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Comboio volta a apitar na linha de Sena

Comboio volta a apitar na linha de Sena

Paira uma luz no fundo do túnel nos distritos de Muanza, Cheringoma e Marromeu, na província central de Sofala. É que 25 anos depois da paralisação, devido à guerra dos 16 anos, o comboio já está a apitar, a título de ensaio, na Linha Férrea de Sena, que está a beneficiar de obras de reconstrução.

 

A Linha Férrea de Sena parte do Dondo, na província de Sofala, até a vila carbonífera de Moatize, em Tete, no Centro de Moçambique. A ferrovia tem um ramal para Marromeu, onde existe uma açucareira, e atravessa os distritos de Muanza, Cheringoma e Caia, em Sofala, e Mutarara, na província de Tete.

 

De referir que a reabilitação daquela ferrovia, com uma extensão de cerca de 670 quilómetros, terminará no próximo ano, estando as obras a cargo do consórcio indiano RICON, subcontratado pela Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira (CCFB). As mesmas foram financiadas pelo Banco Mundial num montante de 104,5 milhões de dólares, sendo os restantes cerca de 40 milhões de dólares do consórcio Caminhos de Ferro de Moçambique e Rites & Ircon.

As obras de reconstrução daquela ferrovia, que tiveram início no Dondo, distrito adjacente à cidade da Beira, já atingiram o ramal de Marromeu, que parte do posto administrativo de Inhamitanga, no distrito de Cheringoma.

O troço, já pronto, testemunhou o nosso Jornal, parte do Dondo, passando por Muanza e Cheringoma, até o distrito de Marromeu, onde começou há dias o ensaio de comboio, que numa primeira fase transportará o açúcar da Companhia de Sena, madeiras de Cheringoma e o calcário de Muanza.

O ensaio de comboio no ramal de Marromeu foi-nos confirmado pelo administrador deste distrito, Henriques Bongesse, sublinhando que o reaparecimento de uma locomotiva naquela região está a comover os próprios habitantes, que passaram 25 anos sem ver nenhum comboio a deslizar pelos carris.

“Não resta dúvidas que a circulação de comboios no nosso distrito impulsionará o desenvolvimento social, económico e cultural, porque como deve saber, o comboio sempre foi um meio de transporte barato. Sendo assim, vai permitir que toda gente possa circular, com a sua mercadoria, de um ponto para outro”, acrescentou o administrador de Marromeu, distrito que possui 119.718 habitantes, ansiosos por ver de novo o comboio a circular naquela ferrovia.

De acordo com Bongesse, a chegada do comboio é aguardada com enorme expectativa no distrito de Marromeu, apontando a grande indústria

– a açucareira de Marromeu

– como a grande beneficiária deste meio de transporte.

Recorde- se que o escoamento da sua mercadoria, desde a inauguração da fábrica, em 2001, tem sido efectuado por via fluvial para o Porto da Beira.

Este ano, a açucareira de Marromeu espera produzir 60 mil toneladas de açúcar. Trata-se de produto que passará desde já a ser escoado por via-férrea, quando os comboios comerciais começarem a circular, após os ensaios em curso.

Ricardo Guilande, administrador de Cheringoma, referiu que após a auscultação feita nos seus encontros, os habitantes de Cherimgoma afirmaram estar bastante satisfeitos com a reabilitação da Linha Férrea de Sena no troço que atravessa o distrito.

Na vila ferroviária de Inhaminga, sede de Cheringoma, e também na vila de Muanza, o comboio já começou a circular, transportando trabalhadores e materiais para as obras de reabilitação da ferrovia.

 

PRODUÇÃO DE MERCADORIAS

Numa das recentes visitas, o governador da província de Sofala, Alberto Vaquina, instou os habitantes de Marromeu, Cheringoma, Muanza e Dondo, no sentido de desde já começarem a produzir muito para ter mercadorias que transportarão para várias regiões.

“Produzam muito, porque o comboio vem aí dentro em breve, na sequência da conclusão da reabilitação da Linha Férrea de Sena, aqui no troço que atravessa estes distritos”, referiu Vaquina, o qual insistia na necessidade de cada cidadão pensar no que deve produzir para vender nas várias regiões, aumentando deste modo os seus rendimentos.

“Olhem para a linha férrea como uma forma de combater a pobreza, visto que quando começar a circular o comboio, que na verdade vai ser um meio importante para melhorar as nossas condições de vida, haverá facilidades no transporte de diversos bens e também pessoas. Por isso comecem desde já a produzir mercadorias que transportarão para diferentes regiões.

” Segundo Vaquina, o Governo investe neste tipo de infra-estruturas para combater a pobreza, cabendo aos cidadãos fazer a sua parte complementar, ou seja, deverão produzir bens para a sua alimentação e excedentes destinados à venda. “Quando implementa projectos deste tipo nos distritos, o Executivo pretende que as pessoas melhorem as suas condições de vida. Devemos produzir para o nosso auto-sustento e venda, não esquecendo de deixar uma parte para a reserva alimentar.”

 

HABITANTES ANSIOSOS

Os habitantes dos distritos de Muanza, Marromeu e Cheringoma, por onde passa a Linha Férrea de Sena, ora em reabilitação, apontam duas razões para a sua ansiedade em ver de novo os comboios a circular: matar saudades deste meio de transporte e a facilidade que o mesmo irá proporcionar às deslocações. Neste momento, o comboio já está a circular pela ferrovia, mas transportando apenas materiais para a construção da linha, como são os casos, entre outros, de carris e travessas.

“Já estamos a ouvir o apito do comboio, embora ainda não esteja a transportar pessoas e mercadorias. Para nós seria bom que se reiniciasse agora, porque temos saudades, pois esquecemo-nos deste meio de transporte há muito tempo”, refere a anciã Chanaze Simão.

Maria Joaquim, mulher adulta, manifestou igualmente grande interesse em voltar a fazer-se transportar de comboio. “É o meio de transporte do povo. Lembro-me dos tempos, que já lá vão, em que ninguém ficava nas paragens, por alegada falta de espaço nas carruagens e toda a gente carregava consigo as suas mercadorias”, anotou.

INHAMINTANGA

“Se tivéssemos rabos, vocês poderiam ver como estamos contentes pelo facto de esta linha já estar pronta até aqui, o que significa que o comboio pode circular. Estamos a pedir que o comboio comece agora a circular”, implorou Ema Chocolate, residente no posto administrativo de Inhamitanga, distrito de Cheringoma. Chocolate acrescentou que desde 1984 que os habitantes não voltaram a ver o comboio a circular. “As crianças que nasceram depois da paralisação da linha devido à guerra, nunca tinham visto nenhum comboio a circular. Assim passam a saber que existe outro tipo de transporte para além do automóvel!”

“Estamos bastante satisfeitos por vermos a linha já reabilitada até à nossa zona, por isso, queremos que o comboio circule, pelo menos neste troço, pois temos muita coisa para transportar”, assegurou, por seu lado, Quisino Banze. Banze revelou que produziu muita mandioca nos seus três hectares de terra. Espera vender o produto na cidade da Beira, o que lhe renderá muito, visto que na zona onde vive não há mercado e aos outros camponeses não consegue vender porque também produzem os mesmos bens.

“Estamos a sofrer com os “chapas-100”, porque estes não praticam tarifas fixas, estão sempre a aumentar alegando que as estradas não estão em boas condições, como se nós tivéssemos as obrigações do Estado. Mas com o comboio a circular, julgamos que estes problemas podem ser ultrapassados”, refere outro residente de nome Inês Luís Branco.

Remos Mucatare, administrador de Muanza, distrito com 25.229 habitantes, disse que os benefícios são enormes quando o comboio recomeçar a circular na ferrovia, pois permitirá a movimentação de pessoas e bens, visto que este meio de transporte é barato, comparativamente aos “chapas- 100”, apontando ainda a importância do escoamento da produção agrícola bem como o do calcário. “Isto irá permitir um grande desenvolvimento na sua maneira de perceber as coisas, vai permitir o desenvolvimento do distrito.

Principais fases dos trabalhos de reconstrução

• Desminagem do traçado da Linha-férrea, trabalho executado e financiado pela Empresa Portos e Caminhosde- Ferro de Moçambique, EP e com o apoio da RONCO.

• Trabalhos de limpeza, desmatação e desmontagem da antiga Linha-férrea.

• Remoção e limpeza balastro, preparação da plataforma da via, montagem da nova Linha-férrea. • Balastragem, soldadura, ataque mecanizado, libertação de tensões e regularização da banqueta.

• Reabilitação/Construção de Pontes e outras obras civis. 

Impacto do Projecto

• Desenvolvimento da região centro do país em geral e da região do Vale do Zambeze em particular;

• Impacto no crescimento económico e social do país; • Abertura para o investimento privado no Vale do Zambeze;

• Redução no custo de transporte nacional e internacional;

• Promoção de integração regional e melhoramento de prestação de serviços e sustentabilidade do sistema ferroviário da Beira;

• 2,600 trabalhadores estão a trabalhar directamente em varias frentes, providenciando os rendimentos obtidos às suas famílias. Varia entre 9 a 10% a mão-de-obra estrangeira no Projecto;

• 7,000 postos de trabalho indirectos para várias actividades como resultado dos rendimentos oriundos do Projecto;

• Vida social das comunidades ao longo da Linha de Sena começa a registar sinais positivos, pelo facto das populações passarem a dispor de maior poder de compra; • Novas áreas para a produção agrícola começam a emergir como resultado do Projecto, o que vai ajudar no combate a fome e pobreza no país;

• Parte das populações que outrora viviam em condições precárias junto ao traçado da via-férrea tem hoje novas habitações, visto que se beneficiaram do projecto de reassentamento levado a cabo pelo CFM;

• Em Outubro de 2004 foi inaugurada uma escola primária completa em Savane, construída com fundos próprios do CFM. Presentemente, decorrem obras de construção de uma escola primária no distrito de Caia. Centenas de crianças serão beneficiadas com este projecto.

 

 

 

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