O partido Povo da Liberdade (PDL), de Silvio Berlusconi, boicotou uma reunião da frágil coligação governamental e obstruiu as atividades do Parlamento nesta quarta-feira em protesto contra uma decisão da Suprema Corte de acelerar a sentença que deverá bani-lo da vida pública. O conservador PDL é o principal parceiro do Partido Democrático numa instável coligação de governo que reúne esquerda e direita.
A Suprema Corte divulgou na terça-feira uma incomum declaração defendendo sua decisão de antecipar para 30 de julho o julgamento do recurso final de Berlusconi num processo por fraude tributária. Os advogados do político e empresário, de 76 anos, esperavam que o caso só tramitasse no fim do ano. Nas instâncias inferiores, Berlusconi foi condenado a quatro anos de prisão e cinco anos sem direito a ter cargos públicos por cumplicidade em uma fraude tributária cometida pelo grupo de comunicações Mediaset, pertencente ao ex-primeiro ministro.
Berlusconi possivelmente escapará de ser preso por causa da idade, mas a permanência do seu partido na coligação passará a ser duvidosa.
O primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse que seu governo conseguirá sobreviver, mas alguns radicais no partido de Berlusconi possivelmente tentarão forçar à convocação de uma eleição em outubro se o seu líder for condenado. Numa tentativa de garantir a lealdade do PDL, Letta voltou a prometer, em entrevista televisiva, que abolirá um imposto imobiliário odiado por seus aliados, apesar das dificuldades que isso acarretará no cumprimento das metas fiscais determinadas pela União Europeia.
A Suprema Corte disse que foi obrigada a convocar uma audiência extraordinária em 30 de julho porque parte do processo contra Berlusconi prescreveria em 1º de agosto. Berlusconi e os seus aliados acreditam que a decisão judicial, contrastando fortemente com o lento ritmo habitual da Justiça italiana, é mais uma prova de que ele sofre uma perseguição continuada e antidemocrática por parte de magistrados esquerdistas.
Recentemente, Berlusconi foi sentenciado em primeira instância pela acusação de pagar para ter sexo com uma menor. Ainda cabem dois recursos nesse processo.