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Cidadãos “ignoram” unidades sanitárias em Nampula

No posto administrativo de Anchilo, distrito de Rapale, em Nampula, muitas famílias priorizam a medicina tradicional para tratarem doenças não espirituais, nomeadamente malária, diarreia, cólera, entre outras. Quando a terapia dos curandeiros não resulta, os doentes são encaminhados, tardiamente, para as unidades sanitárias, complicando os trabalhos dos profissionais da Saúde.

Segundo a directora clínica do Centro de Saúde de Anchilo, Alice Mucamana, a maior parte dos doentes que perdem a vida no hospital não tem a ver com o facto de os profissionais da Saúde não prestarem assistência médica de forma mais adequada. Pelo contrário, o que acontece é que os parentes dos enfermos priorizam os tratamentos tradicionais e só depois de se aperceberem de que os medicamentos não estão a surtir os efeitos desejados, é que eles levam ao hospital.

Mucamana disse que os médicos tradicionais não curam doenças como a malária, diarreias, a cólera, tuberculose e o VIH/ SIDA. A nossa interlocutora disse que há necessidade de as pessoas mudarem de mentalidade, porque os únicos males que os praticantes da medicina tradicional conseguem tratar são as doenças da mente e da alma.

“Pedimos a colaboração dos curandeiros para sensibilizar os seus doentes que padecem de malária, cólera, tuberculose e outras doenças cuja cura ultrapassa as suas capacidades, a dirigirem-se aos hospitais para efeitos de diagnóstico e posterior tratamento”, apelou Mucamana.

A directora clínica daquela unidade sanitária disse que, nesses casos, os enfermeiros encaram um desafio muito difícil, o de salvar vidas. Muitas vezes, eles não conseguem curar os doentes com malária e cólera, porque estão intoxicados por medicamentos tradicionais, facto que impede que haja uma reacção positiva dos anti-maláricos.

Refira-se que os casos de pessoas padecendo de doenças como malária, cólera, entre outras enfermidades, não só se registam a nível do posto administrativo de Anchilo como também noutros distritos da província de Nampula. Na verdade, os cidadãos preferem a medicina tradicional e depois de esgotar as possibilidades de melhorar recorrem aos hospitais, complicando o trabalho dos profissionais da Saúde.

Menor à beira da morte

Eufrásia Faustino, de seis anos de idade, residente no bairro de Namazi, localidade de Namigonha, distrito de Rapale, quase perdeu a vida devido à insensibilidade dos progenitores. Hilário Tinta, de 29 anos de idade, pai da menor, deu a conhecer que a criança começou a apresentar, no dia 06 de Outubro, febres acompanhadas de vómitos, tendo-a na ocasião levado para um curandeiro, algures no seu bairro em detrimento da medicina moderna.

Contudo, volvidos cerca de 12 dias, a menina continuava doente e não registava melhorias, o que obrigou os pais a levarem-na ao Centro de Saúde de Anchilo. Para Mucamana, o estado clínico da pequena Eufrásia era muito grave na altura em que chegou ao hospital, devido ao consumo excessivo dos medicamentos tradicionais.

“O que acontece é que os curandeiros não possuem mecanismos fiáveis para administrar uma dosagem adequada dos remédios”, disse a médica. Por isso, quando a família chegou àquela unidade sanitária, os enfermeiros foram obrigados, antes de proceder a quaisquer diagnósticos, a avaliar o estado clínico e a verificar se a quantidade de medicamentos tradicionais ingeridos pela paciente não iriam provocar efeitos colaterais.

Neste contexto, foi realizada uma limpeza geral no estômago de Eufrásia para depois se proceder à administração de fármacos, o que permitiu salvar a vida da paciente. Porém, de acordo com a directora clínica do Centro de Saúde de Anchilo, há casos em que não é possível curar uma pessoa, porque chega no hospital em estado grave.

Mudança de mentalidade

Alice Mucamana considera que a mudança de mentalidade é uma questão que deve ser encarada com muita seriedade a nível das comunidades, pois vários cidadãos precisam de serem sensibilizados no sentido de abandonarem algumas culturas porque mesmo com os trabalhos realizados para inverter a situação, há pessoas que ainda acreditam na medicina tradicional para curar doenças de notificação obrigatória, nomeadamente malária, cólera, tuberculose, entre outras enfermidades.

Por exemplo, aquela responsável referiu que, enquanto a pequena Eufrásia estava a receber cuidados médicos no Centro de Saúde de Anchilo, os seus pais insistiam em administrar alguns medicamentos tradicionais.

A colaboração dos médicos tradicionais

Estima-se que em todo o território nacional cerca de 70 porcento das famílias moçambicanas recorrem à medicina tradicional para o tratamento de doenças do corpo, da mente e da alma alegadamente devido à fraca cobertura dos serviços de Saúde, sobretudo no meio rural.

Por isso, as autoridades do sector da Saúde apelam aos praticantes da medicina tradicional no sentido de colaborarem com o Governo, encaminhando os doentes que padecem de doenças como malária, cólera, tuberculose, VIH, entre outras, às unidades sanitárias, pois o tratamento das enfermidades ultrapassa as suas capacidades.

Nazira Abdula, vice-ministra da Saúde, afirmou que, devido ao reconhecimento da relevância da prestação dos seus serviços, o Governo decidiu institucionalizar a medicina tradicional como forma de complementar a medicina moderna, em particular nas comunidades, onde a rede de Saúde é ainda deficitária.

Portanto, ela realçou a necessidade de se trabalhar no sentido de se assegurar que os dois sectores (medicina tradicional e formal) possam melhorar o processo de prestação de cuidados primários às comunidades. O envolvimento dos curandeiros nas campanhas de sensibilização para o combate a diversas doenças é um exemplo das acções nesse sentido.

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