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Crianças da S.O S. em Inhambane precisam do apoio de todos

Crianças da S.O S. em Inhambane precisam do apoio de todos

O centro que acolhe 145 crianças de ambos os sexos, com idades entre os seis meses e os 12 anos de idade, fica localizado a cerca de dois quilómetros da cidade de Inhambane. Devido a erros de cálculo dos arquitectos, estes construíram-no perto de uma estrada movimentada, que liga a urbe à Praia do Tofo, o que já está a preocupar os responsáveis da instituição pelo perigo que isso representa. “É por isso que estamos a erguer uma vedação para controlar os movimentos”, disse Alfredo Mahoche director da Aldeia S.O.S.

Mesmo assim a situação está sob controlo, e os objectivos pretendidos, que são a formação do homem do amanhã, estão a ser perseguidos dentro das possibilidades existentes, “embora clamemos por uma maior participação da sociedade, mormente a classe empresarial, para dar maior apoio a estes petizes”.

A vida na Aldeia S.O.S é a réplica daquilo que acontece em famílias normais, com a diferença de que aqui os meninos não vivem com os pais biológicos. Não têm um quarto individual e outros mimos que encontrariam com os seus progenitores. Mas tudo isso é como se existisse, de facto, porque as “mães” preparadas para cuidar das crianças fazem esse trabalho como se as mesmas crianças tivessem saído do seu próprio ventre.

“Temos neste centro 15 casas que albergam 10 crianças cada uma. Estão equipadas individualmente com quartos, cozinha, sala de estar e casa de banho, para dar o maior conforto possível aos seus utentes e fazer-lhes sentir-se em casa, e o nosso objectivo é que a Aldeia S.O.S seja uma verdadeira casa onde elas possam encontrar educação e formação. E um ambiente de família”.

A primeira sensação que se tem ao aceder-se a este lugar é de tranquilidade, transmitida depois pelo seu director, um homem sereno, com tendências para o sacerdócio. “Temos feito tudo para que estas crianças vivam num ambiente de sossego, daí a nossa preocupação em acompanhar com rigor a sua formação, e para isso temos também as “mães” que têm desempenhado um papel fundamental na edificação desta franja da sociedade”.

O trabalho não se apresenta fácil, da mesma forma que se exige uma grande responsabilidade e esforço na educação dos filhos em casas próprias. “É verdade. Nem todos os meninos caminham facilmente para aquilo que é o desejo da instituição, mas isso é normal em qualquer criança, para além de que elas vêm de vivências diversas e muitas vezes até adversas. O que nós fazemos aqui é um trabalho muito cuidadoso que inclui intervenções do foro psicológico, pois temos alguns miúdos que vêm para aqui com traumas nesse sentido, e é preciso ajudá-las a superar a dor e encaminhá-las para um sentido positivo. Temos um psicólogo que nos assiste”.

O que se nota, depois de toda essa atenção, é que elas caminham na boa direcção. Desde 2007 que a aldeia funciona, embora tenha sido inaugurada oficialmente em 2008. O ponto de partida foi dado com 75 “hóspedes” e hoje o número cresceu para 145.

“O projecto cinge-se em acolher crianças com problemas de inserção social, sejam elas órfãs ou semi-órfãs, ou ainda outras que, tendo família, são rejeitadas. Mas para que recebamos estas últimas é necessário que a sua história seja convicente e para isso temos mecanismos criados que envolvem a Direcção Provincial da Mulher e Acção Social. Aliás, o nosso trabalho vai para além da aldeia. Procedemos à assistência nos bairros, àqueles que têm famílias acamadas, ou que tenham imensas dificuldades”, explicou Alfredo Mahoche.

Um aspecto considerado de vital importância neste centro é o de que, para além do acompnhamento psicológico com vista à superação de traumas, as crianças são orientadas para o desporto, artes e cultura. “Importa perceber que estes “pequenos aldeões” não estão confinados às paredes do edifício, porque isso poderia criar mais problemas no seu desenvolvimento. Para além de frequentarem a escola (os meninos), praticam desporto. Temos aqui jogadores de basquetebol e outros que se dedicam à natação, para além das artes. Isso é muito importante para a formação de qualquer criança e os resultados que temos colhido são animadores”.

Liberdade

Na S.O.S, as crianças praticam desporto e fazem arte e cultura em liberdade. Quer dizer, quando é necessário deslocar-se à cidade para qualquer prática nessas áreas, elas vão. “Sim, elas aqui não estão em cativeiro. Levam uma vida normal. Sempre que elas precisarem de ir aos campos ou à piscina, vão em liberdade, mas tudo dentro das normas e de uma vigilância igual ou quase igual à que se faz nos lares normais, e não temos tido quaisquer problemas. Se há algum registo de indisciplina, tentamos corrigir imediatamente, sempre na perespectiva de ganhar a criança e dar-lhe educação e formação adequadas”.

Isso também começa no amparo que recebem da “mãe”, que mora na aldeia com os petizes, para poder acompanhá-los de perto, diariamente. “São senhoras cuidadosamente preparadas. Uma está para dez crianças e, para darmos verdadeiramente um sentido de “mãe”, há um orçamento mensal que é alocado a cada uma delas para geri-lo, como qualquer progenitora faz quando tem filhos para criar”, esclareceu Alfredo Mahoche, para quem essas senhoras, por sua vez, recebem uma assistência de uma “tia” que não vive na aldeia, mas que para ali se desloca com regularidade. E o pai dos meninos é o próprio director do estabelecimento.

“Prestamos muita atenção à educação formal delas. Temos aqui a escola que lecciona da primeira à décima classe, a qual recebe também alunos da comunidade, e o objectivo é fazer um acompanhamento para que atinjam a universidade. É por isso que as crianças ficam aqui até aos 22 anos, na perespectiva de que depois disso estarão preparadas para a sua reinserção na sociedade”.

Importa referir que nesta “Aldeia” vivem crianças até aos 15 anos, após o que passam para uma outra que é chamada “Projecto da Juventude”. “Ainda não temos as condições criadas para passar a essa fase, para além de que, neste momento, a idade máxima aqui é de 12 anos. Daqui a três anos penso que teremos as infra-estruturas criadas para dar seguimento a esse trabalho”.

Nos anos de 1949, surge em Imst, Áustria, idealizado pelo educador Hermann Gmeiner, o Projecto Aldeias Infantis, com a convicção de que cada criança pertence a uma família e deve viver numa comunidade. Surge, então, a iniciativa de propiciar às crianças órfãs de guerra o direito ao atendimento individual-personalizado, onde prevaleça o carinho, o respeito e o direito de viver num ambiente seguro e acolhedor.

Ao longo dos seus 43 anos de trabalho no Brasil, o organismo a que nos referimos conta com 28 programas e com atendimento a mais de 10.000 crianças, adolescentes e jovens garantindo a promoção e a defesa integral dos seus direitos. Actualmente a unidade de Igarassu actua em duas áreas: acolhimento Institucional na modalidade de casa-lar e fortalecimento familiar bem como comunitário.

No acolhimento, 126 crianças e adolescentes encontram- se amparados. No fortalecimento, 350 crianças participam diariamente nas actividades promovidas por um centro social e dois centros comunitários actuando com 04 componentes: Criança, Mulher, Família e Comunidade.

A essência do trabalho da organização está no desenvolvimento da criança e do adolescente até que chegue a ser uma pessoa autónoma e bem integrada na sociedade. Acreditamos que um ambiente familiar protector é o lugar ideal para o pleno desenvolvimento desse potencial. Também reconhecemos a importância do papel da criança e do adolescente no seu próprio desenvolvimento, assim como o da sua família e da comunidade cooperando com os diversos actores para dar a resposta mais adequada à situação daquelas crianças e adolescentes privados do cuidado parental e/ou que estão em risco de perdê-lo.

Com o desenvolvimento das nossas acções a organização vem acumulando ao longo destes 06 anos de atuação algumas premiações: Melhor Programa de Atenção Infantil da Cidade de Juiz de Fora Minas Gerais (2001); Empresa que Educa. SENAC (1999/2000); Selo Organização Parceira (2006); Centro de Voluntariado de São Paulo (2006); Prémio Êxito: Melhor Assistência à Criança e à Adolescência (Município de Lauro de Freitas- São Paulo 1999, 2000, 2001); Comenda Vila do Príncipe – outorgado pela Câmara Municipal de Caicó pelos relevantes serviços prestados à cidade de Caicó; Direitos Humanos: na categoria Direito da Criança e do Adolescente pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil.

Um dos nossos maiores desafios diz respeito à co-participação das famílias no processo de fortalecimento e desenvolvimento integral das crianças. Para isso articulamos a nossa acção com diversos actores, organizações comunitárias, associações, rede socioassistenciais, movimentos populares, dentre outros, por reconhecer que a nossa actuação se deve desenvolver numa rede de apoio e colaboração para o enfrentamento das causas que levam à fragilização dos vínculos familiares.

Empresários são chamados

O projecto S.O.S vive de doações que vêm maioritariamente de países europeus, e, neste momento, com a crise que se vive naquele continente, as coisas já não são como dantes. “Continuamos a receber apoio, mas para colmatar algum défice que estamos a registar, temos abordado os empresários locais no sentido de olharem para estas crianças, que são de todos nós. Queria aqui agradecer publicamente a boa vontade da Padaria e Pastelaria Universal de Inhambane, que tem fornecido pão à aldeia em todas as segundas-feiras.

É um gesto grandioso o qual agradecemos profundamente. Queremos também estender o nosso apreço à empresa “Limpeza Excelente”, sediada em Maputo. Estas são as duas instituições que nos têm dado ajuda. Mas queremos apelar aos outros interessados de boa vontade para que abracem este projecto que está virado para o futuro de Moçambique”.

E há uma pergunta que subjaz: será que os nossos empresários, da mesma forma como fizeram os mentores da S.O.S, não podem dar um apoio na formação destas crianças que precisam da sociedade que lhes gerou? “Recentemente estivemos em Vilankulo e abordámos algumas pessoas que se mostraram interessadas em ajudar. É necessário que mudemos de mentalidade. Acho que todos nós nos sentiríamos orgulhosos de ver estas crianças com uma formação sólida amanhã e prontas para trabalhar no desenvolvimento de Moçambique. São órfãos que precisam dos que têm para lhes dar rumo. É uma grande responsabilidade. Sem preço”.

É o futuro que se prepara, numa aldeia onde os meninos são também orientados para seguirem a igreja. “Nós não impomos a religião que as crianças devem seguir. Numa primeira fase é a “mãe” que as orienta. Vão à catequese, mas, quando atingirem a maioridade, terão a liberdade de escolher o caminho espiritual que bem entenderem”.

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