Enquanto o partido Frelimo acusa o partido Renamo de simular o ataque de sábado contra a comitiva do seu líder como pretexto para guerra, o antigo chefe de Estado moçambicano Joaquim Chissano mostrou-se disponível, nesta segunda-feira(14), para mediar um encontro entre o Presidente da República Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama, apelando aos dirigentes políticos para que aprendam a gerir conflitos.
Ressalvando que não tem mandato para negociar com Dhlakama, Chissano mostrou contudo que está pronto para contribuir para a realização um encontro entre o chefe de Estado e o líder do maior partido de oposição que considera importante para se ultrapassar a actual crise política em Moçambique.
Chissano e Dhlakama, que assinaram em 1992, em Roma, o Acordo Geral de Paz que pôs termo a 16 anos de guerra civil, estiveram juntos na cidade da Beira numa conferência alusiva aos vinte anos da Universidade Católica de Moçambique, à semelhança do que aconteceu na fundação da instituição.
“Eles (Nyusi e Dhlakama) devem encontrar-se para discutir aquelas coisas que parecem impossíveis, mesmo aquelas que parecem inconvenientes. Só se encontrando podem falar. E se não der na primeira, pode ser na segunda, até quantas vezes necessárias para se encontrar um senso e uma aproximação”, apelou Joaquim Chissano, que qualificou Afonso Dhlakama como “uma força viva necessária”.
O ex-Presidente moçambicano defendeu que, além das conversações entre as partes, “esse diálogo vá-se expandindo e abrangendo a todos, o povo”, acrescentando que a construção da democracia “não pode ser feita por uma entidade só” e pode levar décadas. “O governo tem de procurar um meio-termo, de encontrar soluções neste conflito de ideias com o partido Renamo”, observou o ex-estadista, alertando que os conflitos não devem provocar receios.
“Aprendi que não devemos ter medo de conflito, o que devemos ter é coragem de gerir, e gerir de uma maneira eficaz, transformar o conflito numa coisa boa e sempre assim”, assinalou.
Na presença de Afonso Dhlakama, Chissano defendeu que os conflitos são até benéficos, por serem um dínamo de desenvolvimento, mas considerou ser preciso geri-los com eficácia, com a fórmula “conflito-solução, conflito-solução”. “O mais importante numa democracia não é o multipartidarismo, é a criação da confiança que nos une para podermos falar, para podermos divergir, criarmos a contradição e resolvermos a contradição, para outra contradição surgir com nova qualidade”, disse Joaquim Chissano, que pediu aos políticos para se despirem de receios e medos.
Chissano considerou que o país está a perder os seus princípios democráticos e reconheceu que um país se constrói com alguns erros, deplorando soluções armadas e adiantando que a atual situação de instabilidade política não provém de falhas do Acordo Geral de Paz. “As conversações de Roma tinham como lema valorizar aquilo que nos une e minimizar aquilo que nos divide. Portanto, há de haver sempre uma coisa e outra coisa, que tende para a nossa unidade. Há apreciações que só mais tarde podemos descobrir que afinal não havia problemas, parecia haver problema, mas não há” sustentou.
Avisou, contudo, que a democracia em Moçambique não é um “fato pronto-a-vestir”, admitindo que registou desenvolvimentos mas também a necessidade de enraizar os instrumentos para sua aplicação.
Na conferência, a governadora de Sofala, violando o protocolo, foi pedir a Afonso Dhlakama, com um aperto de mão largamente aplaudido, o encontro com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, Em resposta Afonso Dhlakama, garantiu que quer negociações concretas. “Já apertei as minhas mãos a (Joaquim) Chissano e a (Armando) Guebuza e até ao (Filipe) Nyusi. Mas preciso de negociações claras e não farsas”.
Moçambique vive momentos de incerteza política, com o líder do partido Renamo a não reconhecer os resultados das últimas eleições gerais e a exigir a governação nas províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.