As condições climáticas adversas que se registam, quer no interior como na costa da província de Inhambane, sul de Moçambique, têm resultado na variação dos sistemas de produção agrícola, traduzindo-se, por sua vez, em maior ou menor disponibilidade alimentar de região para região.
Esta constatação foi veiculada semana finda por Pedro Zucula, director provincial da Agricultura de Inhambane. Segundo ele, as regiões do interior da província têm sido caracterizadas por secas cíclicas, enquanto a zona costeira regista cheias e inundações com alguma frequência.
Consta que na zona do litoral se regista precipitação na ordem dos 1000 a 1200 milímetros, enquanto no interior regista-se entre 600 e 800 milímetros.
“Foi em função desta realidade e necessidade de manter ou melhorar a produtividade que decidimos quais as culturas a aplicar numa determinada região agroecológica”, disse Zucula.
A juntar-se a esta selecção de culturas e regiões em função do clima, também a irrigação foi potenciada através da aposta na rega e drenagem de águas para as regiões mais secas visando garantir uma produção contínua.
“Com mais água, as zonas do interior têm maiores possibilidades de produzir milho, cereais, hortícolas e outros produtos que muito ajudam a conter a insegurança alimentar”, referiu Zucula.
Para além da produção agrícola, também se apostou no fomento pecuário nas áreas agrícolas, como forma de garantir a tracção animal e reduzir o dispêndio de força física dos agricultores. Em paralelo, a mecanização agrícola está a ser expandida.
Outras acções inovadoras no âmbito da produtividade a que Zucula se referiu, incluem o uso de painéis solares para com a energia obtida alimentar uma electrobomba para puxar água do lençol freático, um método considerado efectivo e menos oneroso.
“Este é um sistema de rega de pequena escala que é o mais adequado neste momento porque gasta menos recursos e supera as represas cujas águas evaporam ou infiltram-se no solo”, explicou Zucula. Este método de rega já esta a ser aplicado em algumas zonas da província de Inhambane e paulatinamente vai sendo alargado para outros pontos que não possuem rios mas beneficiam de água das lagoas, como é o caso do distrito de Funhalouro.
Para provar a funcionalidade deste método de rega, Zucula exemplificou que num espaço de 5 a 10 hectares de terra, explorado por pequenas associações agrícolas familiares, pode-se obter cerca de 20 toneladas de diversas culturas irrigáveis.
Diante destas condições, Zucula garantiu que a disponibilidade alimentar na província de Inhambane não é problema neste momento, mas nem tudo está bem. “Em termos de segurança alimentar, não temos problemas de disponibilidade, mas confrontamo-nos com problemas de acesso aos alimentos. Temos zonas com muita abundância e zonas de muita carência.
Transportar os alimentos de uma zona para outra não tem sido fácil e nós estamos à procura de uma solução multissectorial para o problema”, explicou. Uma das saídas encontradas é a potenciação, localmente, da agricultura de subsistência que é essencial para as zonas de muita vulnerabilidade, bem como o apoio aos médios e fomento aos grandes produtores alimentares.
No contexto do Plano Nacional de Produção de Alimentos 2008-2011, no âmbito da Revolução Verde, o director da agricultura garantiu que a província recebeu indicações a nível central para potenciar mais as culturas da mandioca, que é produzida no sector familiar e em maior escala, bem como para introduzir a agricultura comercial.
No início da campanha agrícola 2008/ 2009, foram organizadas feiras agrícolas, em que 400 mil meticais foram disponibilizados para a compra de insumos agrícolas diverso,s tendo beneficiado cerca de 6 mil famílias. O trabalho de controlo do processo foi feito pelos líderes comunitários locais e técnicos agrários para verificar que grupos de agricultores deviam ser priorizados em caso de esgotamento de insumos.
No rol das culturas a que se deu maior atenção no âmbito do Plano de Produção de Alimentos, constam, para além da mandioca, o arroz, a batata-doce de polpa alaranjada, batata-reno, o amendoim e o milho.
No que toca à mandioca, por exemplo, há este ano o plano de colher 20 toneladas por hectare de uma área de perto de 400 mil hectares. Também, projecta-se para culturas diversas uma produção confortável em cerca de 1200 mil hectares de terra.
O director provincial da agricultura considera este prognóstico um bom indicador pois, para além do consumo directo da mandioca, pensa-se em direccionar esta cultura em grande escala para o agro-processamento e também para a produção de biocombustiveis.