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Cândida Mata resgata Capulana Dza Ku Xonga

Cândida Mata resgata Capulana Dza Ku Xonga

A directora artística da Companhia Nacional de Canto e Dança, Cândida Mata, que – além de ser coreógrafa – detém uma forte aliança com as artes e as actividades culturais, apresentou nos dias dois e três de Outubro a coreografia “Capulana Dza Ku Xonga”. A obra é uma homenagem a um dos signos que nos identifica como moçambicanos – a capulana.

Ao lançar o seu primeiro trabalho artístico no Cine África, Cândida Mata explicou que o tema da obra é proposto em virtude da relevância que a referida vestimenta possui na vivência dos moçambicanos. O seu interesse pela capulana nasceu desde tenra idade, quando a sua mãe dizia que toda a mulher – sempre que se desloca a algum lugar distante – tem de ter na sua bolsa uma capulana, a fim de usá-la sempre que necessário como, por exemplo, quando ocorrem acidentes de natureza diversa na via pública.

Logo, à partida, na coreografia exibem-se cenários de guerra, que geram contextos fúnebres e emocionantes a partir dos quais se explica a utilidade da capulana, sem excluir experiências memoráveis como, por exemplo, o nascimento de um ser humano, o seu desenvolvimento, as suas vivências também acompanhadas pela utilização da mesma peça de vestuário.

Segundo Cândida Mata, o projecto “Capulana Dza Ku Xonga” surge devido ao seu interesse de criar – nesse valioso signo cultural – uma plataforma na qual se discute o problema do género, essa ideia de que a capulana é uma peça de vestuário exclusiva da mulher, a fim de resgatar as cores vivas que descrevem a nossa essência africana, em ‘Mucume ne Vhemba’, acrescentando que a capulana é um adereço de todas as mulheres porque ela está sempre presente em todos os momentos das suas vidas.

Cândida Mata afirma que a capulana ocupa todas as ocasiões da vida de um povo, salientando o desejo de a explorar na produção artístico-cultural com enfoque para o bailado. A coreógrafa diz que a capulana nunca nos faltou sempre que dela precisássemos. Ela faz parte da nossa vida, acompanhando-nos desde o nascimento, o crescimento, a celebração da vida nos momentos festivos, na doença e até na morte. “A capulana é o nosso amparo e cobertor”.

Questionada sobre o espaço que a capulana ocupa nos tempos actuais, na sociedade moçambicana, Cândida Mata explica que se envergonha quando se realizam festividades, pois as pessoas explorem única e exclusivamente o traje formal. “Nós, as mulheres, sempre recorremos a uma minissaia costurada a partir de um pano lindo enquanto os homens não dispensam um casaco e um gravata bem apertada – que não se adequam muito ao ambiente”.

Mata acredita que o traje formal não implica, basicamente, a utilização de roupas formais e importadas, mas também e, acima de tudo, a valorização da moda moçambicana, mormente o estilo feminino usando-se as missangas e a capulanas. “É nesse sentido que escolhi esse tema, propondo um desafio à nossa sociedade com vista a encontrar meios que nos dignifiquem – no campo da vestimenta – consoante a nossa realidade como africanos e moçambicanos”.

Nesse sentido, de acordo com Cândida Mata, a coreografia “Capulana Dza Ku Xonga” busca resgatar – se possível for do baú de cada moçambicana – o que há de melhor em termos de capulana, utilizando-a como um vestuário de utilização quotidiana, como os zambezianos fazem.

Como tal, o seu grande desafio – e de todos moçambicanos – é o de fazer com que os estilistas nacionais não criem invenções cada vez mais descontextualizadas em relação à nossa realidade. Ou seja, devem aceitar o repto de explorar a beleza e a riqueza moçambicanas.

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