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Cerca de 40% de moçambicanos adultos são hipertensos e poucos sabem disso

Em Moçambique, pelo menos 39% da população adulta sofre de hipertensão arterial, uma doença crónica e silenciosa (sem sintomas), mas mortífera. Destes enfermos, apenas 16% têm conhecimento do seu estado de saúde e os restantes permanecem no “escuro”. Nesta situação, o risco de contrair, a qualquer momento, um Acidente Vascular Cerebral (AVC), vulgo trombose, ou um ataque cardíaco é maior. O preconceito que as pessoas têm em relação a este mal e as dificuldades do Sistema Nacional de Saúde (SNS) em atacá-lo com determinação, da mesma forma que faz com as doenças transmissíveis como a malária, o HIV/SIDA e a tuberculose, concorrem para que o número de hipertensos aumente.

A hipertensão arterial ou pressão alta, ou ainda tensão alta, “é uma doença crónica em que o doente apresenta elevados níveis de pressão nas artérias, o que faz com que o coração exerça maior esforço do que o necessário para assegurar a circulação do sangue através dos vasos sanguíneos”.

Albertino Damasceno, médico cardiologista e presidente da Associação Moçambicana do Coração (AMOCOR), disse que a prevalência da tensão alta no país passou de 33%, em 2005, para 39% entre 2014/15. Tendo em conta o período em que o estudo foi realizado, a situação pode ser ainda mais preocupante.

Aliás, Albertino Damasceno, que falava terça-feira (09), em Maputo, por ocasião do Dia Mundial da Hipertensão Arterial, que se comemora a 17 de Maio em curso, classificou predomínio da enfermidade no país como “extremamente grave” e o principal factor de risco de vida. África é o continente com maior taxa no mundo.

Nos países desenvolvidos, a pressão alta está na origem de um maior número de consultas médicas, o que não ocorre em Moçambique, porque muita gente a ignora e não se faz à unidade sanitária para saber em que situação o coração funciona.

“A doença é menos conhecida, menos tratada e menos controlada”, prosseguiu o médico cardiologista, explicando que a uma mudança do padrão de vida nos países subdesenvolvidos levou ao aparecimento de doenças não transmissíveis.

De há anos a esta parte, as pessoas movimentaram-se do campo para as cidades, onde não gozam de um “ambiente tranquilo e não hostil”, não caminham com frequência, estão expostos ao stress, consomem alimentos com bastante sal e processados industrialmente, consomem mais bebidas alcoólicas e tabaco.

Estes e outros factores tornam os cidadãos hipertensos, mas se forem eliminados é possível ter uma vida saudável.

Esta doença “não dói” e quem for por ela acometido, se não efectuar a medição, só saberá que andou doente durante vários anos no dia em que ficar acamado por causa de um AVC ou ataque cardíaco, por exemplo.

Na pior das hipóteses, o paciente pode morrer e se sobreviver ficará com sequelas irreversíveis para o resto da sua vida. Em termos de idades, em Moçambique a tensão alta acontece 10 a 15 anos mais cedo comparativamente aos países desenvolvidos, incluindo nos jovens.

O grau de conhecimento das pessoas sobre esta enfermidade é ainda baixo. “Há muito preconceito” em torno dela. Algumas pessoas não fazem a medição porque alegam que não podem tomar comprimidos para o resto da vida.

“Não querem ficar dependentes de medicamentos. É incrível como as pessoas recusam tomar um só comprido por dia e diminuir o risco de morrer de trombose (…)”, disse Albertino Damasceno, para quem as tromboses são cada vez mais frequentes no país e as famílias têm, certamente, uma experiência dura disso, porque algumas têm um membro que sofre ou morreu devido a esta doença.

O cardiologista manifestou o desejo de um dia ver o SNS a lidar com a hipertensão arterial com mais afinco como ocorre com as doenças transmissíveis.

Num outro desenvolvimento, o médico cardiologista criticou o facto de as feiras de saúde terem lugar, sempre, no Circuito de Manutenção Física António Repinga. Segundo ele, nos últimos 10 anos tem havido inúmeras eventos desta natureza, mas 90% deles são feitos naquele local.

Todavia, a população não vive à volta desse lugar, mas sim, em bairros como Zimpeto e Magoanine. Por isso, este ano, a celebração do Dia Mundial da Hipertensão Arterial será nos locais de maior concentração de gente.

A data, disse Albertino, servirá para alertar a sociedade sobre a doença e criar condições para que um maior número de pessoas possa medir a sua tensão arterial e conhecer os riscos de ter níveis elevados.

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