massango disse e provou em tribunal que Cambaza assinou, com seu próprio punho, as declarações que confirmam a entrega e recepção do cheque que alguns dias depois foi levantado num dos bancos que operam na cidade de Maputo, ficando Massango com 20 mil dólares e os restantes cinco mil com Cambaza. A quando da sua audição, em tribunal, Cambaza, que, juntamente com outros quatro co-réus, é julgado pelo desvio de mais de 54 milhões de meticais (o dólar equivale a cerca de 27 meticais) da ADM, negou conhecer Massango.
Contudo, quando confrontado com cópias das duas declarações, onde constam as assinaturas dos intervenientes, Cambaza disse que “parece minha assinatura, mas também me parece estranho que o recibo (ou declaração) tenha sido passado para o vendedor e não ao comprador”. “Cambaza também tem as declarações deste negócio assinados até por ele mesmo. Ele sabe muito bem que me pagou com um cheque de 25 mil dólares da SMS, levantado por mim. Deste dinheiro, eu fiquei com 20 mil dólares e passei deixar a parte remanescente numa casa indicada por ele, atrás da embaixada da Rússia”, esclareceu Massango, perante a insistência do advogado de Cambaza, Porto Vasconcelos.
O Ministério Público refere, na sua acusação, que Massango foi deixar os cinco mil dólares na residência particular de Cambaza, sita no Bairro da Malhangalene, Rua João dos Santos, n.º 253, na cidade de Maputo. Massango explicou ainda que primeiramente apenas ele e Cambaza assinaram a declaração, mas porque ele é casado por comunhão de bens, houve necessidade de se rubricar uma outra declaração, com a mulher já presente. A fonte indicou ainda que a parte que Cambaza adquiriu estava ao preço de 800 mil meticais, mas Cambaza “pagou-me 20 mil USD”.
A propriedade, de três mil metros quadrados, tinha, entre outras coisas, um furo mecânico com 60 metros de profundidade. No final do seu depoimento, Massango queixou-se, perante o tribunal, de ter sido visitado por três vezes, por gente estranha, na sua casa localizada no Bairro Zimpeto, arredores da cidade de Maputo, logo depois de ter sido ouvido durante a instrução contraditória. Segundo palavras de Massango, numa dessas vezes, os visitantes solicitaram que ele assinasse outras declarações de venda da mesma propriedade, alegadamente a mando de Cambaza.
Os mesmos “estranhos” chegaram a pedir lhe que aceitasse um encontro com Cambaza, na cadeia. “Nem eu, nem a minha esposa aceitamos estas propostas”, disse Massango. O declarante diz desconhecer as reais intenções de tais pessoas, mas afirma que conheceu Cambaza, ao acaso, por intermédio de um conhecido seu que sabia que Cambaza pretendia adquirir um espaço. Ainda na quarta-feira, o tribunal ouviu mais três declarantes, nomeadamente Daniel Lampião, Inspector do Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), Ernesto Chauma, Director Financeiro da ADM, e Francisco Conde, que vendeu uma moradia aos Aeroportos de Moçambique a 100 mil dólares.