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Camponeses trocam comida por culturas de rendimento

Por causa da queda irregular da chuva, alguns camponeses da província de Maputo, Sul de Moçambique, estão a deixar de produzir comida, dedicando-se agora ao cultivo de cana-de-açúcar que é depois vendida a preços fixados pelo comprador.

Vários camponeses dos distritos de Manhiça e Magude vivem nessa situação, trabalhando num esquema de produção montado pela Açucareira de Xinavane, a quem eles vendem a sua cana-de-açúcar para o fabrico de açúcar, que por sinal é maioritariamente exportado para Europa.

Devido a queda irregular das chuvas e falta de meios de adaptação a esses fenómenos climatéricos, os camponeses desses distritos deixaram de produzir comida e estão a abraçar, em massa, as iniciativas de produção de cana-de-açúcar para a indústria.

As terras em que os camponeses praticavam agricultura de subsistência agora tornaramse em enormes campos de cana-de-açúcar. Alguns ainda possuem pequenas machambas onde produzem culturas alimentares, mas estas são totalmente dependentes da chuva.

Contrariamente as culturas alimentares, a cana-de-açúcar não é vulnerável a seca nem a pragas, porque a Açucareira possui sistemas de irrigação dos campos dos camponeses, além de fornecer assistência técnica e todos os insumos agrícolas necessários para a produção.

“O cultivo de cana-de-açúcar vale a pena”, disse Raúl Cossa, membro de uma associação de camponeses do posto administrativo “3 de Fevereiro”, acrescentando que “antes desenvolvíamos culturas alimentares nas nossas machambas, mas agora não há chuva”.

Cossa dedica-se a esta actividade desde 2010. Ano passado, ele plantou canade- açúcar em oito hectares, área que este ano reduziu para 2,5 hectares. Ele conta que a venda da sua produção no ano passado resultou em 37,5 mil meticais, na altura equivalente a pouco mais de mil dólares.

Refira-se que este é o rendimento deste camponês em todo o ano já que o ciclo da cana-de-açúcar é de 12 a 13 meses, no primeiro ano, reduzindo depois para oito a nove meses, nos anos subsequentes.

Como Cossa, há vários outros camponeses na Manhiça e Magude que deixaram de produzir comida e comprometeram as suas terras para produção de cana-deaçúcar cujo preço nem sequer conhecem.

Dados da Açucareira de Xinavane indicam que as 13 associações de camponeses que operam nesse esquema, algumas das quais movimentando centenas de membros, controlam 2.084 hectares, donde produzem entre 15 e 20 por cento do total da cana-de-açúcar processada pela fábrica.

Todos saímos a ganhar

Entretanto, a Açucareira de Xinavane considera que há ganhos mútuos resultantes desta parceria entre a companhia e os camponeses.

“Nós ganhamos porque temos matéria- prima… e eles melhoram as suas condições de vida, construindo casas e adquirindo diversos bens”, explicou Jeremias Mudumane, gestor de pequenos produtores na Açucareira de Xinavane. Por outro lado, com o aumento da sua renda, as famílias conseguem custear as despesas de formação dos seus filhos.

Mudumane explicou que o preço de compra de cana-de-açúcar varia. Por exemplo, ano passado, a açucareira comprava uma tonelada de cana por sete dólares americanos, mas não há garantia de que esse será o preço a ser praticado este ano.

“Antes de estabelecer o preço de compra temos que saber o preço da venda do açúcar no mercado internacional”, disse ele, acrescentando que “é uma questão de lógica, não vamos comprar cana sem antes consultar por quanto vamos vender o produto final”.

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