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Cinco anos à procura de pão

Cinco anos à procura de pão

Quando o planeta ainda não tinha acordado para a crise económica Mundial, já Celso sabia o que é palmilhar a cidade de Maputo à procura de emprego para levar o pão à boca. Hoje, continua na mesma azáfama e de emprego… nem sombra.

Encontrámo-lo no cruzamento entre as Avenidas Guerra Popular e 25 de Setembro a manusear o seu telemóvel. Celso Titosse Muthembo, 30 anos, casado e pai de um filho, refere que começou a procurar emprego em 2004 “porque tinha família por sustentar”.

Mas, o estudante do 11º ano do curso nocturno da Escola Secundária Josina Machel viu as suas expectativas goradas. No entanto, teve de se virar: “aprendi a consertar calçado com ajuda de um conhecido”. Trabalho que lhe garante sustento até aos dias de hoje. “Não sabia que um dia teria tanta destreza para coser sapatos, só que quando não tinha nada a perder fiz o estágio e porque queria mesmo saber, em pouco tempo aprendi” refere.

Muthembo é igual a muitos jovens moçambicanos, já espalhou currículos por diversas empresas, certificados de participação em seminários e mini-cursos à espera que um dia o advento da sorte lhe bata a porta. Apesar de somar sucessivas negativas, umas atrás das outras, Muthembo não dá a batalha por perdida, pois dia-após-dia percorre imensas distâncias pela zona baixa da cidade de Maputo e na cidade da Matola à procura de uma vaga em qualquer actividade: “Hoje já não se escolhe emprego, qualquer coisa que der para fazer e através disso ganhar algum valor para sobreviver já é bom”, garante. Não ganha muito, nos melhores dias chega a fazer 150 meticais e nos piores não passa dos 20.

Considera-se um herói e explica porquê: “Na condição de desempregado consegui construir a minha casa com o dinheiro resultante do conserto e polimento de sapatos.” Contudo, Muthembo não se dá por satisfeito com estes ganhos já que assegura possuir “muita energia e capacidade para contribuir de outras maneiras no desenvolvimento do país através do trabalho”.

Hoje, a sua vida resume-se a um triângulo de actividades diárias: acordar, andar à procura de emprego, roubar algumas horas numa esquina da Avenida 25 de Setembro para polir e coser alguns sapatos e, no final do dia, ir à escola.

Quando questionado sobre o que pode fazer como alternativa à falta de trabalho, Muthembo respondeu que equaciona tratar da licença de polidor de sapatos para passar a desenvolver esta actividade de forma legal enquanto algo melhor não surgir: “Vou requerer a licença porque não há nenhum sucesso nos currículos que andei a distribuir”, lamenta.

Relativamente aos currículos o nosso interlocutor considera que: “muita gente sofre, porque o que notamos é que exigem currículos quando existem pessoas já escolhidas, outra problema é o oportunismo praticado por alguns funcionários das empresas anunciantes movidos por má-fé, que acabam fazendo cobranças aos concorrentes em troca de uma vaga o que, sem muita relutância, é aceite pelas pessoas por causa do sofrimento por que passam”.

Assim, a última esperança de Muthembo reside na escola, onde promete uma batalha dura e renhida para reverter esta situação: “Se não aparecer emprego continuo com os meus biscates de polir e concentro-me mais na escola, sei que tarde ou cedo vou triunfar”, vaticina.

A título de exemplo, já tentou a sorte em algumas sapatarias da capital e, muito recentemente, num dos grandes supermercados da capital, para não enumerar as várias empresas de construção espalhadas pela capital do país. Contudo, acorda todos os dias com a esperança renovada.

Com os parcos valores que ganha destes trabalhos consegue garantir alimentação e pequenas despesas básicas que lhe dão a força suficiente para continuar o trabalho.

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