Activistas convocaram um protesto para Sexta-feira e os políticos islâmicos alertaram que os progressos decorrentes da revolta que derrubou Hosni Mubarak podem ser revertidos, depois de a Suprema Corte egípcia dissolver o Parlamento e preservar a candidatura presidencial do último primeiro-ministro do antigo regime.
A já turbulenta transição egípcia entrou na sua maior crise com as decisões judiciais de Quinta-feira.
Os políticos islâmicos, que dominavam o Parlamento e acabaram sendo os principais beneficiários da rebelião de 2011 contra Mubarak, acusaram a Suprema Corte de “golpe”.
Sábado e Domingo, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsy, disputa com Ahmed Shafik, último primeiro-ministro de Mubarak, a segunda volta de umas eleições presidenciais que eram vistas como o apogeu da transição para um regime civil, depois de 16 meses de governo de uma junta militar que substituiu o presidente deposto.
Mas o novo presidente agora será eleito sem um Parlamento e sem uma nova Constituição que estabeleça os seus poderes, e cuja redacção foi adiada devido a disputas políticas.
A campanha para as eleições presidenciais termina ao meio-dia de Sexta-feira. O Movimento 6 de Abril, que ajudou a galvanizar os egípcios contra Mubarak, convocou uma passeata a partir das 17h com destino à praça Tahrir, “contra o golpe militar brando”.
“Vamos salvar a nossa revolução. Vamos salvar o Egito do regime militar”, disse o grupo em nota na manhã da Sexta-feira.
O principal alvo do grupo oposicionista é Shafik, ex-comandante da Força Aérea que foi nomeado primeiro-ministro nos últimos dias do regime de Mubarak.
Eles temem que, se for eleito, Shafik irá tentar reconstruir o aparato repressor do antigo regime, além de reverter os avanços obtidos pela revolução. Ele nega essa intenção.
A Irmandade Muçulmana, de Morsy, formou a maior bancada nas eleições parlamentares do início do ano, e, junto com outros grupos islâmicos, formava maioria na assembleia.
A Irmandade disse, Quinta-feira, que as decisões judiciais indicam que o Egito está a entrar em “dias muito difíceis, que podem ser mais perigosos que os últimos dias do regime de Mubarak”.
“Todos os ganhos democráticos da revolução podem ser eliminados e revertidos com a transferência do poder para um dos símbolos da era anterior”, disse o grupo.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que o seu país, que dá 1,3 bilhão de dólares por ano em ajuda militar ao Egito, e tradicionalmente vê com desconfiança os políticos islâmicos, espera que os militares transfiram totalmente o poder a um governo civil democraticamente eleito.