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Cuamba, porta de entrada da variante Delta da covid-19 na província do Niassa

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Cuamba é a cidade mais movimentada do Niassa, última província a reportar o novo coronavírus mas que na semana finda chegou ao milhar de casos activos, onde existem onze internados e 18 óbitos. Com população oriunda de diversos cantos de Moçambique e dos países do hinterland é o principal entreposto comercial para as províncias de Nampula, Zambézia, Tete e Sofala, e por isso tornou-se na porta de entrada da variante Delta que está a impulsionar a 3ª vaga da pandemia da covid-19 no país.

O Instituto Nacional de Saúde confirmou laboratorialmente a circulação da variante Delta do novo coronavírus apenas na Província de Tete no entanto sendo uma região de confluência de comerciantes do Centro e Norte do país assim como provenientes do Malawi e da Tanzânia o Município de Cuamba pode ter sido o local por onde inicou a 3ª vaga da pandemia que colocou Niassa como uma das províncias com o maior número de casos activos em Moçambique.

Mirasse Muthipo, de 54 anos de idade, responsável de um agregado familiar constituído por oito pessoas, dos quais cinco filhos, disse ter passados dias piores da sua vida, depois de ter passado 14 dias em isolamento domiciliaria.

“Fui ao Malawi acompanhando pelo meu irmão que precisa de tratamento médico, ficamos lá 20 dias e no regresso decidi realizar um teste da covid-19, mas em Cuamba não estavam a fazer. Alguns dias depois comecei com sintomas que se pareciam com aqueles que são divulgados pelos órgãos de comunicação e então consegui fazer o teste só depois de mais de 1 semana veio com resultado positivo” compartilhou Mirasse Muthipo que disse ao @Verdade ter sido receitado comprimidos para tosse e paracetamol.

O chefe de família de 54 anos de idade recorda aqueles que diz terem sido os piores 14 dias da sua vida, “fiz isolamento em casa, transferi toda a família(um agregado de oito pessoas) para casa de um parente, fiquei apenas com a minha esposa até recuperar”.

Por seu turno Santos Muelapa, activista social e secretário de um dos bairros da cidade de Cuamba, depois de acompanhar a evolução da pandemia de longe em 2020 decidiu abraçar a causa da disseminação de mensagens educativas pelos mercados, pontos de obtenção de água potável e outros locais de aglomeração contudo foi confrontado com a novo coronavírus da sua residência depois da sua esposa ter efectado uma deslocação ao Distrito de Mandimba, “regressou infectada com a covid-19, a nossa casa foi vandalizada por desconhecidos sob alegacão que se tratava de uma família treinada para distribuir o novo coronavírus”.

“Aqui recebemos pessoas de todos cantos do país, assim como estrangeiros, aqui é o epicentro”

Salima Santos é uma das donas de casa que procura o sustento da família no mercado grossista 7 de setembro, vulgarmente conhecido por Massaniqueira, o maior da Cidade de Cuamba, que está instalado próximo ao terminal de transporte de passageiros interprovincial e interdistrital, é o local de convergência de cidadãos de várias nacionalidades e origens que não cumprem as medidas de prevenção da pandemia respiratória.

“Aqui recebemos pessoas de todos cantos do país, assim como estrangeiros, aqui é o epicentro”, assinala a comerciante que viu as suas receitas diárias minguarem com as medidas impostas para conter a propagação do novo coronavírus e chama atenção “não fazem distanciamento físico, os baldes com água e sabão são pouco, a edilidade tem de melhorar as condições”.

Mas a negligência no cumprimento das medidas de prevenção da pandemia estende-se ao sector público no Niassa, embora tenha sido menos afectado economicamente, aliás houve um reforço das verbas provinciais e municipais, e os cemitérios são um dos espelhos.

“Somos cinco trabalhadores, nenhum de nós foi testado a fim de saber o seu estado de saúde ou recebeu vacina, agradecemos quando nasce um novo dia” confidenciou ao @Verdade um coveiro na casa dos 50 anos de idade, dez dos quais de serviço funerário, que pediu para não ser identificado e revelou que nos últimos tempos os enterros mais do que duplicaram, “desconfiamos que seja da covid-19”.

No início de Junho um dos primeiros óbitos por covid-19 na Província do Niassa foi registado no Município de Cuamba.

Outro coveiro, na casa dos 60 anos de idade e funcionário do sector há pelo menos uma década, comparou a pandemia a surto de cólera que há alguns anos ceifou dezenas de vida no Município de Cuamba. “Muitos morreram devido a cólera devido a negligência e corremos o risco de repetir o mesmo erro com a covid-19, seria importante passar a palavra as pessoas de que um individuo que morreu por esta doença, o seu corpo não deve ter contacto com as pessoas sob risco de contaminação”, apelou.

O @Verdade apurou que a semelhança de outros pontos da Província do Niassa a falta de água potável é um problema antigo no Município de Cuamba que foi agravado nos últimos anos pela cada vez menor capacidade da barragem de Mitueque que assegura apenas água canalizada para o centro da cidade, deixando de fora os bairros periféricos onde reside a maioria dos aproximadamente 150 mil habitantes.

Aliás uma das medidas governamentais no âmbito da covid-19 foi a abertura de quatro furos de água nos bairros de Adine 3, Nucuro Musapa e tem em perspectiva recuperar cerca de meia centena de furos mecânicos que se encontram avariados.

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