“Quero conhecer @salvatore300 e @elainediaz2003”, ouviu-se no primeiro encontro em Cuba de integrantes de redes sociais, #TwittHab. Após anos conectados na Internet, o incipiente espaço da cidadania deste país nesse ambiente demonstra a possibilidade de contacto no mundo real.
“Podem ser organizados encontros e reuniões sociais espontaneamente sem a tutela das instituições cubanas. São realizadas e nada acontece: não há que ter medo”, diz Rogelio M. Díaz, autor do blog Bubusopia, e um dos participantes de uma incomum “jornada twitteira” iniciada em Cuba no dia 1 deste mes.
As tensões políticas entre o governo cubano e o seu inimigo histórico, os Estados Unidos, e os atritos contínuos com os grupos da dissidência política interna, que também se manifestam em blogs e redes sociais, criam uma atmosfera complexa ao redor de projectos deste tipo.
Entretanto, na tarde de 1 de Julho, na esquina central das ruas 23 e 12 em Havana, cerca de 35 rostos, na sua maioria jovens, e outros nem tanto, saíram em “busca da @”, como dizia um dos cartazes criados para o encontro, convocado por Leunam Rodríguez, administrador do Portal da Rádio Cubana.
O encontro, um dos três ocorridos apenas na tarde do dia 1 na capital cubana, teve repercussão na província oriental de Holguín e gerou vários encontros “para continuar a conversar e a conhecer-se”, em centros culturais e nocturnos de Havana durante todo o fim-de-semana passado, disse Rodríguez.
A ideia inicial surgiu em meados de Junho e fluiu rapidamente por meio de blogs e redes sociais como Twitter e Facebook. O objectivo do encontro “real e amistoso” era ter a oportunidade de conhecer os diversos rostos e as diversas formas de pensar que se escondem por trás de identidades virtuais como @alondraM e @ cuba1erplano.
Sem uma agenda planeada e apenas com o desejo de comunicar, da originalidade de estudantes universitários, jornalistas, blogueiros e profissionais da informática, nasceram cartazes e cartões de apresentação, onde se conjugou a visualidade do Twitter com símbolos cubanos, como o tocororo, a ave nacional.
“Vá em busca da @ agora” e “Quero conhecer-te” foram as mensagens que circularam no ciberespaço. Porém, pessoas alheias à organização e alguns meios de comunicação de fora de Cuba politizaram as intenções da reunião amistosa e de socialização, segundo observadores.
“No final, era apenas um grupo de jovens que queriam encontrar- se e conhecer-se. Não está nem minimamente no terreno da política”, garantiu a blogueira e psicóloga Sandra Álvarez, que está no Twitter como @negracubana, e participou no encontro na esquina das ruas 23 e 12.
Para Elaine Díaz, autora do blog La Polémica Digital, a desnecessária politização faz com que “sejam distorcidos os objectivos da iniciativa no seu princípio”. Um dia antes do #TwittHab, Leunam Rodríguez anunciou uma mudança da sede para o Pavilhão Cuba, no central bairro do Vedado, na capital.
Este local, da não governamental Associação Hermanos Saíz, ofereceu computadores com acesso à Internet para a actividade, e lá estiveram o principal organizador, integrantes da Jovem Cuba e representantes da autodenominada blogosfera alternativa cubana.
Horas mais tarde, representantes das duas sedes dirigiram-se ao parque do teatro Amadeo Roldán para discutir em conjunto a questão da comunicação e o desejo de contar com uma conexão melhor e com mais internautas no país, que seria possível graças à instalação de um cabo de fibra óptica com o apoio da Venezuela.
Quase cem pessoas, que estiveram tanto no Pavilhão Cuba como na esquina das ruas 23 e 12, realizaram o sonho colectivo de “se conhecer e trocar experiências”. Cada um, com o seu cartão de participação, foi-se apresentando num vídeo artesanal que estará disponível no Youtube.
Neste terceiro espaço surgido espontaneamente, fluiu o diálogo e um debate sobre diversas preocupações, entre elas como conseguir a inclusão, sem importar a cor política, dos que desde Cuba oferecem a sua visão individual por meio de redes sociais. “Não preciso de apresentação: sou o pai do Twitter em Cuba”, disse para a câmara Roger Trabas, #roger213tm.
Trabas foi o segundo cubano que, no começo de 2008, entrou nessa rede social, onde se encontram pessoas “que vivem no mundo e outras que querem mudá-lo”, concordou o grupo assistente.
Apenas 2,9% dos cubanos ouvidos numa pesquisa feita em 2010 pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONE), em cerca de 38 mil lares em todo o país, disseram ter navegado pela Internet em 2009. Desse total, 59,9% fizeram-no dos seus centros de estudo, 7,4% do trabalho e 5,9% de casa.