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Toma que te dou: Chapa despedaça boi e mata inocentes

Quem me conta esta história é um amigo de circunstância com quem viajei de “chapa” na última segunda-feira. Íamos a Tofo, e na primeira curva apertada que encontrámos, depois do aeroporto, não capotámos porque o nosso ‘dia’ ainda não tinha chegado. Mas o sinal de mau agoiro já tinha sido dado com a pancadaria desencadeada entre dois “chapeiros”, e que deixou o nosso condutor com um “galo” na testa.

O desentendimento foi causado por uma opacidade qualquer e os dois acabaram enveredando por vias de facto. Ninguém tentou separá-los, nem a Polícia Camarária que se movimentava por ali. E no lugar de os companheiros de trabalho intervirem, para evitar o pior, formavam uma plateia que se deliciava com o espectáculo. Gratuito. E sem nexo. O que aconteceu foi que um deles foi, copiosamente, esmagado. Humilhado perante uma assistência cúmplice que não se moveu em socorro do mais fraco e, ironicamente, mais teimoso. Casmurro.

Todos diziam: “é com eles”. O mais hilariante é que enquanto os dois pelejavam, havia aqueles quem já ocupavam os seus lugares no “chapa” à espera do condutor envolvido no combate. Mesmo vencido e resignado, ainda teve capacidade para conduzir. Meteu a chave na ignição e accionou o motor que obedeceu prontamente. Abraçou o volante com os braços escoriados, ao mesmo tempo que pendia a cabeça abanando-a de lamentação e dor.

Levou a mão à zona da testa onde sobressia o “galo” enquanto, no interior, os passageiros se divertiam com a cena dizendo, em voz baixa, “bem feito”. Nas contas que o condutor fazia, com certeza que vencia a necessidade de trabalhar e levar pão para casa. Isto vai passar. “Quando sair daqui, ao fim da jornada, vou passar pelo banco de socorros, e em casa vou contar um ‘filme’ à minha mulher”. O carro arrancou lentamente. Em silêncio e, contrariamente ao que tem sido hábito, não parou em nenhum lugar nas paragens intermédias.

O condutor, jovem, balbuciava enquanto guiava o seu automóvel que, de repente, começou a andar a uma alta velocidade. Fizemos a primeira curva do aeroporto e o medo instalou-se no interior. O homem conduzia e balbuciava e ninguém percebia o que ele dizia. Pisa no acelerador, automático, e já não respeita os sinais de trânsito. Espreito, com medo, e reparo que o conta-quilómetros não funciona. Mas o que estava claro é que íamos a uma velocidade de morte.

Passámos a Escola SOS, assustando as crianças que fugiam para o mato com medo do “foguetão” que buzina sem parar. Descemos perigosamente para descrever uma curva perigosa como são todas as curvas existentes no troço Inhambane- Tofo. Começámos a gritar implorando que o jovem parasse com aquela loucura e ele não nos ligava, até que um cabrito aparece saltitando aos ziguezagues à nossa frente. O jovem tentou evitar o quadrúpede virando, ligeiramente, o volante para o lado esquerdo.

Saímos da estrada e continuámos a andar tendo como pista os arbustos que depois se encarregaram de paralisar a máquina assassina. Saímos todos, de forma precipitada, sem acreditar que estávamos vivos. Ninguém quis saber do condutor, que se manteve deitado ao volante, e, de regresso à estrada para encontrar outro meio de transporte, um dos passageiros dizia-me: “Já aconteceu uma história idêntica uma vez em Pemba, só que o animal que atravessou era um boi, e o motorista não conseguiu evitá-lo. Houve mortes, e eu fui um dos sobreviventes”.

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