Atingir os quartos-de-final, num grupo muito difícil, é o principal objectivo dos “Mambas” na terceira edição do Campeonato Africano de Futebol para jogadores que actuam internamente, o CHAN, prova que vai decorrer entre os dias 11 de Janeiro e 01 de Fevereiro na vizinha África do Sul. A materialização deste propósito representaria para a selecção nacional uma homenagem em grande à figura de Eusébio da Silva, uma lenda do futebol português.
O seleccionador nacional de Moçambique, João Chissano, já divulgou a lista dos 23 seleccionados para a fase final do CHAN. Integrados no grupo A, também conhecido como o de “morte” por agregar a selecção anfitriã da África do Sul, o Mali e a Nigéria, vistas como as mais fortes deste campeonato, os “Mambas” querem fazer história apurando-se para a fase seguinte não interessando, pois, a posição.
Numa entrevista concedida aos órgãos de comunicação social a 12 de Setembro de 2013, publicada também no jornal @Verdade daquela data, João Chissano revelou que “o nosso objectivo nesta prova é chegar aos quartos-de-final. Em coordenação com a federação trabalharemos nesse sentido”. E foi neste mesmo diapasão, ainda que com algumas variações, quatro meses depois e minutos antes de embarcar para a Cidade de Cabo, palco dos jogos de Moçambique, que o seleccionador nacional centrou o seu discurso. “Temos em nós que dignificar a nossa moçambicanidade, a nossa bandeira e o nosso hino é a principal meta desta equipa. Vamos procurar representar condignamente o nosso país e lutar para glorificar o nosso povo. Não queremos passar despercebidos neste CHAN”, disse.
Apesar de assumir que Moçambique é o mais fraco do grupo A, por isso não candidato assumido a transitar para a fase seguinte, Chissano disse ao @Verdade que “queremos aproveitar o facto de os nossos adversários não darem conta da nossa qualidade, apesar de estarmos nesta prova por mérito próprio. Vou com a convicção de que vamos surpreender os nossos rivais”. “A nossa selecção não é tão fraca como parece. Tem bons jogadores, um bom grupo de trabalho e um conjunto unido. Isto, de per si, constitui meio caminho andando rumo à concretização dos nossos objectivos”, fundamentou.
Ainda assim, o seleccionador nacional diz-se não satisfeito com a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) pelo facto de não lhe ter dado todas as condições que exigiu. “Estou insatisfeito. Tínhamos agendado um mínimo de seis jogos de preparação e de observação, mas de cariz oficial. Nessas partidas iríamos observar o nível de concentração e seriedade dos jogadores, o que é fundamental para a construção de um grupo mais coeso”, revelou João Chissano.
Ainda no capítulo do descontentamento, o capitão da equipa, Gabito, juntou-se ao seleccionador e vai ainda mais longe ao falar de uma fase de preparação turbulenta. “Não foi das melhores. Não era o que nós desejávamos e traçámos. Os treinadores estiveram limitados”, proferiu, sem detalhar as salientadas dificuldades encontradas.
“Estamos ansiosos, mas também motivados!”
O capitão da selecção nacional disse, por outro lado, que o conjunto está motivado. E mesmo assim, o central contratado pelo Ferroviário de Maputo ao Maxaquene não conseguiu esconder a ansiedade que afirmou afectar o balneário, justificando que esse sentimento é normal tratando-se de “uma equipa maioritariamente constituída por jogadores novos e que vai disputar pela primeira vez um Campeonato Africano de Futebol”.
“Nós estamos moralizados e, apesar de Cape Town ser longe, contamos com o infindável apoio do povo moçambicano”, garantiu o capitão da selecção nacional. Para Soares Victor, ou simplesmente Soarito, guarda-redes dos “Mambas”, o facto de Moçambique estar inserido no chamado grupo de “morte’’ até pode ser benéfico para os moçambicanos. “É uma grande oportunidade que temos para demonstrar o nosso valor. Só por saber que vamos defrontar a África do Sul, o Mali e a Nigéria, consideradas melhores selecções africanas e com campeonatos internos bastante competitivos, ficamos ainda mais motivados”, fundamentou.
Kito, comprado ao Maxaquene pela Liga Muçulmana, assegurou que a selecção nacional se preparou devidamente para ter uma boa prestação no CHAN. No balneário, segundo aquele médio ofensivo, “não se fala de outra coisa senão o apuramento aos quartos-de-final, mercê de boas exibições e resultados satisfatórios”. O mesmo depoimento foi prestado por Alvarito, trinco, que por sua vez acrescentou que “apesar de todas as equipas se terem preparado afincadamente para esta competição, nós não vamos abdicar de lutar pelo nosso objectivo. Moçambique deve ocupar um dos dois primeiros lugares do grupo”.
“Temos uma missão espinhosa até atingirmos os quartos-de-final. Vai ser muito difícil ultrapassar a África do Sul, o Mali e a Nigéria. Mas estamos confiantes numa boa campanha, até porque em futebol tudo pode acontecer”, complementou Lanito, avançado do Desportivo de Maputo.
Adeptos divididos quanto ao sucesso dos “Mambas”
Antonieta Trindade, doméstica de 44 anos e adepta assumida da selecção nacional, disse ao @Verdade que os “Mambas” são “entendidos” quando é para dar dissabores aos moçambicanos e aconselha a “não cedermos os nossos corações e sofrer com eles, sob pena de sermos decepcionados como sempre”. Apesar de ter feito este discurso “incendiário”, a nossa entrevistada reconheceu que “eles têm algum valor pelo simples facto de estarem no CHAN apesar de ser uma competição, como se diz por aí, de uma divisão inferior e pouco significativa”.
Fernando Machava, estivador no Porto de Maputo, de 27 anos, diferentemente de Antonieta, acredita que Moçambique é o conjunto mais ambicioso do grupo A. “A Nigéria e a África do Sul são adversários a ter em conta. Mas, pelo que vi dos nossos jogadores durante a eliminatória e até no próprio Moçambola, penso que somos os favoritos a vencer e a chegar aos quartos-de-final”, opinou. “Não tenho muito a dizer. Não acompanho muito o futebol moçambicano. Mas entendo que, se nós chegámos a esta competição é porque estamos em condições de fazer mais”, disse António Zita, cobrador da empresa de transporte público, também ouvido pelo @Verdade a respeito da selecção nacional.
“Há que ‘travar’ a nossa auto-estima. O grupo em que estamos inseridos é muito forte. É errado achar que vamos derrotar a África do Sul, um conjunto que, por estratégia, disputa todas as competições. Contra a Nigéria até podemos empatar, visto que internamente não tem muita qualidade em termos de futebol. Infelizmente, tenho de dizer, o Mali irá eliminar-nos”, prognosticou Constâncio Chongo de 32 anos e funcionário bancário, sustentando que desde que arrancou a fase de preparação, Moçambique não venceu nenhum jogo.
Os “Mambas” do CHAN 2014
Equipa técnica
Seleccionador Nacional: João Chissano
Seleccionador Nacional Adjunto: Hélder Muianga (Mano-Mano)
Treinador de Guarda-redes: Manuel Valoi
Delegado da Federação Moçambicana de Futebol: Valério Madeira
Director Técnico: Mussá Calú
Corpo médico: Raul Cuna e Alberto Solomone
Roupeiro: Mahumane Francisco Jogadores
Guarda-redes: Pinto, Victor e Soarito
Defesas: Chico I, Chico II, Miro, João Mazive, Dário Khan, Gabito, Muniz e Dito
Médios: Imo, Josimar, Diogo, Kito, Alvarito e Manuelito II
Avançados: Sonito, Nelito, Lanito, Belito, Maninho e Mário
Jogos dos “Mambas” na Cidade de Cabo
Sábado (11): África do Sul X Moçambique (18 horas)
Quarta-fª. (15) Nigéria X Moçambique (20 horas)
Domingo (19) Moçambique X Mali (19 horas)