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Como é viver neste mundo?

Com as (poucas) fotografias que – a fim de ilustrar esta matéria – publicamos, nem tudo se percebe sobre como “Viver neste mundo”. Na mostra integral, sobre o referido mote, patente na Galeria do BCI – Espaço Joaquim Chissano, em Maputo, um conjunto de artistas africanos, cada um com o seu temperamento peculiar, agindo à sua maneira, não só interpreta a realidade social como também atrai a vista do apreciador, prendendo-a aos objectos. Apreciar a exposição é um exercício de cidadania…

O primeiro aspecto que se sabe sobre a mostra “Viver neste mundo” é que “é uma exposição de artes visuais de intercâmbio entre Moçambique, África do Sul e Zimbabwe. Tem como principal finalidade estimular a produção de obras relacionadas com o contexto local, explorando factos da actualidade que nos abrangem como, por exemplo, as questões sociais, políticas, ambientais e/ ou culturais.

Através do intercâmbio de experiências, inspirações e visões, este projecto propõe uma reflexão sobre a realidade actual entre três países vizinhos”. A par disso, o fotógrafo moçambicano Mário Macilau, o curador da mostra, explica que “o objectivo é partilhar o trabalho feito, de forma colectiva, pelos artistas africanos da região austral, ao mesmo tempo que se procura mostrar a realidade do mundo em que vivemos”.

Na Galeria do BCI – Espaço Joaquim Chissano, em Maputo, onde estão patentes as obras, pode-se apreciar criações – em várias disciplinas das artes visuais – de artistas moçambicanos como os fotógrafos Mário Macilau, Filipe Branquinho, Gisela Kwash e a multifacetada artista plástica Maimuna Adam. Da África do Sul, há obras de Sabelo Mlangene, Marcus Neustetter e Bongi Bengu, ao passo que o Zimbabwe é representado por Misheck Masamvu.

Proposta para reflexão

Na sua interpretação sobre o mote, Mário Macilau explica que “Viver neste mundo” significa enfrentar dificuldades em busca da felicidade. É uma mistura de contextos – a felicidade, o ódio, o amor, a tristeza – porque tudo acontece”.

É por essa razão que o fotógrafo compreende que “queremos criar uma ligação entre o artista e o apreciador de arte através dos objectos expostos rumo à reflexão em torno da nossa realidade. O grande objectivo é conectar o ser humano às obras para que ele possa pensar na sua condição, como Homem, a partir das produções que foram feitas com base nos signos presentes no seu dia-a-dia”.

Refira-se, então, que a mostra encerra hoje, sexta-feira, 15 de Março. Os participantes, na sua maioria, cuja discussão que desenvolvem se enquadra no âmbito do tema que se pretende promover, são fotógrafos. Por essa razão, a foto é abundante na exposição.

Uma história sobre Migração

Desta vez, no lugar de criações audiovisuais – como tem sido apanágio das suas obras – Maimuna Adam apresenta uma outra linha constituída por instalações e desenhos. No entanto, a ideia da migração e das relações entre diferentes culturais está, mais uma vez, presente.

Na verdade, está-se diante de um trabalho que foi feito em residência de criação, ocorrida na bienal de arte de São Tomé e Príncipe, em 2011. “A pesquisa que me levou à produção deste trabalho foi a preocupação de entender a ligação que existe entre Moçambique e aquele país”.

O que mais se sabe sobre esta experiência? “Descobri que cidadãos moçambicanos – na altura na condição de escravos – iam a São Tomé, nalgumas vezes contratados, noutras abandonando problemas no seu país. Eles trabalhavam nas roças e nas plantações”.

Mas um outro aspecto relevante é “que foi possível visualizar um movimento migratório de retorno à terra natal, Moçambique, sobretudo de um número grande de homens. O primeiro impacto desse processo é que eles, novamente, abandonavam as famílias que haviam constituído em São Tomé, reconstruindo outras no país de origem”. Maimuna Adam considera que “no mesmo processo, eu senti a ausência da acção da mulher”.

Há um interesse orientado para a compreensão das relações entre os povos. O mesmo justifica-se “pelo facto de este trabalho ser, em parte, autobiográfico.

Ele constitui o acervo do que descobri, algo que nos interessa como cidadãos moçambicanos. Sinto que aqui há narrativas que ainda não foram publicadas. Então, nós ganhamos muito quando conseguimos partilhar estas pequenas histórias dispersas”, refere.

Cruzar gerações

Na mostra, o fotógrafo moçambicano, Filipe Branquinho, participa com três retratos que, de alguma maneira, dão um traço sobre a cultura dos moçambicanos. Nas obras ele cruza pessoas de gerações diferentes que se encontram em igual número de lugares e em contextos que não são os mesmos.

“Um enfoque comum nos meus trabalho é que ainda que as pessoas fotografadas experimentem várias dificuldades, há sempre uma forma de demonstrar isso de uma maneira mais suave, como forma de mostrar que – ainda que seja assim – os moçambicanos são alegres”, comenta, mas o outro aspecto marcante é a cumplicidade que se vê, nas fotos, entre o objecto e o fotógrafo. Que explicação dar ao facto?

Branquinho considera que “é muito importante que sejamos honestos em tudo o que fazemos. Na fotografia, essa postura passa por saber relacionar-se com as pessoas, conversar com elas, e justificar a finalidade do seu trabalho”. Ou seja, “mais vale investir uns dez minutos familiarizando-se com as pessoas para obter a sua simpatia. Este processo permite um conhecimento mútuo entre o fotógrafo e o fotografado, colaborando para a obtenção de melhores resultados”.

Se para a organização da mostra, “as obras apresentadas visam contribuir para a colaboração e o intercâmbio entre os países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, promovendo novas leituras da cultura e da história”, para os artistas é importante que se esclareça que “além do dinheiro, precisamos de espaço para expor as nossas criações, incluindo gente para apreciar”.

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