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Dhlakama diz que não é ameaça para o Estado de Direito, só para a Frelimo

O presidente do partido Renamo disse nesta segunda-feira(14) ter sido vítima de uma tentativa de atentado por polícias ao serviço da Frelimo, avisando que não representa uma ameaça para o Estado de Direito, só para o partido no poder em Moçambique. “Eu não represento uma ameaça para o Estado de Direito, mas represento uma ameaça para a Frelimo”, afirmou Afonso Dhlakama, um dos convidados para uma conferência, na cidade da Beira, alusiva aos vinte anos da Universidade Católica de Moçambique (UCM).

Atribuindo o ataque, ocorrido no sábado na província de Manica, a “agentes policiais com a farda de uma força de segurança do Estado” que não mencionou, o presidente do maior partido na oposição afirmou que a polícia em Moçambique ameaça em vez de proteger.

“Sabendo quem sou e o lugar que ocupo no sistema político moçambicano, seria suposto que essa protecção fosse reforçada, como acontece em qualquer regime democrático. Mas em Moçambique não é assim”, declarou.

Afonso Dhlakama sustentou que os homens que o atacaram no sábado “não são agentes de um Estado de Direito, são agentes da Frelimo, são agentes do Estado da Frelimo, o Estado de partido único que foi instalado pela Frelimo e é mantido por força da constante violação das regras mais elementares da vivência e convivência democrática”.

Dirigindo-se ao “irmão Joaquim Chissano”, (também presente no anfiteatro da Faculdade de Ciências de Saúde da UCM), o líder da Renamo recordou as negociações com o ex-Presidente moçambicano, “com o sonho de estar sólida e segura a ponte para a paz, depois de um período longo e difícil de diálogo”, e que culminaram nos acordos de Roma em 1992.

“Mas tantos anos depois, digo a todos: eis que ainda há dois dias, uma vez mais, me tentaram matar”, afirmou Dhlakama, acusando a Frelimo de violar os entendimentos de paz e negar “a alternância e a partilha de poder, que são os filhos naturais da democracia”.

O líder do maior partido de oposição insistiu na acusação de manipulação de resultados eleitorais, perante “a passividade frustrante dos observadores internacionais”, e de se manter no país um “Estado de partido único, sob a capa de um regime de multipartidarismo parlamentar”.

“Alguns entre nós não se mostram disponíveis para dar os passos necessários para a prática efetiva de políticas de paz, já que tal implicaria uma partilha democrática de poder”, salientou Dhlakama, reiterando que está disponível para o diálogo, desde que na obediência de uma agenda concreta. “Se haver espaço para negociações concretas, estou disponível. Mesmo amanhã, se me disserem para ir negociar a implementação dos acordos, estou disponível”, disse, respondendo a uma pergunta de um estudante.

Dhlakama disse estar igualmente disponível para corrigir eventuais incumprimentos do seu partido do Acordo Geral de Paz, mas insistindo na responsabilização da Frelimo em relação ao que falhou. “Se a Renamo não cumpriu, que o Governo indique e eu farei a minha parte. A Frelimo é que violou os acordos. Se estou a mentir, que Chissano desminta, ele está aqui me ouvindo na plateia”, desafiou o líder da oposição, convidando também o ex-chefe de Estado a confirmar as longas conversas que mantinham. “Eu colaborei muito para a reconciliação e paz, isso pode testemunhar o meu irmão mais velho Chissano. Eu ia a casa dele, que era próxima da minha e ficávamos a conversar das 09:00 até às 17:00 e conseguíamos o que conseguíamos”, descreveu o presidente da Renamo.

A conferência dos vinte anos da Universidade Católica de Moçambique aconteceu dois dias depois de um ataque a uma coluna em que seguia o presidente da Renamo, que saiu ileso. A polícia moçambicana negou o seu envolvimento na emboscada e o partido Frelimo acusou a Renamo de simular o ataque, presenciado por vários jornalistas.

Moçambique vive momentos de incerteza política, com o líder da Renamo a não reconhecer os resultados das últimas eleições gerais e a exigir a governação nas províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

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