Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Criança ainda está longe das atenções da imprensa

Os assuntos sobre a criança ainda não estão no centro da cobertura da imprensa moçambicana, segundo constata um estudo sobre esta matéria lançado na terça-feira, em Maputo, pela Rede de Comunicadores Amigos da Criança. Designado “Uma análise da cobertura jornalística em 2008”, o relatório consistiu no levantamento e análise de textos publicados de Janeiro a Novembro de 2008 versando sobre questões da criança em sete jornais moçambicanos, incluindo dois diários.

A realização deste estudo contou com a parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do capítulo moçambicano do Instituto de Comunicação Social da Africa Austral (MISA). De acordo com o relatório, com excepção do jornal “Noticias”, que tem 64 por cento das notícias publicadas durante o período em análise abordando assuntos da criança, os outros seis jornais analisados (“O País” e o “Diário de Moçambique”, bem como os semanários “Domingo”, “Savana”, “Magazine Independente” e “Zambeze”) não incluíram os artigos sobre questões ligadas a criança nem em metade das suas edições.

Assim, do total 1.835 artigos relacionados com a criança identificados, 25 por cento foram publicados pelo jornal “Domingo”, seguindo o “Savana” com 23 por cento, “Zambeze” com 21 por cento e 20 por cento no “Magazine Independente”. No grupo dos jornais diários, o “Diário de Moçambique” vem depois do “Noticias”, com 31 por cento, seguindo depois o “O País” com apenas cinco por cento.

Antes da sua transformação como jornal diário, a cobertura deste tipo de assuntos pelo “O País” foi de 11 por cento. De ponto de vista temático, os artigos publicados durante este período abordam questões como educação, protecção, saúde, nutrição, entre outros. “A educação foi o tema mais abordado pela imprensa, com 699 artigos, seguindo a protecção (com 549), seguindo depois a saúde e nutrição”, realça o relatório, Falando na apresentação do relatório, Augusto de Sousa, do MISA-Moçambique, disse que, mesmo os assuntos publicados sobre a criança, na sua maioria, não apresentam com profundidade as preocupações deste grupo.

Ao invés, os jornais limitam-se em, por exemplo, reproduzir discursos sobre inauguração de escolas ou outro tipo de empreendimentos que se acredita venham a beneficiar a criança. Na componente ilustração das imagens, o estudo constatou haver fraca ilustração real das notícias, já que as fotos aparecem repetidas, em diversas edições, mas ilustrando diferentes notícias. Outro facto a lamentar nesta componente é a falta de protecção da integridade da criança que se manifesta pela publicação, na plenitude, das crianças eventualmente vítimas de rapto, violência ou qualquer acto criminal.

A anteceder a cerimónia de lançamento deste relatório, o MISAMoçambique e o UNICEF apresentaram publicamente a Rede de Comunicadores Amigos da Criança, uma agremiação de profissionais da comunicação social envolvidos na promoção de actividades de advocacia e direitos da criança em Moçambique, que surge em resultado da parceria das duas organizações. Falando na ocasião, o Representante adjunto do UNICEF em Moçambique, Robert Jenkins, disse que com o estabelecimento da parceria com o MISA em 2007 esta agência das Nações Unidas pretendia contribuir para a melhoria quantitativa e qualitativa dos artigos e reportagens sobre a criança.

“É com muito prazer que constatamos que cerca de três centenas de profissionais de comunicação no país fazem parte desta rede”, disse Jenkins, acrescentando que desde o início desta parceria várias acções tem sido realizadas com destaque para a formação dos membros da rede na terça-feira lançada oficialmente.

Além destas acções, o UNICEF e o MISA criaram, ano passado, o Fundo de Apoio a Iniciativas Jornalísticas destinado a financiar a realização de reportagens sobre situação da criança nas zonas mais remotas do país. Em Moçambique, as crianças constituem cerca de 50 por cento da população (estimada em cerca de 20 milhões de habitantes) e fazem parte do grupo social mais vulnerável.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts

error: Content is protected !!